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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
O Bloco de Esquerda apresentou na última terça-feira um projecto de resolução que pretende suspender a transferência de museus no eixo Ajuda/Belém até à elaboração de um plano estratégico para a reconfiguração do seu conjunto. O projecto de resolução apresentado pelo Bloco de Esquerda na passada terça-feira recomenda ao governo a suspensão de todas as acções relativas à transferência de museus e à criação de novos museus no eixo Ajuda/Belém, até à elaboração de um plano estratégico para a reconfiguração do seu conjunto. Argumenta o Bloco que é nesta zona da cidade de Lisboa que se encontram os museus mais visitados do país e algumas das mais importantes colecções museológicas a nível internacional, e que nos últimos dois anos temos vivido um ambiente de incerteza contínua sem que os sucessivos projectos anunciados apresentassem uma fundamentação museológica e em que se compreendam as consequências dos passos isolados que vão sendo dados. O Bloco acusa o Ministro da Economia de tomar unilateralmente a decisão relativa ao Museu Nacional dos Coches, sem qualquer participação do Ministério da Cultura. Considerando este “o exemplo máximo de inexistência de pensamento estratégico”. No caso do Museu Nacional dos Coches o bloco acusa que os projectos de reinstalação carecem de um estudo integrado e fundamentado.
Fonte: (14 Abr 2010). Esquerda.net: http://www.esquerda.net/content/view/16
Os serviços do IGESPAR oriundos das instalações de Belém onde vai ser construído o Museu dos Coches estarão na Cordoaria Nacional até finais de Julho, disse quinta-feira à Lusa o sub-director daquele instituto.
João Pedro Cunha Ribeiro garantiu que as obras de adaptação da Cordoaria Nacional, a cargo da Parque Expo, começam nos próximos dias e terão a duração de dois meses.
O sub-director do IGESPAR afirmou que a abertura da biblioteca de Arqueologia no Torreão Poente da Cordoaria «pode demorar um pouco mais», para salvaguarda dos documentos. «A direcção fez questão de que fossem os técnicos da biblioteca a realizar a operação, quer no empacotamento quer na abertura das caixas e posterior arrumação».
A biblioteca foi encerrada a 7 de Maio porque «não era possível fazer a mudança» se estivesse em funcionamento, comentou aquele responsável.
A transferência de alguns serviços para o Palácio da Ajuda, um dos alvos de contestação por parte da Associação Profissional de Arqueólogos (APA) e da Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP), num comunicado divulgado quinta-feira, teve «alguns percalços que estamos a tentar ultrapassar», esclareceu Cunha Ribeiro.
«Está projectada a transferência dos serviços remanescentes para Cordoaria Nacional. O processo está em curso e as obras começam dentro de dias. Quando entrarmos em fase de obra, prevemos o prazo de dois meses para lá instalarmos os serviços.Temos a expectativa de tê-los a funcionar até ao fim de Julho».
As obras de demolição em curso no terreno do futuro Museu dos Coches «só podem ser levadas até ao fim quando tivermos instalações alternativas». Assim, está a ser feito o isolamento com tapumes dos pavilhões onde ainda funcionam serviços, para minimizar os efeitos da obra e para salvaguardar os materiais em arquivo. «Em nenhum momento se encontrará em perigo a integridade do espólio arqueológico ali depositado», assegurou o sub-director do IGESPAR, que é professor de Arqueologia.
Diário Digital / Lusa
Fonte: (15 Mai 2009). Diário Digital: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?se
O Grupo Parlamentar do PCP defende a «suspensão imediata» da construção do novo Museu dos Coches, em Lisboa, e a abertura de uma discussão pública sobre este projecto, que classificou de «desastroso»
O novo Museu, a inaugurar dentro de ano e meio, ficará instalado nas ex-Oficinas Gerais do Material do Exército, em Belém, onde actualmente funcionam os Serviços de Arqueologia, que serão transferidos, na sua maioria, para a Cordoaria Nacional.
No entender do PCP, a construção do novo museu «é uma decisão desastrosa pela falta de perspectiva estratégica em termos de política museológica e cultural que traduz e pelas consequências que acarreta».
Os comunistas criticam que 32 milhões de euros das contrapartidas do funcionamento do Casino de Lisboa sejam destinados a esta obra, que vai substituir «aquele que é hoje o museu mais visitado do país», sem que haja uma perspectiva de «requalificação, modernização ou melhoria dos serviços e museus sob tutela do Ministério da Cultura».
A utilização das actuais instalações do Museu dos Coches como picadeiro real é também criticada pelo PCP, que considera que este uso é «completamente incompatível com a preservação que se impõe ser assegurada pelo Estado».
Os comunistas condenam também a demolição das antigas Oficinas Gerais do Exército, cujo valor patrimonial destacam, para permitir a nova construção, alertando ainda para eventuais prejuízos para o acervo patrimonial e arqueológico decorrentes da forma como está a ser desocupado este espaço.
Por outro lado, a transferência do Museu Nacional de Arqueologia para a Cordoria Nacional é «desadequada» devido ao investimento necessário para adaptar este edifício e por se tratar, ele próprio, de um monumento nacional, além de já estar pensada a expansão daquele museu no Mosteiro dos Jerónimos, uma solução preferida pelo PCP.
Os comunistas pedem ainda um processo de discussão pública sobre o projecto de construção de um novo Museu dos Coches e as suas consequências para os museus e serviços envolvidos e defendem que o Estado apresente, para discussão, um projecto de transferência dos serviços do extinto Instituto Português de Arqueologia, ainda instalados nas antigas Oficinas Gerais.
O edifício, que ocupará 15.177 metros quadrados, foi apresentado como «um projecto-âncora da requalificação e revitalização da Frente Tejo de Lisboa».
O novo edifício - de linhas direitas, envidraçado do lado poente (virado para a Praça D. Afonso de Albuquerque) - disporá de uma área de apoio à manutenção dos coches, restaurantes e apoio ao visitante.
Fonte: (17 Abr 2009). Lusa/SOL: http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politic
O investimento pode ser feito na requalificação dos museus do
Ministério da Cultura ou num edifício de raiz para o MNA, defende a
plataforma PPCult
A construção de um novo museu de Arqueologia seria uma alternativa ao
projecto de um novo Museu dos Coches, em Belém, Lisboa, defende a
Plataforma pelo Património Cultural (PPCult) numa carta aberta ontem
divulgada.
A posição da PPCult surge em resposta a uma carta tornada pública na
segunda-feira em defesa do projecto para os Coches, da autoria do
arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, e assinada por duas
centenas de personalidades, com destaque para os arquitectos Siza
Vieira, Gonçalo Byrne, Eduardo Souto de Moura e Carrilho da Graça.
"Em nosso entender, o abandono da intenção de construção de um novo
Museu dos Coches, ou a reprogramação do projecto já existente, não
deve conduzir à paralisia, muito menos ao desperdício de verbas
existentes para o efeito", escrevem os responsáveis do PPCult, entre
os quais Luís Raposo, presidente da Comissão Nacional Portuguesa do
Conselho Internacional de Museus (ICOM) e director do MNA, João Neto,
presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), e José
Aguiar, presidente da comissão nacional portuguesa do Conselho
Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS).
Defendem, por isso, a "discussão de uma alternativa de investimento"
do capital disponível para o novo Museu dos Coches. Respondendo
directamente aos arquitectos signatários da carta, o PPCult diz: "O
vosso cavalo de batalha é um projecto de arquitectura e um
arquitecto", sublinhando que nada têm contra o projecto ou contra
Paulo Mendes da Rocha. "Move-nos a exigência de uma política de
património e museus democrática e esclarecida", afirmam.
Questionam, nomeadamente, que o novo edifício permita atingir o
objectivo de aumentar para um milhão o número de visitantes do Museu
dos Coches. É uma afirmação que, dizem, "vale tanto como a que foi
feita em tempos de que o futuro Museu do Côa teria mais visitantes do
que a Torre de Belém".
Além disso, acrescentam, "encerrar este museu num ambiente
arquitectónico contemporâneo cheio de efeitos de som e imagem pode
retirar-lhe a alma que lhe confere sucesso". E afirmam que quando
parte dele foi transferido para o recinto da Expo-98 "teve muito menos
visitantes do que no seu espaço próprio".
Não excluindo que o investimento seja feito num novo museu de raiz -
defendendo nesse caso que fosse o MNA -, o PPCult admite, contudo,
outra alternativa: "A requalificação extremamente necessária de alguns
museus do Ministério da Cultura situados em Lisboa", citando os casos
de Arqueologia, Arte Contemporânea/Chiado, Arte Antiga, Azulejo ou
Música.
Os responsáveis da plataforma dizem-se convictos da possibilidade de
"discutir serenamente" o assunto com os signatários da carta em defesa
do projecto dos Coches.
Fonte: Alexandra Prado Coelho (25.03.2009). Público.
Duas centenas de personalidades da área da cultura, como actores,
músicos, artistas plásticos, mas onde sobressaem os nomes dos
arquitectos Siza Vieira, Gonçalo Byrne, Eduardo Souto Moura e Carrilho
da Graça, subscreveram uma carta em defesa do novo projecto para o
Museu dos Coches, em Lisboa. O documento vai ser entregue, ainda esta
semana, ao primeiro-ministro e, posteriormente, colocado on-line.
A iniciativa, diz a agência noticiosa Lusa, partiu dos arquitectos
João Belo Rodeia e Ana Tostões (actuais presidente e vice-presidente
da Ordem dos Arquitectos, mas que aqui se manifestam a título
individual). E defende, ainda segundo a Lusa, que o projecto de Paulo
Mendes da Rocha "qualifica a zona ribeirinha lisboeta e se insere nos
objectivos do Instituto de Turismo de Portugal, para que o museu passe
dos actuais 200 mil visitantes para um milhão".
Também em favor do avanço do novo museu - que deverá ser inaugurado em
Outubro do próximo ano, no âmbito do centenário da República - está a
"luz verde" do Conselho Consultivo do Património do Igespar (Instituto
de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico), anunciado no
passado dia 10. "Houve parecer positivo, mas com uma recomendação para
se ter cuidado com o arranjo dos espaços públicos, isto é, a área
envolvente", disse à Lusa Elísio Summavielle, director do instituto.
Quem continua a não estar de acordo com a construção do novo museu, no
lugar e nos timings indicados, é Luís Raposo, director do Museu
Nacional de Arqueologia e subscritor do movimento de contestação já
lançado, também on-line, pelo Fórum Cidadania Lx - e que ontem à tarde
contava mais de 2200 assinaturas.
Na qualidade de presidente da representação portuguesa do ICOM
(Conselho Internacional dos Museus), Luís Raposo disse ontem ao
PÚBLICO estranhar o teor da petição dos arquitectos e artistas agora
vinda a lume. "Não está em causa nem a escolha do arquitecto
brasileiro Paulo Mendes da Rocha, nem a qualidade do seu projecto" -
diz aquele responsável -, mas antes o avanço de uma obra desta
dimensão e ambição "sem a prévia discussão democrática" que ela
mereceria. O Fórum Cidadania Lx, que na semana passada promoveu uma
manifestação de protesto, em Belém, contra o início da demolição dos
edifícios para onde está prevista a construção do novo museu, promete
para hoje também uma tomada de posição pública sobre a petição dos
arquitectos e artistas.
Fonte: Sérgio C. Andrade (24 Mar 2009). Público.
Arqueologia BE apresenta requerimento ao ministro da Cultura sobre futuro da investigação arqueológicaO Bloco de Esquerda (BE)apresentou hoje um requerimento ao ministro da Cultura a pedir explicações sobre o futuro da investigação arqueológica em Portugal, disse hoje à Lusa Pedro Soares, da comissão política do partido.
Pedro Soares disse que o requerimento questiona o Governo sobre a situação do Museu de Arqueologia e as condições de trabalho actuais dos funcionários daquela instituição localizada na Avenida da Índia, em Lisboa.
O responsável político afirmou que o BE "está preocupado com as demolições que estão a acontecer enquanto as pessoas estão a trabalhar".
Pedro Soares acrescentou ainda que o partido "quer saber o que vai acontecer ao Museu de Arqueologia, ao espólio arqueológico nacional e aos respectivos serviços" na Avenida da Índia.
Fonte: NL/PZF (18 Mar 2009). Lusa/SIC: http://sic.aeiou.pt/online/noticias/ulti
Cavaco Silva não apoia a transformação do Museu dos Coches em picadeiro da Escola Portuguesa de Arte Equestre. O Presidente da República fez chegar essa ideia aos promotores do movimento que contesta as alterações planeadas para os diferentes museus na zona de Belém.
Os promotores desse movimento reuniram-se hoje numa manifestação na Avenida da Índia, onde estiveram mais de 200 pessoas e onde foi aplaudida a notícia de suspensão das demolições na antiga oficina geral do exército.
O Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arquelógico (IGESPAR) fez saber ao fim da tarde que suspende as demolições do edificio onde se prevê a construção do futuro Museu dos Coches.
As demolições vão ser suspensas até que todo o espólio dos serviços de arqueologia seja instalado noutro depósito.
Luís Raposo, porta-voz da plataforma que diz não à mudança do Museu dos Coches, considera não ser prioritário construir um novo museu que «esta bem no sítio onde está».
Entrada de maquinaria pesada indignou funcionários dos serviços de
Arqueologia que se encontravam nas instalações da Avenida da Índia.
As obras que se iniciaram este fim-de-semana no local onde será
construído o novo Museu dos Coches, em Lisboa, não representam
qualquer risco nem para os funcionários nem para o património ligado à
arqueologia que ali se encontra, garantiu ontem ao PÚBLICO o director
do Igespar (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico), Elísio Summavielle.
O que se está a passar neste momento é apenas "desmontagem de
armazéns, de prateleiras e recolha de entulho" numa zona que não
afecta os serviços que ali funcionam, afirma Summavielle. A
transferência destes serviços deverá acontecer nos próximos cinco
meses, enquanto decorrer a empreitada de demolição, e "os bulldozers
só entrarão quando já não estiver lá ninguém".
A garantia surgiu depois de, de manhã, os funcionários dos Serviços de
Arqueologia do Igespar que trabalham nas antigas Oficinas Gerais de
Material do Exército, na Avenida da Índia, terem manifestado a sua
indignação, alertando para os riscos provocados pela entrada de
camiões e maquinaria pesada.
"Não há condições para continuarmos a trabalhar", dizia uma das
arqueólogas no local. "Iniciaram-se os trabalhos e há grandes camiões
e máquinas que podem prejudicar o património aqui guardado, sobretudo
o da arqueologia subaquática".
Numa nota de imprensa em que lembravam que "o impasse [sobre o destino
dos serviços que estão nestas instalações] dura há cerca de um ano",
os funcionários denunciavam "o claro conflito de interesses" entre os
Ministérios da Defesa, da Economia e da Cultura.
A transferência dos serviços de Arqueologia - parte dos quais deverão
ir para o Palácio da Ajuda, e outra parte para o edifício da
Cordoaria, também na Avenida da Índia - é da responsabilidade do
Ministério da Cultura. No entanto, a construção do novo Museu dos
Coches, um projecto do arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha,
foi lançado pelo Ministério da Economia.
Elísio Summavielle explicou que parte dos serviços de Arqueologia que
se encontram na Avenida da Índia - entre os quais a biblioteca - serão
nos próximos meses transferidos para o torreão ocidental do edifício
da Cordoaria Nacional, na mesma avenida. Por seu lado, o Arquivo da
Arqueologia Portuguesa irá para o Palácio da Ajuda. Os serviços de
arqueologia aquática e subaquática serão divididos entre a Cordoaria e
o Museu da Marinha.
Quanto à eventual transferência do Museu Nacional de Arqueologia dos
Jerónimos para a Cordoaria, Summavielle diz que é "uma questão
independente desta".
Fonte: Alexandra Prado Coelho (10 Mar 2009). Público.
Obras do novo Museu dos Coches, nas instalações do ex-Instituto Português de Arqueologia, deviam ter arrancado em Setembro
A construção do novo Museu dos Coches deveria ter arrancado em Setembro. Foi isso que foi avançado na apresentação, a 9 de Julho, do projecto que vai crescer nas antigas Oficinas Gerais de Material do Exército, em Belém (Lisboa), onde actualmente estão guardados os tesouros da arqueologia nacional, o espólio do ex-Instituto Português de Arqueologia (IPA). Mas o Ministério da Economia, responsável pela obra, não diz quando arrancarão os trabalhos. E o Ministério da Cultura ainda não sabe onde vai colocar a arqueologia. A hipótese da Cordoaria Nacional (também em Lisboa) está a ser estudada.
A morada desta autêntica gruta de Ali Babá da arqueologia portuguesa fica no n.º 136 da Avenida da Índia. É para lá de um enorme portão verde, mesmo em frente à estação da CP de Belém, que se concentram, por 12 mil metros quadrados de área, os mais importantes achados realizados em território nacional. Tudo começa e tudo acaba ali na arqueologia. Mas poucos sabem o que lá está guardado.
Visitados quase em exclusivo por investigadores, os armazéns de depósitos arqueológicos, a biblioteca de arqueologia (a mais importante em Portugal), o Centro de Investigação em Paleoecologia Humana e Arqueociências e o espólio do Centro Nacional de Arqueologia Náutica (CNAS) estendem-se por vários edifícios dispersos por corredores de terra batida.
Cinquenta e cinco mil obras
Jacinta Bugalhão, arqueóloga, já não está ao serviço do IPA, onde coordenava a divisão de arqueologia preventiva. Mas foi nessa condição que, à altura desta visita, acompanhou o PÚBLICO. Tinha estado a embalar algumas das peças do depósito onde se contam mais de 600 contentores de peças arqueológicas. "Ainda não temos ordem para empacotar, mas já estou a empacotar porque me preocupa".
Um dos casos que mais têm preocupado a comunidade de investigadores de arqueologia, quando se fala na mudança de casa, é o da biblioteca. Foi aliás a biblioteca que motivou o lançamento de uma petição on-line, dirigida ao ministro da Cultura, onde os subscritores mostravam preocupação com o futuro do espólio de cerca de 55 mil obras. Este espólio foi aumentado quando, em 1999, encerrou em Lisboa a delegação da biblioteca do Instituto Arqueológico Alemão. Esta cedência foi feita em regime de comodato, o que significa que continua a ser património do Estado alemão, que a pode reclamar se, por exemplo, não estiver acessível ao público.
Arqueologia náutica
Mergulhando mais nas ruas de terra batida das antigas instalações das oficinas do Exército, Jacinta Bugalhão aponta uma porta metálica que dá acesso a um outro grande armazém. A porta range para dar acesso a um ambiente de filme ao estilo Indiana Jones, acentuado pela arquitectura industrial, com varandins de ferro, que caracterizam o espaço. É a sala da divisão de arqueologia náutica.
Pirogas monóxilas (feitas de um único tronco de árvore) encontradas no rio Lima e datadas com 2300 anos, mergulhadas em enormes tanques para preservar o estado de conservação, são as protagonistas de um cenário onde se espalham caixotes com inúmeras peças e peças de artilharia em bronze encontradas ao longo dos anos na costa portuguesa ou apreendidas em feiras quando alguém se preparava para vendê-las sem conhecer o valor do que tinha em mãos.
"Nós temos toda esta linha de costa, o que nos faz um dos países do mundo com maior património náutico e subaquático. As peças aqui preservadas são muito importantes em termos patrimoniais", frisa Bugalhão. "Temos das maiores reservas de arqueologia náutica do mundo. Este sector é um quebra-cabeças. Não se pode parar o tratamento das peças".
Do imensamente grande - as pirogas monóxilas - para o imensamente pequeno, a visita guiada segue para uma outra sala do complexo, onde Cristina Araújo investiga, à maneira do CSI, através da paleobotânica, o que, por exemplo, os pólens das plantas podem dizer sobre a vida e hábitos das espécies animais. "Aqui trabalhamos em contextos antigos, com mais de 70 mil anos". Estamos no CIPA, o Centro de Investigação em Paleoecologia Humana e Arqueociências.
Simon Davis, zoólogo, veio em 1999 do English Heritage, onde trabalhava, para Lisboa. É hoje um dos investigadores do CIPA, onde se ocupou a recolher, desde 2000, milhares de ossinhos que compõem a maior osteoteca do país. Representam 50 espécies de mamíferos e 300 de aves. São dezenas de pequenas gavetas de madeira onde estão meticulosamente alinhados todos os ossos dessas espécies ali catalogadas. "Deve ser a melhor colecção da Península Ibérica."
"Não podemos mudar isto de um momento para o outro. Talvez sejam necessários dois meses, não sei se estarei a errar", diz Cristina Araújo. "É o nosso trabalho que está em causa." Muitos artefactos armazenados no edifício de Belém do antigo IPA exigem cuidados de tratamento complexos.
Estudos de impacto em risco de parar
Desligar base de dados do ex-Instituto de Arqueologia pode causar atrasos em obras públicas
É pelos responsáveis da sala de inventário do ex-Instituto Português de Arqueologia, onde se actualiza a megabase de dados da investigação arqueológica em Portugal, que são recebidos os estudos de impacto das grandes obras públicas. Estão ali referenciados, ao todo, 26 mil sítios arqueológicos de reconhecido interesse registados em todo o território de Portugal continental. Sofia Gomes, uma das responsáveis por esta base de dados, aponta para o ecrã e pousa o dedo precisamente em cima do traçado do futuro TGV, que aparece no ecrã do computador: "Há um sítio de interesse arqueológico a 32 metros do traçado, no Poceirão." Desligar a base de dados implica atraso nas obras ou risco de perda de património arqueológico. A arqueóloga Jacinta Bugalhão explica o que significa desligar, por um dia que seja, toda a base de dados da investigação arqueológica nacional: "Todos os dias surgem sítios novos. Se isto pára, a arqueologia pára. Sem sabermos para onde vamos, estou a ver isto muito mal parado". Mais extenso que esta base de dados, só o arquivo. "Temos um quilómetro e meio de dossiers. O que está no sistema informático em síntese aqui aparece com toda a informação", explica Bugalhão. A informação começou a ser ali arquivada desde os anos 40. "Mas nos últimos 10 anos explodiu", diz João Mendes, especialista em arqueologia preventiva.
Fonte: Ana MAchado (27 Out 2008). Público.
As unidades de arqueologia que estão nas antigas Oficinas Gerais de Material do Exército onde vai ficar o novo Museu dos Coches, ainda não têm futuras instalações.
O Centro de Investigação Paleo-Ecologia Humana e Arqueo-Ciências (CIPA) e a Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática (DANSA) são duas destas unidades.
O CIPA é dirigido pela especialista em Ana Cristina Araújo. O centro está naquelas instalações desde a década passada. "Começou do zero e é hoje uma referência na investigação, pelas suas colecções únicas na Península Ibérica e até europeias", salientou a especialista em arqueozoologia Marta Moreno que trabalha ali como cientista convidada. Para a cientista, o desaparecimento deste centro representaria um retrocesso na arqueologia portuguesa.
As colecções são constituídas por esqueletos inteiros de várias espécies de animais. Mas também tem herbários, pólens e carvões (materiais calcinados) que servem de comparação aos achados arqueológicos.
Na unidade DANSA é possível impregnar madeiras antigas em soluções aquosas de cera solúvel. A "jóia da coroa" desta divisão, instalada numa antiga oficina de viaturas do exército, são duas pirogas encontradas nas margens do rio Lima, com cerca de 2.300 anos.
"Nós funcionamos como os bombeiros, temos de, às vezes, rapidamente intervir para salvaguardar peças", assinalou Francisco Alves que dirige a DANSA. O arqueólogo afirmou à Lusa que cabe à tutela encontrar um espaço novo, explicando que este "tem de ter as condições mínimas, nomeadamente tanques com certas dimensões".
O espaço tem também uma biblioteca especializada, com 50.000 volumes correspondentes a cerca de 35.000 títulos e que segundo a responsável Fernanda Torquato, uma consulta anual de cerca de 2000 utentes.
O "espólio tem sido aumentado graças às permutas promovida pela revista Arqueologia" e, devido à sua especificidade, não pode ser integrada na Rede de Bibliotecas Públicas "nem absorvida por outra biblioteca", acrescenta a responsável.
A Cordoaria Nacional, na Junqueira, e o Quartel do Conde de Lippe, na calçada da Ajuda, são dois dos espaços que têm sido apontados para albergar estes centros de investigação. Não houve até ao momento confirmação oficial.
Fonte: (31 Jul 2007). Público/Lusa:http://ultimahora.publico.clix.pt/noti
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