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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
Recentes sondagens arqueológicas permitiram recolha de materiais e ossos que vão agora ser estudados pela Universidade de Coimbra e permitirão desvendar mistérios da pré-historia no Algarve.
Foi construído por povos pré-históricos, há cerca de 4500 anos, mas a verdade é que já revela sinais de cuidados estéticos e até dá indícios da presença de alguma estratificação social.
Se os factos descritos por si só já são importantes para um livro, maior é o significado quando um túmulo megalítico com estas características está localizado em solo algarvio e se encontra em bom estado de conservação.
Descoberto há sete anos por uma equipa de arqueólogos, a dois passos da aldeia de Santa Rita (Vila Real de Santo António), o achado já foi alvo de duas campanhas de escavação, a última das quais terminou na semana passada e trouxe uma série de novos dados.
Depois de um primeiro trabalho de limpeza, entre Junho e Setembro de 2007, as sondagens iniciadas em Julho deste ano permitiram uma intervenção no interior da antiga sepultura, o que possibilitou a recolha de inúmeras ossadas.
Em declarações ao «barlavento», o responsável pela intervenção arqueológica Nuno Inácio explicou que os restos mortais vão agora ser investigados pelo departamento de antropologia da Universidade de Coimbra, prevendo-se que o seu estudo se prolongue durante um ano e meio.
Segundo Inácio, este trabalho vai permitir encontrar respostas para dúvidas que ainda subsistem, como seja a determinação do sexo dos cadáveres ou mesmo o tipo de doença com que terão padecido.
Enquanto a investigação laboratorial não começa, há pormenores que já puderam ser observados durante a fase de escavações e que dizem sobretudo respeito a ritos funerários e à forma como os restos mortais se encontravam dispostos na câmara interior do túmulo.
Sim, restos. É que, segundo Nuno Inácio, o antigo túmulo não se destinava ao enterro directo dos mortos, estimando-se que funcionasse mais como um ossário.
«Pensa-se que as pessoas eram primeiro enterradas ao ar livre e apenas quando os ossos secavam é que eram transferidos para parte mais ampla da câmara», explicou o também investigador da Universidade de Huelva, durante uma visita pública ao local das escavações, na passada semana.
No entanto, nem todos os habitantes da comunidade teriam acesso ao túmulo, uma vez que o número de ossadas encontrado foi reduzido, o que poderia indiciar algum tipo de estratificação social.
Uma particularidade que vem levantar novas questões, visto que este foi um monumento cuja construção exigiu o esforço de uma comunidade inteira, tendo sido realizado sem recurso a grande tecnologia.
«Trata-se de uma estrutura escavada praticamente à força de pedra, já que estas eram populações que não conheciam o ferro e possuíam conhecimentos muito superficiais sobre metais como o cobre», avançou Nuno Inácio.
Outra das curiosidades do achado histórico reside no facto de os materiais utilizados – arenitos, xistos e calcários – possuírem contrastes entre si, o que desde logo pode dar indícios de alguns cuidados estéticos.
Uma particularidade também visível junto de alguns dos ossos encontrados, que se faziam acompanhar por objectos do quotidiano.
«Eram populações que acreditavam na vida depois da morte e, por isso, eram colocados juntos aos ossos objectos como contas de colares, vasos de cerâmica ou mesmo lâminas de sílex», remata o responsável pela intervenção.
Fonte: Filipe Antunes: (5 Out 2008). O Barlavento, on line: http://www.barlavento.online.pt/index.ph
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