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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
Longa fila e grande entusiasmo à entrada, mas um ar de desilusão à
saída pelo pouco que há para ver
Numa iniciativa associada às comemorações das Jornadas Europeias do
Património, a Câmara Municipal de Lisboa reabriu ontem as galerias
romanas da Rua da Prata. Com acesso gratuito, até ao meio da tarde
cerca de 800 visitantes já por ali tinham passado. Porém, à saída,
muitos confessavam-se desiludidos.
Clara Antunes disse que foi atraída ao local pelas "notícias que foi
vendo", mas, ao regressar das entranhas da Baixa lisboeta, a jovem
revelou que "esperava mais, pois tinha expectativas muito elevadas".
Clara queixava-se, sobretudo, "do pouco que havia para ver" e do facto
de no interior "haver muita água, o que tornou a visita
desconfortável".
Muitos outros visitantes, jovens e adultos, acrescentavam outras
queixas. João Martins lamentava o "intenso cheiro no interior",
enquanto Ana Paula Ventura, comerciante na Rua dos Correeiros, que fez
a visita pela manhã, disse "não valer a pena o tempo de espera", para
depois "ver nada".
A fila para a entrada, cujo acesso se faz pela Rua da Conceição,
estendia-se até à Rua dos Correeiros. Mas em outras ocasiões já foi
bem pior. Conta uma das responsáveis pela visita, Isabel Cameira,
arqueóloga do Museu da Cidade, que no ano passado, "durante o
fim-de-semana, a fila chegou a ter cinco horas de espera", e houve
quem para ali se deslocasse às cinco da manhã para serem os primeiros
a entrar". Muitos turistas também são atraídos à visita simplesmente
pela confusão que observam naquele local.
Em grupos de pouco mais de 20 pessoas, os visitantes descem à história
de Lisboa de forma calma. Começam por ver pequenos espaços dispostos
lateralmente utilizados na época romana como compartimento, passam por
arcos em cuidada cantaria de pedra almofadada e abóbadas, onde são
visíveis as marcas das tábuas de madeira que serviram para a sua
construção. O ponto alto da visita é a "Galeria das Nascen-
tes", também chamada "Olhos de Água", que ostenta a fractura a partir
da qual brota a água que invade o recinto.
No interior, uma guia do Museu da Cidade descreve durante pouco mais
de dez minutos a história do local, "construído pelos romanos na
primeira metade do século I a.C., e redescoberto em 1771 durante a
reconstrução da cidade de Lisboa na sequência do terramoto de 1755".
A funcionalidade da obra durante a época romana esteve ligada às
"actividades portuárias e comerciais", explica a guia, acrescentando
que "propostas mais recentes indicam tratar-se de um criptopórtico",
construção empregue "em terrenos instáveis ou de topografia irregular
para criar uma plataforma de suporte a outras edificações.
O monumento abre durante os três dias pela primeira e única vez este
ano devido às condições de acessibilidade do local e às "fissuras
existentes nas quais não se pode prever o impacto de visitas
constantes", explicou a arqueóloga.
Fonte: Ana Nunes (27 Set 2008). Público
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