Terça-feira, 28.09.10
Candidatas a Património Mundial
Antílopes, girafas ou cobras são alguns dos animais representados com grande clareza nas pinturas que se acredita datarem de há 5000 anos. A descoberta foi efectuada por uma equipa de cientistas britânicos liderada pela arqueóloga Sada Mire, do Instituto de Arqueologia do University College London.
As imagens incluem também um homem a cavalo, pintado há cerca de 4000 anos, naquela que é uma das primeiras representações conhecidas de um caçador montado. Para Sada Mire a qualidade das pinturas é inequívoca: "Estas pinturas estão entre as melhores da pré-história".
Por causa das guerras e das secas, a Somália tem sido um país quase virgem em termos de investigação arqueológica. Precisamente por isso a arte rupestre "encontra-se extraordinariamente bem preservada."
António Martinho Baptista, do Centro Nacional de Arte Rupestre, em declarações ao PÚBLICO, esclarece que na Somália "a investigação é residual", sendo por isso natural que naquele país, como em toda a África, venham a ser descobertos novos sítios arqueológicos. "As pinturas parecem muito frescas - talvez porque a zona, muito quente e seca, permite uma boa conservação." Há outro factor que pode ter contribuído para a sua preservação: "Alguns dos locais descobertos são considerados tabu pelas povoações autóctones."
Quanto à datação das pinturas, o especialista aconselha prudência, porque "a pré-história africana vai até ao século XV, às Descobertas."
A ser certa a datação das pinturas, poderão ajudar a esclarecer aspectos da vida em comunidade naquela zona do globo. Entre eles, em que altura é que começaram a ser domados cavalos em África, algo que ainda é incerto. "Sabemos que a domesticação do cavalo é tardia na Europa, datando da Idade do Bronze, enquanto em África é ambígua."
As conclusões da investigação da equipa britânica liderada por Sade Mire serão publicadas este mês na revista Current World Archaelogy.
Fonte: Vítor Belanciano (20 Set 2010). Público: www.publico.pt/Cultura/encontradas-pinturas-rupestres-na-somalia_1456719
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por noticiasdearqueologia às 19:19
Sexta-feira, 29.01.10
Detectados, na região do Minho, diversos núcleos destruídos ou em risco de destruição.
No Minho, há vários tipos de património arqueológico que estão ameaçados pela intervenção humana e que preocupam os arqueólogos que mais de perto lidam com os achados da região. Guimarães, Braga e Fafe são áreas já sinalizadas.
Dois painéis de gravuras rupestres localizados no jardim de uma moradia em Donim, concelho de Guimarães, foram totalmente destruídos. A denúncia é feita pela Sociedade Martins Sarmento (SMS), instituição cultural da cidade fundada em 1881.
Técnicos da SMS dirigiram-se recentemente ao local, no âmbito da elaboração de uma publicação científica, e encontraram também, parcialmente destruído, um terceiro painel, de maiores dimensões. Foi afectado pela construção de um muro de cimento, enquanto os dois primeiros foram destruídos recorrendo ao balde de uma máquina escavadora. "Construiu-se um muro sobre um dos painéis, mas os outros dois, onde estava o cavalo, foram destruídos. Destruíram-nos com uma retroescavadora", constatou Gonçalo Cruz, arqueólogo da sociedade.
Queixa no Ministério Público
As gravuras mais expressivas, nomeadamente uma representação de um zoomorfo (cavalo), foram destruídas. A referida figura era, até agora, a única conhecida na região. "No painel mais visível, estava bem nítido um cavalo, com a zona do dorso, da crina e do focinho, embora as patas estivessem um pouco apagadas", explicou, ao JN, Gonçalo Cruz.
Verdadeiramente desolador é como a estrutura classifica o cenário encontrado, revelador, de acordo com a instituição, de "um acto de destruição gratuita". Condenando "com veemência" o que considera ser "puro vandalismo", a sociedade refere que em causa estão "representações milenares de incalculável valor científico, patrimonial e simbólico".
A SMS acrescenta que a situação foi comunicada à Câmara de Guimarães e ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR). Além disso, está em equação uma queixa para o Ministério Público para se indagar da intencionalidade da destruição do núcleo rupestre.
Identificado em Novembro de 2006 (e que não constava dos registos do século XIX deixados pelo arqueólogo Francisco Martins Sarmento), o núcleo de gravuras rupestres situa-se no jardim de uma pequena moradia. Desde Fevereiro de 2007, está incluído na carta arqueológica que faz parte do Plano Director Municipal.
A Sociedade Martins Sarmento acrescenta que, das várias vezes que se deslocaram ao local, os técnicos da instituição nunca encontraram o proprietário da moradia, mas explicaram a familiares o valor arqueológico do conjunto.
Contudo, existem na região outros núcleos rupestres diferentes do agora destruído que podem igualmente estar em perigo, mas por motivos distintos. "Há muitos núcleos rupestres ameaçados, mas por factores humanos indirectos. Os incêndios provocam muito calor, que faz estalar as rochas, que, depois, juntando à erosão, as destroem por completo", garantiu o arqueólogo.
Ainda recentemente, os elementos da equipa da SMS se aperceberam de que estava quase a ser perpetrada uma destruição de outro núcleo rupestre junto ao Castro de Sabroso, em Braga, mas aí ainda foram a tempo de salvar o património. "Conseguimos evitar porque detectámos uma terraplanagem e alertámos a Câmara Municipal e o IGESPAR, que depois tomaram as devidas providências", exemplificou.
Também em Fafe paira a ameaça sobre vestígios pré-históricos, que poderão ser destruídos sucumbindo à pressão urbanística. A ATRIUM, uma associação local de defesa do património, refere a existência de um túmulo já soterrado pelo depósito de entulhos clandestinos e outro muito próximo de uma zona habitacional que também pode desaparecer.
Esta associação prepara-se para apresentar, brevemente, um plano de salvação para os monumentos arqueológicos do concelho.
Fonte: Carlos Rui Abreu e Isabel Peixoto (18 Jan 2010) Jornal de Notícias.
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por noticiasdearqueologia às 23:34
Sexta-feira, 15.01.10
A Sociedade Martins Sarmento de Guimarães denunciou hoje, em comunicado, a destruição, na freguesia de Donim, de dois painéis de um núcleo de gravuras rupestres e a destruição parcial de um terceiro.
A direcção da associação adiantou que o núcleo de gravuras foi localizado, em 2006, no fundo do vale que se abre entre o monte da Citânia de Briteiros e o monte de Santa Iria (Póvoa de Lanhoso), "e tem um incalculável valor histórico, científico e arqueológico".
O local foi identificado no jardim de uma pequena moradia da freguesia.
Fonte: (14 Jan 2010). LUSA: http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/10548231.html
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por noticiasdearqueologia às 23:47
Quarta-feira, 30.12.09
Instituto do Património apresentou queixa contra desconhecidos por destruição de gravura com cinco mil anos no Parque Arqueológico do Côa. Ministério Público já está em campo
A destruição de uma pintura rupestre com cinco mil anos, encontrada na aldeia de Malhada Sorda, concelho de Almeida, em 2002, pode vir a ser o primeiro caso de destruição de arte rupestre a chegar a tribunal. O Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) já avançou com uma queixa contra desconhecidos no Ministério Público. E o processo está na fase de inquérito, que poderá ou não ser arquivado.
Isabel Magalhães nem queria acreditar quando chegou à ribeira das casas, numa tarde de passeio com a filha e uma amiga, e viu que a pintura rupestre com mais de cinco mil anos, que tinha descoberto sem querer há sete anos, estava destruída. "Deu-me vontade de chorar", lembra.
A professora de História, que também já foi arqueóloga, não mora longe dali. Vive no centro da aldeia de Malhada Sorda, concelho de Almeida. Um breve carreiro separa a casa daquele lugar da ribeira das casas, onde, passadas as poldras, uma espécie de ponte ancestral, as enormes lajes graníticas alinhadas em anfiteatro abrigam um tesouro raro: um conjunto de pinturas rupestres.
"É um sítio muito bonito", diz sobre o cenário no local, rodeado de granito, cuja extracção é uma das maiores actividades da pequena aldeia. "Quando aqui vim pela primeira vez, achei o lugar muito curioso, com esta forma de palco. Devem ter achado o mesmo que eu há cinco mil anos."
Intencional e cirúrgica
Não é fácil a olhos destreinados escrutinar as linhas milenares que ali pintaram na pedra representando um cervídeo. Os traços que compõem a figura, que poderão ser do período neolítico, foram todos picados, ninguém sabe com que instrumento. Nem porquê. E, acima de tudo, ninguém sabe por quem. Mais à direita permanecem mais pinturas, formas antropomórficas que permanecem intactas.
Há sete anos, quando Isabel Magalhães deu com as pinturas pela primeira vez, alertou o Parque Arqueológico do Vale do Côa. Os técnicos vieram. Não tinham dúvidas de que ali estava um tesouro. Mas, como é normal com os conjuntos de arte rupestre do Vale do Côa, este ali ficou.
Nuno Neto, arqueólogo e natural de Malhada Sorda, diz que a descoberta desta gravura na ribeira das casas, junto a um leito de ribeira, não surpreende: "É um fenómeno mágico, simbólico, o curso da água, para além de ser uma fonte de vida. Os animais matavam ali a sede, daí aparecerem gravuras e pinturas nestes sítios. São uma espécie de altares". Para o arqueólogo, desperdiçou-se, em 2002, a oportunidade de estudar esta pintura por falta de recursos: "Os técnicos que existem não conseguem dar conta do recado".
Este ano, quando deu conta da destruição das gravuras, Isabel Magalhães avisou o Parque Arqueológico do Côa e a junta de freguesia. "Até falaram disto na missa. Este é um assunto da comunidade", lembra a professora, que não tem dúvidas: "Foi uma coisa cirúrgica. Quem o fez sabia o que estava a fazer".
Nuno Neto acrescenta: "Nunca vi um caso de destruição de arte rupestre com esta minúcia. Alguém que não percebesse do assunto não identificaria a pintura tão bem. Não faço ideia do que passou na cabeça da pessoa que destruiu aquilo".
António Martinho Baptista, paleo-historiador, também pensa da mesma maneira: "É uma destruição intencional. Quem lá foi, sabia bem o que estava a destruir". E fala de uma perda irreparável: "É algo irrecuperável. O que se perdeu é o testemunho de uma pintura com mais de cinco mil anos, provavelmente neolítica. É um património antigo que desapareceu", diz o especialista, que afirma: "Se chegar a tribunal, será o primeiro caso. Ainda bem. Pode ser que faça jurisprudência".
Para João Pedro Cunha Ribeiro, subdirector de Arqueologia do Igespar, a melhor maneira de proteger este património é tentar que passe despercebido: "Os patrimónios arqueológicos fora das cidades são todos vulneráveis. Parte da sensibilidade e civismo das pessoas protegê-lo". O responsável lembra alguns casos em que foi usada vedação dos locais arqueológicos, como no lugar do Lapedo, em Leiria, onde em 1998 foi encontrado o esqueleto de uma criança de Neanderthal. "Mas muitas vezes o melhor é mesmo passar despercebido, não chamar a atenção."
João Pedro Cunha Ribeiro conhece outros casos de destruição de arte rupestre mas nenhum chegou a tribunal. Não sabe se os culpados serão revelados ou punidos. "Mas só o facto de avançarmos com o processo, creio que é pedagógico e dissuasor da ocorrência de outros casos."
E, para Nuno Neto, é na sensibilização das populações para a importância deste património que as autoridades devem trabalhar: "É preciso sensibilizar a população para este tipo de património e para o impacto que pode ter na vida das pessoas".
Fonte: Ana Machado (26 Dez 2009). Público.
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por noticiasdearqueologia às 23:02
Domingo, 27.09.09
O sector critica hipótese de abrir espaço à arte contemporânea, como
sugeriu o director do Igespar.
"O Partido Socialista, que em 1996 salvou o património do Côa [as
gravuras rupestres], está agora a pô-lo em risco." O alerta parte de
José Morais Arnaut, presidente da Associação dos Arqueólogos
Portugueses (AAP), numa reacção às declarações do director do
Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico
(Igespar). Em entrevista ao PÚBLICO no dia 23, Elísio Summavielle
defendeu que o Museu do Côa, cuja inauguração está prevista para
breve, deve abrir-se também à arte contemporânea.
"Isso é uma perversão completa do que deve ser a missão principal
daquele museu, que é a de estudar e divulgar um património que é da
Humanidade", diz Morais Arnaud.
Se há 15 anos se tomou a decisão de não construir a barragem e de
salvar as gravuras, o que tornou Portugal "o centro da arte rupestre a
nível mundial", o presidente da AAP não compreende por que é que
depois não se apostou seriamente no Côa, criando um "núcleo de
investigação científica" e fazendo do museu o "motor da divulgação do
património".
Maria Ramalho, arqueóloga e técnica do Igespar, num texto divulgado na
sequência da entrevista de Summavielle, lembra que "este assunto [o
Côa] foi importante para um outro Governo do mesmo partido, a milhares
de anos-luz da situação presente". E critica "as intenções expressas
pelo [actual] Governo de reduzir o património apenas ao seu valor
económico" - numa referência às propostas do Ministério da Cultura
para um modelo de gestão do Museu do Côa com o Estado e privados.
A preocupação é partilhada por Maria José de Almeida, que preside à
Associação Profissional de Arqueólogos (APA): "Estamos muito
preocupados com alguns sinais de que o Estado possa estar a descartar
a responsabilidade [sobre a gestão do Côa] para as instituições
locais". Este é um património "não apenas local ou regional, mas
mundial", e por isso tem que haver "uma regulação" estatal.
Os arqueólogos mostram-se também indignados com as afirmações do
director do Igespar, segundo as quais a contestação à política do
Governo para a Arqueologia seria "localizada". "Isso é uma prova clara
de que [Summavielle] não conhece a realidade", diz Luís Raposo,
director do Museu Nacional de Arqueologia, garantindo que "a
contestação é generalizada".
Maria José de Almeida lamenta que o Governo não tenha querido ouvir os
arqueólogos. "Há um descontentamento por não sermos vistos como parte
da solução". Morais Arnaut explica que o desinvestimento na
Arqueologia começou com o plano de reestruturação da administração
pública (Prace) e a extinção do Instituto do Português de Arqueologia,
que "era uma estrutura leve e flexível e foi integrado [no Igespar]
numa estrutura com um peso burocrático muito maior". O resultado é a
sobreposição de competências entre as direcções regionais de Cultura e
o Igespar, a "falta de meios", e, ao mesmo tempo, "duplicações
inaceitáveis, com esbanjamento de recursos".
Quanto à construção do novo Museu dos Coches, em Belém (que implica a
saída do local de serviços de Arqueologia que vão para a Cordoaria
Nacional), Luís Raposo diz que Summavielle "reconheceu o óbvio: que o
processo está parado". "A questão de fundo mantém-se - avisa -, e é um
problema bicudo para o próximo Governo resolver."
Fonte: Alexandra Prado Coelho (27 Set 2009). Público.
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por noticiasdearqueologia às 22:27
Segunda-feira, 15.06.09
Mais de 700 lajes com arte rupestre foram identificadas nos últimos 11 anos nas margens dos rios Ceira e Alva, transformando aquela área numa «das mais ricas da Península Ibérica», disse o arqueólogo Nuno Ribeiro.
Segundo Nuno Ribeiro, presidente da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA), que sexta-feira apresentou em Seia o resultado de estudos desenvolvidos no âmbito do projecto de investigação "Estudo das Manifestações de Arte Rupestre dos Rios Ceira e Alva", até agora foram estudadas e inventariadas 580 lajes com gravuras rupestres, algumas com mais de dez mil anos, embora estejam assinaladas mais de 700.
«Só com aquilo que conhecemos, acreditamos tratar-se de uma das maiores concentrações de arte rupestre portuguesa e da Península Ibérica», disse o responsável no primeiro encontro de arqueologia promovido pela APIA em Seia, que reuniu cerca de duas dezenas de especialistas nacionais e estrangeiros.
Nuno Ribeiro, que identificou os primeiros núcleos de gravuras há 11 anos, no vale do rio Ceira, contou que «existe arte rupestre identificada, com mais de dez mil anos, a mais de mil metros de altitude, facto que faz desta região uma área extremamente importante, entre a área do rio Tejo, Vila Nova de Foz Côa, e entre o Guadiana, sul da Península de Portugal, com tudo o que se conhece no Norte de Espanha». Adiantou que a arte rupestre estudada estende-se por 11 grandes áreas dos rios Ceira e Alva, em áreas dos concelhos de Seia, Góis, Arganil, Pampilhosa da Serra, Covilhã e Oliveira do Hospital.
Referiu que, «muitas vezes, os núcleos estão concentrados num quilómetro quadrado e há locais onde existem cinco lajes» com gravuras de vários períodos, «desde o final do Paleolítico até aos nossos dias». «Neste momento temos gravuras do tipo zoomorfos, a representação de animais, temos a representação de um auroque a mil metros de altitude, o que é inédito na nossa arqueologia, e temos um conjunto de arte esquemática fabulosa», relatou o arqueólogo, para quem, os achados justificam a criação de um parque arqueológico, considerando que a ser concretizado «toda a região Centro poderá ganhar com isso».
Nuno Ribeiro afirmou que a APIA, de forma isolada, não consegue dinamizar um projecto desta natureza, pelo que «terá que haver vontade política» para o concretizar.
Parque poderá ser pólo de desenvolvimento
Maria Soledad Corchón, arqueóloga da Universidade de Salamanca (Espanha), disse à Lusa que ficou «surpreendida» com os achados arqueológicos existentes na região. «Creio que esta concentração de gravuras rupestres é uma das maiores da Europa», admitiu, salientando que a criação de um parque arqueológico «seria benéfico para Portugal, para Espanha e para o resto da Europa». Esta arqueóloga espanhola observou que um parque que combinasse a vertente arqueológica e paisagística «poderia ser um pólo de desenvolvimento para a região».
Já Cristina Sousa, vereadora com o pelouro da Cultura na Câmara Municipal de Seia, que participou na sessão de abertura dos trabalhos do encontro do dia 5 de Junho, admitiu que existe «um potencial muito vasto que é necessário ter em conta». Garantiu que a autarquia «está atenta a essa situação», mas reconheceu que o projecto do parque arqueológico terá de «passar, forçosamente, por parcerias, quer com outras entidades, quer com outros municípios».
A vereadora lembrou que na freguesia de Vide, no concelho de Seia, por iniciativa da APIA e da autarquia, já está a funcionar um Centro de Interpretação de Arte Rupestre, que tem contribuído para a divulgação daquele património histórico e cultural.
Fonte: (13 Jun 2009). Porta da Estrela: http://www.portadaestrela.com/index.asp?idEdicao=279&id=12267&idSeccao=2569&Action=noticia
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por noticiasdearqueologia às 22:17
Domingo, 31.08.08
Fonte: (28 Ago 2008). A Guarda: http://www.jornalaguarda.com/index.asp?idEdicao=263&id=12906&idSeccao=3264&Action=noticia
O Museu do Côa vai abrir as portas em 2009, quase 15 anos depois da polémica que suspendeu a construção da barragem em Vila Nova de Foz Côa, devido aos protestos de ambientalistas e especialistas em arte rupestre.João Pedro Ribeiro, subdirector do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), referiu que o Museu, cuja primeira pedra foi lançada pela anterior Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, encontra-se “em fase adiantada de construção e a sua inauguração está prevista para uma data ainda a definir em 2009”.Em declarações à Agência Lusa, João Pedro Ribeiro salientou que “o museu será o principal ponto de acolhimento do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC)” que tem como “objectivos essenciais divulgar e contextualizar” os achados e “contribuir para a criação de uma dinâmica cultural na região”.O projecto, num investimento total de 17,5 milhões de euros, é da autoria dos jovens arquitectos portuenses, Tiago Pimentel e Camilo Rebelo, que ganharam o concurso público internacional para a obra ao propôr um edifício com 170 metros de altura, simulando uma “gigantesca pedra” de xisto no betão através do recurso a moldes de silicone, uma técnica já usada pelo PAVC para as réplicas arqueológicas. Segundo o arqueólogo do PAVC Martinho Batista, foram efectuadas apenas quatro réplicas entre as centenas de gravuras encontradas: duas porque estavam submersas e outras por estarem em risco de serem destruídas no próprio habitat. Já a directora do PAVC, Alexandra Lima, justificou a construção do Museu com a “necessidade de uma estrutura complementar de acolhimento para receber grandes grupos”. Agora, disse a responsável, é tempo de concluir o projecto do parque e “promulgar o decreto da sua regulamentação”, consolidando a sua estrutura funcional.Emílio Mesquita, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa e da Associação de Municípios do Vale do Côa, defende que o Museu não deve abrir enquanto não for acertada toda a orgânica envolvida, incluindo a recuperação do troço ferroviário Pocinho - Barca d’Alva. Caso contrário, sustenta o autarca, o projecto corre o risco de “falhar irremediavelmente” nos seus objectivos. “Não podemos confiar nas mãos do Estado uma riqueza que diz respeito a todos nós, em especial aos que vivem por cá, para que daí possa surgir desenvolvimento por si só”, afirmou.
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por noticiasdearqueologia às 11:40
Segunda-feira, 07.04.08
Gravuras de arte rupestre, cuja origem se situará no Período do Calcolítico e Bronze Inicial, foram encontradas num eucaliptal de Vilar de Besteiros, concelho de Tondela, por um caçador, que as manteve em segredo durante 15 anos.
As gravuras, que representarão o culto da fecundidade, só agora foram dadas a conhecer, depois de o caçador ter contado o seu segredo a um professor da Escola Secundária de Tondela, que desde há 20 anos se dedica à investigação do património megalítico.
Em mais um dia de caça, há 15 anos, António Ferreira passou no local onde já tinha estado várias vezes e decidiu sentar-se para descansar, no cimo de uma formação rochosa.
«Primeiro localizei um buraco maior, depois comecei a notar que havia mais aprofundamentos na rocha, levantei as pernas e vi mais», contou, acrescentando que, entusiasmado, se levantou, começou a limpar o musgo que cobria a rocha e viu «que fazia um conjunto».
«Apercebi-me de que poderia haver aqui uma coisa com bastante significado», recordou, enquanto apontava para as gravuras, entretanto já traçadas a giz, que mostram o que parecem ser duas serpentes, uma imagem feminina com um recém-nascido a sair-lhe do ventre e outra masculina a oferecer algo aos deuses.
No entanto, como não conhecia arqueólogos ou alguém que se dedicasse ao estudo destas matérias, achou que o melhor que podia fazer «era guardar em segredo», para que o local «não fosse visitado por vândalos que estragassem uma coisa que, aparentemente, tinha algum significado».
Revelou o segredo apenas a um filho seu, com receio de que lhe acontecesse alguma coisa e «não houvesse um herdeiro conhecedor deste achado», e visitava-o com muita frequência, para ter a certeza de que continuava intacto.
Até que, há poucos meses, Jorge Gomes, professor da Escola Secundária de Tondela, foi ao Centro de Ovinicultura do Tojal Mau, onde trabalhava, para saber informações sobre uma mamoa (monumento megalítico) que aí teria existido, a maior da Região Centro, destruída em 1961.
«Logo naquelas palavras percebi que o senhor professor era a pessoa certa para eu contar o segredo», disse António Ferreira, explicando que, após uma visita, o docente confirmou que se tratava de «um achado excepcional».
O que de imediato chamou a atenção a Jorge Gomes foi uma das serpentes - com a cabeça a terminar em «covinha» (cup-marks ou fossettes) - que simboliza a sexualidade e a fecundidade feminina.
Parte das gravuras já terá estalado devido ao calor e à chuva, mas, na sua opinião, o que resta deste exemplar de «arte naturalista» não deixa dúvidas.
«Estas gravuras representam o culto da fecundidade, pela posição das imagens», afirmou, esclarecendo que a imagem masculina supostamente estaria a oferecer aos deuses, em agradecimento pelo nascimento, um machado, que seria um dos objectos mais importantes da época.
No período do Calcolítico e Bronze Inicial, as pessoas continuavam a viver da pastorícia e da agricultura, mas começavam a aparecer os primeiros metais, como o cobre e o bronze, e, com eles, surgia a diferenciação social.
Além das «covinhas» nas cabeças das serpentes, há outras isoladas, que, «ainda que não haja unanimidade sobre o que representam, podem ser delimitações geográficas ou de santuários, de pontos onde se pode ir para zonas transcendentais».
O docente identificou o período em que terão sido feitas as gravuras, que foi recentemente confirmado por um especialista do Parque Arqueológico do Vale do Côa que visitou o local.
«Este tipo de imagem é extremamente raro neste período. Geralmente aparecem cenas de caça, de equitação, ligadas à agricultura, mas relativamente ao culto da fecundidade é extremamente raro», frisou.
Defende, por isso, que se trata de uma descoberta «extremamente importante não só em termos da arte da Europa Atlântica, como inclusive da arte galaico-portuguesa, também denominada noroeste peninsular».
Segundo Jorge Gomes, «este achado legitima e confirma o que os especialistas têm defendido: que estas civilizações davam uma importância extrema ao culto da fertilidade».
O estudioso considera que o local foi escolhido para fazer as gravuras pelo tipo de pedra, «extremamente fácil de trabalhar», e também por esta estar ligeiramente em declive e ter uma vegetação rasteira, com o Rio Dinha ao fundo.
«Poderia, eventualmente, servir para santuário devido à sua morfologia. E, inclusive, está direccionada para leste, ou nascente, o que prova, em parte, o culto solar», explicou, acrescentando que «as pessoas podiam ter acesso a estas gravuras, que seriam facilmente localizáveis nas primeiras horas do dia».
Jorge Gomes disse já ter feito algumas descobertas arqueológicas na região, como várias mamoas, mas nunca ter encontrado algo desta importância.
O achado já foi dado a conhecer aos serviços regionais do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) e à Câmara Municipal de Tondela, que prometeram preservá-lo e «fazer um estudo exaustivo ao local».
Até lá, António Ferreira e Jorge Gomes fazem questão de tapar o painel com folhas de eucalipto sempre que terminam a visita, temendo que os vândalos descubram o local, porque, como justifica o professor, «a população ainda não está inteiramente educada e não compreende o valor que (o achado) tem».
Fonte: (7 Mar 2008). Lusa / SOL: http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=87855
Notícia relacionada: Ana Filipa Rodrigues (28 Mar 2008). Jornal do Centro: http://www.jornaldocentro.pt/?lop=conteudo&op=dc912a253d1e9ba40e2c597ed2376640&id=37c77fc83549b5204e788fb979887c92
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por noticiasdearqueologia às 12:15
Quarta-feira, 21.11.07
O elegante cavalo de duas cabeças, o auroque, os veados, cabras, e outras espécies do bestiário paleolítico, gravados há mais de 15 mil anos na rocha nº 1 do sítio do Fariseu, submersos nas águas da barragem Pocinho, vão entrar no futuro museu do Côa. Sabem nadar, afinal, estas gravuras. Mas não voam: é uma réplica da rocha que seguirá viagem, à procura do novo abrigo.
Em 1999 quando foi descoberta a rocha nº1 do sítio do Fariseu, após a descida das águas da barragem, os arqueólogos anunciavam um dos mais importantes achados do Vale do Côa. No painel de xisto, submerso durante anos, irrompiam dezenas de gravuras de grande beleza. Mas o mais surpreendente surgia durante as escavações: junto à rocha aparecem vestígios de habitat humano.
Pela primeira vez, no imenso Vale do Côa, Património da Humanidade, o homem pré-histórico e o seu imaginário artístico (as gravuras e placas de arte móvel) são encontrados no mesmo local. Fica a saber-se, a partir dessa altura, que a história do Côa é ainda mais remota.
Breve a alegria da descoberta. Quinze dias depois, a equipa de arqueólogos dirigida por António Martinho Baptista envolvia a rocha com uma tela a branca, para a proteger, e volta a aterrar as valas de prospecção em redor. Pouco depois, as águas da barragem do Pocinho subiam e sepultavam as gravuras.
Há dois anos, lembra António Marinho Baptista, a barragem voltou a descer e foi possível continuar por alguns dias as escavações no sítio do Fariseu. Agora, porque se trata de uma das quatros painéis que vão aparecer no Museu de Arte e Arqueologia do Côa, em construção na foz deste rio, a EDP baixou o nível da barragem para ser feita a réplica da rocha.
Desde a semana passada, e até ao final do mês, a equipa do Parque Arqueológico do Côa, composta por onze elementos, continua as escavações no local e volta retirar a terra em redor da rocha de xisto, que tem cerca de cinco metros quadrados. "Para além da beleza artística das gravuras", diz António Marinho Baptista, a rocha do Fariseu "é a única" em todo o Vale do Côa "onde existe um relação directa entre as gravuras e camadas arqueológicas que que a selavam". Por essa razão, em forma de réplica, integrará o espólio artístico do Museu do Côa, que deverá ficar concluído durante o verão do próximo ano.
Além da réplica de rocha, que contém cerca de uma centena de gravuras sobrepostas, com mais de 15 mil anos, o sítio de Fariseu - que ficará de novo submerso a partir do final do mês - terá ainda em exposição algumas das placas de arte móvel: pequenas pedras gravadas, que apresentam mesma marca artística encontrada nas rochas do vale.
In: Francisco Mangas (21 Nov 2007). Diário de Notícias: http://dn.sapo.pt/2007/11/21/tema/bestiario_paleolitico_volta_a_luz.html
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por noticiasdearqueologia às 22:41
Terça-feira, 13.11.07
A “rocha nº1” do Sítio do Fariseu é uma espécie de sortido de todas as figuras que se podem encontrar no Vale do Côa. Numa operação conjunta com a EDP, as águas do Rio Côa vão descer para que a equipa do Parque Arqueológico possa fazer uma réplica, a integrar o futuro Museu do Côa As águas do Rio Côa vão baixar a partir de amanhã para que possa ser feita uma réplica da "rocha nº 1" do Sítio do Fariseu. "É uma das mais importantes do Parque Arqueológico do Vale do Côa", anunciou Martinho Baptista, director do Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART), ali sedeado. Numa operação acordada com a EDP e que segundo Martinho Baptista "é rara", o nível das águas vai baixar cerca de três metros, permitindo às equipas do Parque Arqueológico realizar uma cópia que vai integrar o futuro Museu do Côa.
"Já fomos avisados que o nível vai começar a baixar quarta-feira. É preciso esperar alguns dias e depois os trabalhos podem avançar", o que deverá acontecer na próxima semana, refere.
Segundo explicou, a EDP vai controlar a descida das águas com as comportas da barragem do Pocinho, no Rio Douro. A "rocha nº1" costuma estar submersa a três metros de profundidade e é uma das mais importantes do parque. "Tem 86 gravuras rupestres, parte das quais estiveram tapadas com sedimentos desde o paleolítico, o que permitiu fazer uma boa datação", destaca Martinho Baptista. De acordo com aquele responsável, as gravuras têm mais de 20 mil anos e a rocha junta um pouco de todos os tipos de figuras que se podem encontrar no Vale do Côa.
Por outro lado, a qualidade das gravuras, "é o melhor exemplo de discurso arqueológico do Côa", pela diversidade e divisão em diferentes ciclos.
UMA SEMANA DE TRABALHO
"A partir do momento em que esteja concluída a descida das águas, precisamos de uma semana para trabalhar", refere, acrescentando que a oportunidade vai ser aproveitada para serem feitas escavações no local. Sem precisar meios humanos e materiais, Martinho Baptista garante, no entanto, que "todo o pessoal do parque arqueológico está mobilizado para esta operação".
O equipamento a usar para a realização da réplica está em análise, mas "em princípio deverá ser feita recorrendo a equipamento laser, para garantir a máxima precisão e evitar que se toque na rocha", conclui.
Notícia continua in: (13 Nov 2007). Diário XXI: http://diarioxxi.com/?lop=artigo&op=34173cb38f07f89ddbebc2ac9128303f&id=a7c3525b2c5e24f3f212246ee3a64b6d
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por noticiasdearqueologia às 21:12