Quinta-feira, 13.06.13
O arqueólogo José Bettencourt, do Centro de História Além-Mar, destacou hoje o potencial científico dos Açores, salientando que estão registados em fontes escritas entre 600 a 700 naufrágios, entre os séculos XVI e XX.
"Estamos a falar de um potencial enormíssimo para a investigação, para a valorização turística e cultural da região, até para a afirmação da nossa identidade enquanto região, com o seu próprio percurso histórico dentro do Atlântico", frisou.
José Bettencourt é um dos responsáveis pela exposição "Histórias que vêm do Mar", que o Museu de Angra do Heroísmo inaugura hoje, numa parceria com o Museu da Horta, o Observatório do Mar dos Açores e o Centro de História de Além-Mar.
Segundo o arqueólogo, os Açores "têm um potencial científico muito elevado e têm já uma história de investigação, que é referência a nível nacional", sendo que o arquipélago tem cerca de 30 sítios identificados com a designação de património cultural subaquático, de acordo com os parâmetros da Unesco.
A exposição, que o Museu de Angra do Heroísmo inaugura agora, nasceu na ilha do Faial, em resultado da descoberta de vestígios de um naufrágio na Baía da Horta, aquando de um estudo de impacte ambiental, no âmbito da requalificação da frente marítima da cidade.
"Havia uma grande curiosidade, porque toda a gente falava das presas de marfim, dos dentes de elefante e toda a gente ia para ali ver o que se estava a passar", salientou Carla Dâmaso, do Observatório do Mar dos Açores.
Segundo José Bettencourt, os dentes de elefante encontrados suscitaram dúvidas, tendo em conta que não havia qualquer registo de vestígios arqueológicos naquela zona.
"Confirmou-se que era um naufrágio e outras evidências que apareceram, outros materiais arqueológicos, permitiram perceber que era um naufrágio provavelmente de inícios do século XVIII de um navio inglês, que estaria a fazer escala na Horta", frisou.
Para o arqueólogo, este achado é "a evidência mais antiga da importância estratégica que a Horta passou a ter nessa altura e que mantém até hoje na navegação do Atlântico".
Na exposição, vão estar patentes, para além dos dentes de elefante, pratos de estanho, cachimbos, botões de punho e um tinteiro recolhidos na Baía da Horta, que integravam a primeira versão da mostra, mas juntam-se também peças do espólio do Museu de Angra do Heroísmo, que, segundo o seu diretor, Jorge Paulus Bruno, é "vastíssimo".
"O Museu de Angra acompanhou as primeiras intervenções arqueológicas subaquáticas nos Açores, nos anos 70, na ilha Terceira", frisou, acrescentando que o espólio sobre esta temática é composto por "milhares de peças".
Jorge Paulus Bruno destacou nesta exposição uma âncora com três metros, exposta pela primeira vez, levantada na Baía das Mós pelos norte-americanos destacados na Base das Lajes, que pertenceu a um "navio almirantado espanhol, da conquista da ilha Terceira pelos espanhóis".
Outro objeto realçado é um balde de madeira de inícios do século XVII, "em excelente estado de conservação" que, segundo José Bettencourt, "mesmo a nível nacional é uma peça excecional".
Fonte: (08 Jun 2013). Lusa/Açoriano Oriental: http://www.acorianooriental.pt/noticia/mais-de-600-naufragios-dao-potencial-arqueologico-enormissimo-aos-acores
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por noticiasdearqueologia às 21:58
Segunda-feira, 20.05.13
Os governos de Portugal e da Namíbia assinaram, esta quarta-feira, um memorando de entendimento para a conservação e gestão do património cultural do navio português do século XVI naufragado ao largo de Oranjemund.
O protocolo foi assinado pelo secretário de Estado da Cultura de Portugal, Jorge Barreto Xavier, e a ministra da Juventude da Namíbia, Juliet Kavetuna, e estabelece a relevância do sítio arqueológico, os objetos materiais e o «conhecimento local».
O documento prevê, assim, a «investigação, documentação e publicação de informação, [a] partilha de informação, formação e educação, bem como a organização de exposições e de outras formas de promoção e valorização».
O memorando estabelece, ainda, a possibilidade de «acordos adequados com potenciais doadores» para a conservação do navio naufragado, bem como a «formação de três namibianos em Portugal, em áreas acordadas» pelas partes e a «criação e gestão de um museu para o navio naufragado».
O navio português foi descoberto em abril de 2008, ao largo da Namíbia, por geólogos que procuravam diamantes, e ter-se-á afundado quando regressava a Portugal.
As investigações permitiram encontrar moedas de ouro e prata, colocadas à guarda do Banco da Namíbia, peças de canhão, presas de marfim, ouro, prata, cobre e estanho, bolas de chumbo da marca da Coroa Portuguesa fugger e um terço.
A embarcação tinha 300 toneladas e, segundo o arqueólogo Bruno Werz, teria três mastros e cerca de 30 metros de comprimento. O naufrágio terá ocorrido após a colisão com uma rocha.
Segundo o relatório de duas missões arqueológicas portuguesas, assinado por Francisco Alves, do então Instituto de Gestão do Património Arqueológico e Arquitetónico (IGESPAR), entre os achados estaria uma moeda de dez cruzados, «de ouro, de inexcedível pureza, prestígio e raridade».
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por noticiasdearqueologia às 22:54
Sábado, 12.12.09
O navio naufragado na Ria de Aveiro, encontrado a semana passada por dois mergulhadores num local onde hoje se designa por Canal do Rio Bôco, na Gafanha da Nazaré, junto às pontes da Friopesca e da A25, será um galeão do século XVI com dimensões para navegar no alto mar. A sua carga encontra-se, provavelmente, escondida no leito lodoso, onde parte da embarcação se enterrou, em data desconhecida.
Este é um dos cenários prováveis do navio naufragado na Ria, feita pela observação do mergulhador Paulo Correia, autor desta descoberta juntamente com António Sá.
Tal como António Sá, com experiência na visualização de outros navios, Paulo Correia diz que, tendo em conta o desenho da quilha e da popa desta embarcação, este não será um navio de navegação interior ou apenas junto à costa (cabotagem). Esta é a percepção de Paulo Correia, que também declarou um outro navio encontrado na Ria, no Canal Principal de Navegação, junto à antiga Lota de Aveiro (Ria de Aveiro B), onde foi recuperado um astrolábio. Paulo Correia também é conhecedor de outras descobertas mas o navio no canal do Rio Bôco tem “características de ser maior”, disse ao Diário de Aveiro.
Segundo o mergulhador, é visível o casco de uma embarcação, um tabuado com cerca de oito metros de comprimento, em “bom estado de conservação” e uma largura de dois metros na boca. Mas estas são as partes que foi possível medir, já que parte o navio se encontra enterrado no leito do canal.
Fonte: João Peixinho (8 Dez 2009). Diário de Aveiro.
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por noticiasdearqueologia às 20:50
Sexta-feira, 31.07.09
Oito metros de altura de sedimentos encobrem o que mergulhadores do Projeto Resgate Barra Sul acreditam ser uma nau do século 16. O naufrágio foi localizado nas proximidades das praias do Sonho, Naufragados e Papagaios, na parte sul da Ilha de Santa Catarina, onde era a entrada de embarcações que trafegavam na região na época das grandes navegações. Caso a hipótese se confirme, será o naufrágio mais antigo até agora identificado no Brasil.
Na parte mais alta dos sedimentos foi localizado um pequeno canhão de sinalização e, ao redor de uma área de cerca de 30 metros, os aparelhos utilizados na busca indicaram a presença de metais, o que pode revelar a estrutura total do navio. Além de cabos, cacos de cerâmica e pedras de lastro, uma âncora foi achada nas proximidades.
A âncora é o achado mais antigo. Foi ela que, encontrada por acaso pelo mergulhador Gabriel Corrêa, em 2005, deu início à criação da ONG Projeto Resgate Barra Sul. “Pelo tamanho e formato da peça acreditamos que pertence a uma nau do século 16. Esse tipo era utilizado por embarcações dessa época”, disse Corrêa, diretor do projeto.
As perguntas ainda não respondidas são se a âncora faz parte do mesmo naufrágio e se a nau era mesmo de Sebastião Caboto, uma das hipóteses mais viáveis. Cabotto comandou, em 1526, uma expedição que saiu da Espanha tendo como destino o Oriente, mas ao saber das histórias de um rico povo no interior da América, que se adornava dos pés à cabeça com ouro, resolveu deixar seus planos iniciais para trás.
“A Ilha de Santa Catarina era um ponto estratégico de abastecimento para os navegadores que nos séculos 16 e 17 serviam aos reinos de diversos países europeus e seguiam rumo ao rio da Prata. Quando adentravam a baía sul, eram surpreendidos pela geografia acidentada do leito marinho e muitas vezes pegavam um inesperado vento, vindo a naufragar”, disse outro mergulhador e diretor da equipe, Nei Mund Filho.
Por isso, a região pesquisada é considerada um cemitério de navios. A história registra oito naufrágios, mas muitos mais podem ter encontrado ali o seu fim. O Projeto Resgate Barra Sul conseguiu autorização da Marinha para pesquisar e explorar uma área de 400 quilômetros quadrados. Até o momento, localizaram três embarcações, uma delas recente, com cerca de 100 anos.
“A arqueologia subaquática é cara e demorada. Exige equipamentos bem mais sofisticados, como sonares, ecossonda, radar, canetas e cadernetas especiais, entre outros. Se em um sítio arqueológico na terra escavamos com pás, no sítio subaquático é necessário um sugador para retirar os sedimentos e levá-los para a superfície”, explicou a arqueóloga Deisi Scunderlick Eloy de Farias, professora da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e consultora do projeto.
No ano passado a pesquisa recebeu recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc), o que garantiu a utilização de equipamentos como radares, sonares e GPS. Com esse auxílio, os integrantes do projeto conseguiram localizar duas âncoras, pedras de lastro, cacos de cerâmica, um canhão e todos os pontos que indicam metais e dão idéia da estrutura da embarcação.
Em uma etapa posterior as peças serão removidas do mar, dessalinizadas e restauradas. “Após a restauração, os achados serão direcionados à Marinha e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, para colocação futura em um museu. Outra ideia é recolocar as peças no lugar de onde foram retiradas e transformar essa parte do fundo do mar em um imenso museu subaquático”, disse Corrêa.
Fonte: (13 Jul 2009).Agência FAPESP: http://www.agencia.fapesp.br/materia/10754/noticias/nau-do-seculo-16-e-descoberta.htm
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por noticiasdearqueologia às 23:38
Quinta-feira, 23.07.09
Uma equipe de arqueólogos usando tecnologia de sonda para escanear o fundo do mar descobriu um "cemitério" de cinco navios da Roma antiga em boas condições, na costa da pequena ilha italiana de Ventotene.
As embarcações comerciais, do período entre o 1o século a.C. ao 5o século d.C., estão numa profundidade a mais de 100 metros do nível do mar e se incluem entre os navios naufragados descobertos em águas mais profundas no mar Mediterrâneo nos últimos anos, disseram os pesquisadores nesta quinta-feira.
Parte de um arquipélago, situado a meio caminho entre Roma e Nápoles, na costa oeste da Itália, Ventotene historicamente servia como local de abrigo durante o mau tempo no Mar Tirreno.
"Parece que os navios buscavam um local seguro para ancorar, mas não conseguiram", disse Timmy Gambin, chefe da área de arqueologia da Aurora Trust (www.auroratrust.com). "Por isso, em uma área relativamente pequena encontramos cinco embarcações que naufragaram... um cemitério de navios".
As embarcações estavam transportando vinho da Itália, valioso molho de peixe da Espanha e norte da África e um misterioso carregamento de lingotes de metal da Itália, possivelmente para serem usados na construção de estátuas ou armamento.
Gambin disse que os destroços revelaram um padrão de comércio no Império Romano: primeiro, Roma exportava seus produtos para suas províncias, mas depois começava gradualmente a importar delas mais e mais artigos que antes produzia.
Na época romana, Ventotene, conhecida como Pandataria, era usada como local de exílio de nobres romanos que caíam em desgraça com o poder. O imperador Augusto enviou para lá sua filha Julia por ter cometido adultério. No século 20, o ditador italiano Benito Mussolini usou a ilha distante como prisão para opositores políticos.
Por causa da profundidade em que se encontram, os navios permaneceram intocados por centenas de anos.
Fonte: Daniel Flynn. (23 Jul 2009). O Globo:http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2009/07/23/arqueologos-acham-cemiterio-de-navios-romanos-que-afundaram-756939668.asp
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por noticiasdearqueologia às 23:14
Segunda-feira, 10.11.08
Durante 32 dias, Francisco Alves, arqueólogo, especialista em arqueologia náutica e submarina, esteve na Sperrgebiet, a "terra proibida", a zona de exploração diamantífera da costa atlântica de Oranjemund, na Namíbia. O arqueólogo andou a recolher aquela que classifica como " a maior descoberta arqueológica da África subsaariana". Uma nau portuguesa, carregada de moedas de ouro, lingotes de cobre, presas de marfim. Ficou ali durante 500 anos, no areal da Namíbia, destroçada após um naufrágio. Para agora se revelar.
Pode não ser a nau que transportava Bartolomeu Dias, que naufragou em 1500. Mas decerto é uma nau portuguesa, da rota das Índias, ou melhor, o que resta dela após um violento naufrágio. Seguia para oriente numa data não muito distante de 1500. Mas posterior.
Fustigada pelos musculados braços do monstro Adamastor, senhor das correntes do Cabo, a embarcação foi esventrada pelas ondas e empurrada para a costa da Namíbia, deixando no caminho um rasto de carga, de ossos e destroços de navio. Tudo morreu na praia. E por lá ficou ao longo de cinco séculos.
A descoberta desta embarcação naufragada há 500 anos está a fascinar a arqueologia náutica mundial. Em Abril passado um funcionário da Namdeb, o consórcio do Governo da Namíbia com a multinacional de exploração diamantífera DeBeers - que faz a exploração da região -, encontrou uma pedra estranha enquanto extraía as preciosas pedras brilhantes das areias da Sperrgebiet, "terra proibida". Um canhão empedernido foi a primeira peça a revelar-se. Depois vieram mais, muitas mais.
Duas mil moedas cunhadas pelas coroas espanhola e portuguesa, 20 toneladas de lingotes de cobre e estanho, semi-esféricos, mas também de outras formas, algumas estranhas, cravados com o tridente dos banqueiros alemães Fugger, que forneciam de metal a coroa Portuguesa. E ainda dezenas de presas de marfim africano, instrumentos científicos, baixelas de estanho e restos de candelabros, espadas, restos de ossos humanos (pelo menos uma costela e parte de uma bacia) e até restos de chinelos em couro. Um espólio típico de um navio que vai para o oriente, dizem os especialistas.
Isto para além de peças da estrutura do navio, de tamanho colossal, que começaram a aparecer por todo o lado ao longo dos cerca de 600 metros quadrados, na mina U60 da Sperrgebiet.
O local da escavação é um pedaço de terra roubado ao Atlântico, resguardado do mar por uma parede artificial de areia com seis metros de altura. Um carreiro de camiões encarregou-se de alimentar a muralha constantemente, ao longo dos 32 dias de trabalhos. Só 1700 euros diários eram necessários para esta operação, totalmente financiada pela NamDeeb. Para cá dessa parede, e depois da água e areia aspirada (e cuidadosamente filtrada para revelar diamantes), os achados quinhentistas foram expostos.
Numa primeira fase os trabalhos foram coordenados pelo arqueólogo sul-africano Dieter Noli, especialista na área da Sperrgebiet. Mas era necessária a participação de uma equipa que soubesse lidar com a raridade em causa: uma nau quinhentista. Foi então que o nome de Francisco Alves surgiu. A única nau quinhentista, da rota das Índias, descoberta e estudada até hoje, a Nossa Senhora dos Mártires, em 1998, na barra do rio Tejo, foi um trabalho da sua equipa, do Centro de Arqueologia Náutica e Subaquática, o CNAS.
A equipa portuguesa
"É o achado mais importante encontrado da África subsariana, pelo menos dos estudados por arqueólogos, exceptuando talvez a fragata de Santo António de Tana, de final do século XVII, escavada em Mombaça no final dos anos 70, estava a arqueologia náutica portuguesa a nascer. Não falo de pilhagens, claro", defende Francisco Alves que reconhece o esforço do Governo da Namíbia em resistir a "caçadores de tesouros" que assediaram as autoridades na esperança de chegar ao achado.
Para além de Francisco Alves e Miguel Aleluia, do CNAS e de um grupo de investigadores espanhóis indicados pelo Ministério da Cultura do país vizinho e do Museu de Arqueologia Subaquática de Cartagena, a equipa era ainda formada por um grupo de especialistas da Universidade de Texas A&M, uma das melhores instituições de investigação do mundo em arqueologia náutica, representada pela equipa do também português Filipe Vieira de Castro. Este último também tinha participado, com Francisco Alves, nos trabalhos da Nossa Senhora dos Martíres. Mas a participação desta equipa de excelência, que se encarregaria agora da investigação ao pormenor e da conservação dos achados, parece ser incerta.
"A única parte do projecto em que nós poderíamos adicionar algum conhecimento era na conservação das concreções metálicas porque o nosso laboratório aqui tem capacidade para radiografar e reconstruir objectos há muito desaparecidos, mas cujos moldes ficaram preservados nas concreções, juntamente com pólenes e traços ínfimos de exosqueletos de insectos. Mas para isso era preciso que os governos, português e da Namíbia, nos deixassem trazer as concreções para o Texas. E como os representantes de ambos os países colocaram reticências a este respeito, nós não pensámos mais nisso", adiantou ao P2 Filipe Castro.
Francisco Alves também afirma não saber nada sobre os planos para o futuro da investigação: "Os trabalhos preliminares são muito importantes. Muitas vezes precisamos de instrumentos de dentista. Mas tem de haver um trabalho de equipa", diz Francisco Alves sobre uma autêntica investigação digna da famosa série CSI. O que se passou na Sperrgebiet foi uma verdadeira investigação forense que levou a que conseguisse fazer o levantamento de tudo aquilo que era recuperável nos 600 metros quadrados de achados disperso pela mina U60.
A primeira moeda de ouro
Mas a etapa seguinte não é menos importante: "Todos os pormenores surgem agora na leitura destes vestígios delicadíssimos retirados do seu contexto. A construção de uma embarcação tem vestígios arquitecturais, sinais inscritos na madeira, nos quais a náutica portuguesa é muito rica", diz o arqueólogo sobre o que agora se seguirá, uma espécie de montagem de um puzzle muito incompleto.
Nos 32 dias passados na "terra proibida" Francisco Alves e Miguel Aleluia conseguiram recuperar tudo o que era possível. "As surpresas eram diárias. Temos mais de meia centena de peças estruturais do navio e foram todas recuperadas. Tudo o que interessava e que se encontrou foi salvo dentro da abordagem possível", diz Francisco Alves que, em quatro décadas de arqueologia náutica encontrou, na Namíbia, a sua primeira moeda de ouro.
Mas o arqueólogo português está certo, contudo, que a rocha e a natureza ficaram com muito mais. Uma das peças mais importantes da estrutura do navio, o calcez, "uma peça colossal", com dois metros de comprimento, usado para içar os panos do navio, e que estava descrita num manual de época mas que nunca tinha sido vista, foi encontrada intacta a quatro quilómetros da mina U60, onde decorreram os trabalhos.
Identificaram as peças e deixaram-nas num banho acuoso essencial à conservação. Nada sairá da Namíbia, visto que a legislação do país protege os achados encontrados em território nacional. Mas, para além das moedas de ouro que terão sido guardadas num banco da Namíbia, tudo o resto está num dos lugares mais seguros do mundo: "Toda a fronteira do Sperrgebit é um 'ScanEx' gigantesco, como o de controlo de bagagens nos aeroportos", descreve Francisco Alves. Ninguém sai da zona de alta segurança da exploração diamantífera sem ser virado do avesso. "Até as tampas das esferográficas eram revistadas".
Por isso Francisco Alves acredita que a nau quinhentista da Rota das Índias está a salvo. Apesar de pairar sobre este tesouro, sempre, o risco de sucumbir ao feroz assédio do mercado internacional de antiguidades.
Sobre o valor do achado, Francisco Alves recusa-se a avançar com números: "Recuso-me a avançar com valores. Seria inédito que algum arqueólogo avaliasse um achado. Quanto é que vale o túmulo do Tutankamon? Isso é para as lojas de antiguidades".
Mas são as moedas de ouro que falam mais alto. São elas que vão indicar, pela data de cunhagem, a datação da embarcação: "Nos primeiros dias de Maio foi encontrada uma moeda cuja cunhagem só existiu a partir de 1525. Mas só nos podemos pronunciar quando forem todas classificadas. A cunhagem mais recente indicará a data provável".
E é também nas cerca de duas mil moedas que se concentram as atenções em relação a valores. As portuguesas, mais valiosas, uma vez que tinham um grau de pureza de 999,2 por mil, representam apenas um terço da colecção. Mas estes "portugueses" de século XVI, como se chamavam então a estas moedas, estavam avaliados, há cerca de dez anos, conta Francisco Alves, em cerca de 50 mil euros. Cada moeda.
Fonte: Ana Machado (10 Nov 2008). Público.
Vídeo: http://static.publico.clix.pt/docs/cultura/tesouroescondido/
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por noticiasdearqueologia às 19:16
Domingo, 19.10.08
Entre os destroços escavados em Oranjemud foram encontrados ossos
humanos cujo ADN vai ser analisado. Canhões, moedas, espadas, pratos e até chinelos
constam do tesouro.
"Estamos à espera de que as moedas falem." A frase do arqueólogo
Francisco Alves significa que só depois de se saber a datação da mais
nova das moedas encontradas nos destroços da nau quinhentista
portuguesa naufragada próximo de Oranjemud, no Sul da Namíbia, se
poderá ter ideia de que navio se tratava, quem era a sua tripulação e
quais os objectivos da sua viagem.
Após um mês "sem ver o mar", apesar de estar separado dele apenas por
uma parede de areia com seis metros de altura, Francisco Alves,
arqueólogo do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico (Igespar), deu ontem a conhecer em Lisboa alguns dos
passos que conduziram a um dos maiores achados arqueológicos
subaquáticos.
Com a certeza de que se trata de uma embarcação portuguesa (os
posteriores estudos dirão se é uma nau ou um galeão), este é apenas o
segundo navio português escavado por portugueses à escala mundial (o
primeiro caso foi o da nau Nossa Senhora dos Mártires, há uma década,
em S. Julião da Barra, no Tejo).
O valor do espólio rondará os 70 milhões de euros. Mas essa é apenas
uma estimativa pecuniária, que para os intervenientes portugueses na
escavação de Oranjemud e também para os secretários de Estado da
Cooperação e da Cultura não é a mais relevante. "Mais importante do
que poder reclamar parte do achado ou saber quem fica com ele é salvar
o património", disse a secretária de Estado da Cultura, Paula
Fernandes dos Santos.
Esta posição foi assumida pelo Governo português mesmo depois de saber
que a Namíbia, por não ter ratificado uma convenção internacional, não
será obrigada a devolver qualquer percentagem do espólio ao país a que
pertencia a embarcação.
A questão de uma eventual partilha dos bens escavados não é, no
entanto, um assunto encerrado. É que entre os destroços também foram
encontrados ossos humanos. Após testes para identificação do ADN e de
consultados os livros marítimos da época, é bem possível que se
identifiquem alguns dos tripulantes de então e os seus actuais
familiares. Estes poderão então tentar ficar com algo.
Esta é apenas uma suposição da comunidade científica, que, conforme
disse ao PÚBLICO fonte conhecedora do processo, se viu recentemente
confrontada com um pedido do género (parte da descendência que reside
no Brasil), quando se especulou que os destroços da embarcação até
poderiam de uma nau comandada por Bartolomeu Dias.
Francisco Alves descartou por completo essa hipótese. É que no local
das escavações foram já encontradas moedas que só terão sido cunhadas
anos depois do naufrágio de Bartolomeu Dias, em Maio de 1500.
O que o arqueólogo português garante é que o navio agora
intervencionado fazia a Rota das Índias, para onde supostamente se
deslocava quando naufragou. Essa certeza é fundamentada com a carga
que entretanto tem sido recuperada. Lingotes de cobre (20 toneladas)
recuperados mostram a marca de um conhecido comerciante alemão da
época, a quem o reino português comprara o metal para depois levar
para a Índia. Também a consulta da literatura de cordel publicada em
Portugal no século XVII, rica sobre naufrágios, poderá ajudar a
perceber de que embarcação se trata.
O espólio da por enquanto misteriosa embarcação é ainda composto por
diversas peças pesadas de artilharia, por lingotes de estanho, peças e
moedas de prata e por cerca de 2300 moedas de ouro. Um terço destas
são cruzados portugueses, as restantes são espanholas.
As moedas portuguesas, explicou Francisco Alves, são bem mais
valiosas, uma vez que o ouro que as compõe tem um grau de pureza de
999,2 por mil. Estas moedas terão começado a circular em 1499, e a sua
cunhagem findou 49 anos depois.
Fonte: José Bento Amaro (18 Out 2008). Público.
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por noticiasdearqueologia às 10:09
Domingo, 19.10.08
Odyssey Marine Exploration no tiene derecho ni a una sóla de las
monedas rescatadas del naufragio de «La Mercedes», puesto que es un
buque de Estado. Pero es que ni siquiera puede reivindicar ya las
fortunas privadas que se hundieron con la fragata, puesto que España
indemnizó antes de 1870 a todas las víctimas que pudieron probar que
sus propiedades estaban a bordo del barco hundido a traición por el
inglés el 5 octubre de 1804 (hace justo ahora 204 años). Esto es lo
que se desprende de la investigación histórica y jurídica realizada
por el abogado José María Lancho.
Según el citado jurista, que ha rebuscado en archivos y libros de la
época, el proceso se alargó durante décadas y fue penoso para un
erario exhausto por las guerras. Pero lo cierto es que, en diciembre
de 1869, se emitía una Instrucción que regulaba las caducidades de las
reclamaciones de aquellas víctimas que debían ser indemnizadas por el
apresamiento de buques de la Real Armada a manos de Inglaterra. Al
unirse con Gran Bretaña contra Napoleón, España se comprometió a
resarcir a las víctimas y lo hizo.
En 1824 se abrió el plazo para reclamar por las presas realizadas por
Inglaterra antes de 1808, es decir, veinte años más tarde de la
catástrofe de «La Mercedes». Era la España del Vuelva usted mañana de
aquel Mariano José de Larra transmutado en Fígaro, donde la burocracia
podía agotar la paciencia y la energía de aquellas desesperadas
familias durante varias generaciones.
Es posible, según afirma Lancho, imaginar «la situación en que se
encontraban estas familias y comprender la precariedad de un Estado,
el español, que apenas sobrevivía tras las guerras napoleónicas,
mientras América iniciaba su proceso revolucionario y estallaban los
primeros conflictos civiles» en el reinado de Fernando VII.
El caso es que el artículo 9 de esa Instrucción de 1869 explica que
los demandantes de indemnizaciones debían presentar «en el plazo de un
año a contar desde el 21 de julio último (de aquel 1869), en las
oficinas de la deuda, bajo pena de caducidad (...) los documentos que
acreditan el apresamiento del buque, el hecho del embarque del
metálico, géneros y efectos apresados, el valor de estos y el del
buque». Es decir, que tenían que probar su demanda.
«La Mercedes», exento
Pero el caso de «La Mercedes», y el resto de los buques apresados en
la traicionera batalla del Cabo de Santa María, fue tan doloroso
-provocaría la guerra con Inglaterra- que quedaban exentos de toda
prueba los demandantes de «las fragatas de guerra Mercedes, Fama,
Medea y Santa Clara por la notoriedad de sus apresamientos», destaca
Lancho.
El motivo de que España se comprometiera a indemnizar a las víctimas
no fue otro que el cambio de alianzas, tras las guerras napoleónicas
que volvieron a unir como aliados a Madrid y Londres, que se habían
declarado la guerra tras el hundimiento de «La Mercedes», una guerra
que en el mar terminaría con la tragedia de Trafalgar.
El caso es que el resto de las víctimas de los apresamientos corsarios
de los ingleses necesitaba un testimonio del Almirantazgo inglés o del
Tribunal que declaró buena la presa en cada caso. Asimismo debían
«aportar el protesto del capitán del buque y el testimonio expedido
por la comandancia de marina en que hubiera estado matriculado el
buque».
Para el hecho del embarque de bienes, un testimonio sacado del
registro de la Aduana del puerto de salida o expedido por el
Almirantazgo inglés o el Tribunal que declaró buena la presa. Servían
también los conocimientos de los capitanes, maestres o patrones de los
barcos, las pólizas de seguros. etc.
Los demandantes podían sumar otras pruebas como los testimonios de los
libros de comercio. Además, aquellos que quisieran justificar la
propiedad y el valor del buque, debía aportar la escritura de
adquisición o certificación expedida por el Almirantazgo inglés o el
Tribunal que dispuso de la presa «siempre que constara la propiedad
del buque y el precio de la venta del mismo», añade Lancho. Y, por
último, también se aceptaba la certificación emitida por la
Comandancia de Marina a la que «hubiesen correspondido los buques
apresados, donde constara la matrícula y los arqueos de verificados».
El tiempo pasaba y no todas las víctimas tuvieron la suerte de reunir
la documentación necesaria. Por ello, en diciembre de 1870 aún se
publicaban varias cuantiosas reclamaciones caducadas de algunos
herederos. Es el caso de Faustino del Campo, que reclamaba 100.000
reales de vellón de «La Mercedes» y 2.000 de la «Santa Clara». Él y
tantos otros vieron caducar sus derechos por no presentar las pruebas
exigidas en el citado artículo 9.
Fonte: JESÚS GARCÍA CALERO (13 Out 2008). ABC / MADRID.
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por noticiasdearqueologia às 10:01
Domingo, 19.10.08
Especialistas portugueses continuarão a desenvolver a parceria com a Namíbia no estudo e preservação do espólio da nau portuguesa do século XVI naufragada na costa daquele país africano, informou hoje o Governo.
Em conferência de imprensa, realizada na Biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, o arqueólogo Francisco Alves referiu que irá preparar um relatório para informar as autoridades portuguesas sobre o que é mais relevante realizar nesta fase do processo de investigação e preservação do espólio da embarcação.
«É primordial conservar tudo o que foi já recolhido, bem como fazer o registo, o estudo de todas as peças, materiais e restos humanos encontrados», disse Francisco Alves, o director do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática.
O relatório será enviado ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) e aos ministérios da Cultura e dos Negócios Estrangeiros, que irão posteriormente determinar o cronograma de trabalho a ser desenvolvido, assim como o montante do investimento no projecto.
«Em Setembro, mantive em Nova Iorque uma reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Namíbia, que foi uma reunião extremamente satisfatória, porque pude aperceber-me da importância que as autoridades da Namíbia atribuem a esta temática», disse o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, durante a conferência de imprensa.
Segundo João Gomes Cravinho, o Governo da Namíbia pretende seguir os parâmetros internacionais de tratamento do património arqueológico descoberto e deseja plenamente a ajuda de Portugal e outros parceiros internacionais.
Para a secretária de Estado da Cultura, Maria Paula Fernandes dos Santos, o fundamental agora é manter as excelentes conversações com o Governo da Namíbia e, sobretudo, ajudar no processo de preservação do espólio da embarcação.
«Não podemos falar neste momento em futuras exposições do espólio ou museus. Temos que acompanhar todo o processo, seguir o cronograma de trabalho e, posteriormente, voltar a estas questões», referiu.
A secretária de Estado acrescentou que o Governo da Namíbia demonstrou interesse na ajuda de Portugal. Francisco Alves participou, juntamente com outro arqueólogo português, Miguel Aleluia, na escavação e recuperação dos restos da nau portuguesa realizada por uma equipe multidisciplinar que incluía também uma missão espanhola, especialistas da Universidade do Texas, Estados Unidos, e da Namíbia.
A expedição, realizada entre 15 de Setembro e 10 de Outubro, permitiu recolher uma parte da estrutura e casco da nau, peças de ouro, pedaços de cerâmicas, pratos e panelas, lingotes, canhões, moedas e restos humanos e de animais, entre outros artefactos.
Segundo Francisco Alves, o objectivo de retirar todo o espólio existente naquele sítio arqueológico foi alcançado a 100 por cento, mas adiantou que outros fragmentos e peças da embarcação podem ainda estar espalhados pela costa sudoeste da Namíbia.
O espólio, considerado de valor histórico inestimável, já foi avaliado preliminarmente em cerca de 70 milhões de euros.
Fonte: (17 Out 2008). Lusa / SOL: http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=113506
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por noticiasdearqueologia às 09:43
Domingo, 18.11.07
A near-intact shipwreck apparently dating from the 17th century has been found in the Baltic Sea, Swedish television has said.
The discovery was made during filming for an under-water documentary series.
Public service SVT television said the wreck could be from the same era as the famous Vasa warship, which sank on its maiden voyage in August 1628.
The broadcaster said the Baltic's low oxygen content and low temperature had helped preserve the wreck.

The shipwreck was filmed by a remote-controlled submarine
SVT said the origins of the ship were unclear but its features resembled the work of Dutch ship-builders from the period.
"Experts who have studied video of the ship conclude that it is probably the best-preserved ship ever seen from this period," the station said.
A press release provided by SVT quoted marine archaeologist MR Manders as saying he was "overwhelmed" by the condition of the wreck.
"You can hardly call this a shipwreck," he is quoted as saying.
Mr Manders said the boat was likely to have been a trading vessel, 20-25m long, with two or perhaps three masts.
Excellent visibility
The location of the wreck, between the Swedish mainland and Latvia, had been pinpointed in 2003.
Carvings suggest a Dutch vessel (Photo: Deep Sea Production) |
But it was only in May this year, during filming for The Wreck Divers documentary series, that full exploration and filming with a remotely-operated submarine took place.
The programme's executive producer, Malcolm Dixelius, told the BBC the ship was found at a depth of 125m - offering "excellent" visibility.
The relative lack of oxygen in the water and its low temperature meant the ship had been amazingly well-preserved, he said.
SVT says the vessel probably dates from the same period as the Vasa warship, which was discovered in 1956 and brought to the surface.
The museum where it is kept is now one of the main tourist attractions in Stockholm.
In: (15 Nov 2007). BBC, News: http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/7096405.stm
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por noticiasdearqueologia às 22:57