"Uma das novidades deste ano é o facto de se ter feito uma prospecção geofísica, que não é muito comum em Portugal, que permite fazer uma leitura ou uma 'radiografia' daquilo que está enterrado", disse hoje à agência Lusa um responsável da ERA Arqueologia.
Miguel Lago, arqueólogo e administrador da empresa que procede a escavações e campanhas arqueológicas no Complexo dos Perdigões desde 1997, explicou que, através da prospecção geofísica, conseguem-se detectar "quais os tipos de estruturas arqueológicas" que se encontram no subsolo.
"Mediante a aplicação de várias técnicas que vêm da área da física, conseguimos fazer uma leitura do que está enterrado e ficamos a saber onde estão, por exemplo, fossos, muros ou cabanas", disse.
A prospecção geofísica, fruto de uma parceria entre a ERA Arqueologia e a Universidade de Málaga (Espanha), que este ano também começou a escavar aquele sítio arqueológico, decorreu em Julho e continuará em Setembro.
O trabalho foi desenvolvido pelo alemão Helmut Becker, "um dos maiores especialistas nesta área", e os resultados preliminares da prospecção vão ser divulgados terça-feira na Herdade do Esporão, num encontro com jornalistas.
"Este especialista considera que este é um dos sítios onde obteve melhores resultados", afiançou Miguel Lago, garantindo que a técnica possibilita uma "radiografia" apurada do complexo, que ocupa 16 hectares, dois terços na Herdade do Esporão e o restante em quatro herdades vizinhas.
"Há uma fotografia aérea dos Perdigões, já famosa, mas agora temos uma imagem muito clara da planta do complexo e esta informação trazida pela geofísica permite afinar os dados, apurar a complexidade do sítio e gerir quais as áreas mais relevantes a escavar e a investigar", acrescentou.
A campanha arqueológica deste ano nos Perdigões começou em Julho e termina no final desta semana, tendo a ERA Arqueologia começado a escavar a zona central do complexo, enquanto a Universidade de Málaga se centrou numa outra área, onde a empresa portuguesa iniciou, em 1997, as escavações.
"No centro do complexo, numa zona bastante restrita, há vários elementos que apontam para a existência de uma sequência arqueológica que abrange uns mil anos, desde o Neolítico Final até ao Calcolítico Final", revelou.
Nesse local, os arqueólogos encontraram objectos de cerâmica, restos de minérios e de ossos de animais e várias estruturas, como fossos, muros, eventuais bases de cabanas e valas de assentamento de paliçadas, assim como o que se pensa serem dois fornos.
O complexo arqueológico dos Perdigões, um conjunto pré-histórico fundado há mais de cinco mil anos, tem em curso o processo de classificação como Monumento Nacional.