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Uma equipa do Museu Monográfico de Conímbriga iniciou quarta-feira, em Vale de Mouro, concelho de Mêda, estudos referentes à conservação de mosaicos.
O arqueólogo Sá Coixão, que orienta as escavações, afirmou ao DIÁRIO AS BEIRAS que, nesta deslocação da equipa chefiada por Virgílio Correia, director do Museu de Conimbriga, vai ser estudado um protocolo tendente à conservação do material recolhido no local, em 5 de Outubro, designadamente um “tesouro” constituído por 4.526 moedas datadas do século IV, duas chaves, uma picareta/machado, uma foice, cavilha e uma corrente de ferro (lares). Adiantou que o local, presumivelmente, foi ocupado ainda nos finais do século IV e início do século V, baseando essa hipótese numa moeda encontrada no local.
Sá Coixão é de opinião que o conjunto arqueológico que está a ser estudado, desde 2003, possa ocupar uma área maior do que a correspondente aos três hectares adquiridos para as escavações, evidenciando o aparecimento de outras estruturas num outro local distanciado do núcleo central de Vale de Mouro e outros vestígios de relevância.
Citou como exemplo a inscrição ELEU TERIO VOXOR F.C. (A mulher de Eleutério a mandou fazer), explicando que é possível datar este nome do século V, já no período cristão.
“Isto prova que o local teria sido povoado mesmo no século V, já período cristão, sendo a área, onde aparecem cerâmicas e tégulas, muito vasta, prolongada por terrenos ocupados por olivais e mato”, disse.
Por isso, Sá Coixão alvitra a hipótese de ser necessário adquirir mais dois ou três hectares para exploração arqueológica e ter aqui existido um templo paleocristão.
As escavações do sítio de Vale de Mouro permitiram pôr a desoberto a área termal com as salas do caldarium, tremorum e frigidorum, condutas, estruturas de uma casa senhorial que teria uma entrada em arco de que aparecerem aduelas, mosaicos, fornos, lareiras, a sala central e corredor, banheiras.
A descoberta mais relevante na campanha deste ano foi a localização do local que teria sido possivelmente a “Casa do Ferreiro” onde foram encontradas as 4.526 moedas e espólio em ferro, escórias e muros.
Os achados arqueológicos datados do período romano no século IV detectados no sítio de Vale de Mouro (Coriscada) no concelho de Meda vieram transformar a ideia que havia desta região durante a época de ocupação romana.
Esta é a opinião do especialista em Romanização em Portugal e professor da Universidade de Coimbra, Jorge Alarcão classificou os achados arqueológicos de Vale de Mouro (Coriscada) no concelho de Meda como “extremamente importantes”.
As escavações, orientadas por Sá Coixão, permitiram recentemente a descoberta de um “tesouro” constituído por 4.526 moedas datadas do século IV, um dos maiores achados no género localizados no país que estavam “escondidas” num compartimento ou pequena tulha, de pedra propositadamente colocada para o efeito, situado nas ruínas de um edifício que se atribui ter sido a casa ou oficina de um ferreiro.
O arqueólogo Sá Coixão, que dirige os trabalhos desde 2003, explicou ao DIÁRIO AS BEIRAS que o “tesouro” estava coberto por alguns utensílios em ferro, designadamente uma foice, uma picareta, chaves de grande dimensões, correntes (lares), sob os quais estava uma camada de terra e sob esta as referidas moedas onde foi possível ainda recolher um pedaço de pano, presumivelmente linho, onde teriam sido envolvidas e que se manteve conservado durante cerca d 1.700 anos.
Face às descobertas arqueológicas Jorge Alarcão disse que a ideia que se tinha era a de que esta seria “toda uma zona relativamente atrasada e pobre na época romana e de repente surge-nos aqui uma vila, uma casa de um grande proprietário de uma dimensão extraordinária, com mosaicos, nesta zona da Beira Interior, onde também não se conheciam praticamente mosaicos”.
De facto, foram postos a descobertos mosaicos da habitação romana onde está representado o deus Baco e a mulher, tendo sido possível obter reboco com a matriz do mesmo.
“Dá-nos a ideia que a zona não seria, na época romana, tão atrasada como a gente pretendia. Numa primeira impressão, isto se poderia integrar-se na zona mais próxima de nós, da Meseta Castelhana, onde também há nesta época de fins do século IV, uma época tardia, “vilas” de grandes dimensões”, comentou.
É de opinião que se está em presença de “um rico proprietário cuja exploração se terá desenvolvido mais nessa altura, no final da época romana, no Baixo Império.
É uma casa de uma dimensão extraordinária, com as suas termas próprias aquecidas, o que é raro na zona em todo o país, com aparte de exploração agrária”.
Jorge Alarcão observou o aquecimento da casa, que em Conimbriga não existe nenhuma sala aquecida.
“Temos as termas que eram aquecidas como estas aqui, mas uma sala aquecida como esta aqui que poderia ser uma sala de refeição um Triclínio ou sala de jantar, mas é curioso que isso fosse aquecido, observou.
Para o universitário e autor do “Portugal Romano” os achados são “uma coisa que merece um investimento e além disso está bem conservado e depois de devidamente restaurado pode vir também a ter uma atracção turística desta região”.
Entende, porém, que pode transformar-se num pólo de atracção turístico mas que “estas coisas deveriam ser estudadas não à escala de um Município mas à escala de vários concelhos”
“Não direi que esta seja uma coisa que justifique as pessoas virem aqui. Conimbriga justifica que as pessoas façam uma viagem de propósito, mas é uma “cidade” e além disso está quase junto à auto-estrada, servida por uma rede de estradas de certa importância, como estrada de Tomar, e está bem posicionada”, disse.
Integrar todas estas coisas e fazer um circuito, ver as ruínas, ver as amendoeiras os achados rupestres do Côa, o Vale do Côa e procurar integrar um percurso que justifique que as pessoas se desloquem aqui numas mini-férias é uma das possibilidades avançadas para Jorge Alarcão para potenciar os achados de Coriscada.
Apesar de ser uma notícia do ano passado, a importância desta descoberta levou-me a registá-la no blog.
Segundo António Sá Coixão, arqueólogo responsável pelas escavações no sítio do Vale do Mouro, o painel foi encontrado numa sala com cerca de seis metros quadrados, que terá pertencido ao administrador do balneário romano descoberto há quatro anos nas imediações da Coriscada. "Deveria ser um indivíduo bastante rico para ter umas termas privadas e um painel destes", destaca.
O mosaico policromado, com um medalhão central onde surgem os deuses Baco e Mercúrio, é quadrado (3,20 metros por 3,20 metros) e parecido com o de Conímbriga, em cores como o branco, cinzento-escuro e claro, avermelhado e rosa. Aliás, a descoberta já foi comunicada aos técnicos do principal sítio arqueológico do período romano em Portugal.
Para Sá Coixão, trata-se de um achado "importantíssimo", até porque "deve ser a primeira vez que se descobre um painel do género em todo o interior do país". O painel que, segundo o arqueólogo, deverá datar de um período entre a segunda metade do século III e a primeira do século IV depois de Cristo, faz parte da área envolvente ao complexo do balneário romano que começou a ser estudado em 2002.
Sá Coixão, que tem orientado as escavações, acredita que o sítio do Vale do Mouro é uma mais-valia para o município "se for rentabilizado turisticamente". Uma opinião partilhada pelo presidente da Câmara da Mêda. João Mourato adianta que "Marialva é visitada mensalmente por mil pessoas e a Coriscada será outro motivo para mais visitas", dado que esta recente descoberta no Vale do Mouro "é de grande valor arqueológico para o concelho e para a região".
O executivo medense esteve recentemente no local e foi unânime em afirmar que valeria a pena investir naquele tipo de trabalhos. As escavações arqueológicas da campanha deste ano, que têm o aval do Instituto Português de Arqueologia (IPA), terminaram há dias e serão retomadas em Julho de 2007, sendo que Sá Coixão está convicto de haver outras salas na mesma zona onde agora foi encontrado o painel.
CORDEIRO, Ricardo (sábado, 07 OUT 2006). O Interior.