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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
Poucos são os locais em que a História, tem o rosto do povo. O Alto da Vigia, na Praia das Maçãs, é um desses casos raros. Neste local podemos “viajar” de uma forma sedutora, ao encontro do que foram as populações antanhas de Sintra, em sentido lato, e de Colares, em particular.
Na Rádio e no Jornal OCIDENTE sempre tivemos grande paixão pelo lugar. Amor antigo, nutrido pelo fascínio da beleza, ostentativa, do recorte da costa oceânica sintrense. A realidade é que, a percepção do finis terrae, a Ocidente, propicia viagens ao profundo do imaginário colectivo das populações, antigas e actuais, da simpática Freguesia de Colares, que já foi concelho Senhorial.
O local é referenciado desde há muito. Alcançamos as primeiras notícias com Valentim Fernandes, conhecido como o Morávio, corria o Ano da Graça de 1505; um pouco mais tarde em 1541, outro grande vulto da cultura portuguesa, Francisco d’Olanda, deixa um registo em desenho desse mesmo local; na esteira de Francisco d’Olanda, André de Resende, em 1593, referencia e estuda inscrições latinas provenientes do local.
A atenção destes três grandes vultos da cultura, estava centrada na presença de um templo romano consagrado a Soli et Lunae. Templo grandioso, sempre referido nostalgicamente, mas com origem e sustentação nos altos dignatários locais, representantes de Roma, e dos senhores da terra e dos povos. Era, assim, um santuário oficial dos poderosos.
A Arqueologia, outra das nossas paixões, acabaria por revelar outra História para o mesmo local; sobreposto ao templo romano, no Tempo e no Modo, um Ribat, pequeno cenóbio islâmico - marca um espaço de reflexão contemplativa, de vida frugal e ascética. Foi construído com materiais provenientes dos despojos do antigo templo romano. A simples descoberta deste Ribat, dá-nos a dimensão de outros homens, de uma outra cultura, que também é a nossa e nos transporta ao tempo do grande Mestre Sufista Ibn QasÎ.
A verdade do ponto de vista antropológico, tanto cultural como físico, é que um dos “elos” principais da génese saloia foram os escravos mouros, ou os mouros forros (livres), isentos da jurisdição do município de Lisboa por carta fidelitatis et firmitudinis, do nosso primeiro Rei, mas servidores, protegidos e tributários da Coroa, confinados aos reguengos, sujeitos ao alcaide dos mouros ou alcaide do arrabalde, ou dependentes de instituições eclesiásticas.
Laços de sangue, laços culturais, que explicam não só a presença do Ribat, como das lendas de mouras e mouros que povoam o nosso imaginário colectivo. E, que dizer da Lenda da Nossa Senhora de Melides: ”… ide que mil ides”! Milagre que possibilitou que vinte Cavaleiros Cristãos levassem de vencida uma multidão de mouros. Seguramente a mesma população moura que, mais tarde, trabalhavam nas vinhas do Rei, no Reguengo de Colares.
Desta simbiose histórica, quase milenar, nos fala o Folclore, a Toponímia e também a Arqueologia. Contudo o Alto da Vigia, não impressiona só pela paisagem soberba do mar oceânico. Impressiona, sobretudo, pela persistência milenar da presença Humana. Sempre em torno de algo que é “sagrado”, seja no espaço físico, na vista deslumbrante ou na mera função de segurança.
Fonte: Rui Oliveira (4 Jul 2012). Rádio Ocidente: http://www.radioocidente.pt/noticia.asp?i
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