Terça-feira, 01.09.09
Pinto Ribeiro propôs, no Côa, três modelos diferentes para a instituição que irá gerir o parque e o museu
O ministro da Cultura anunciou ontem a criação de uma sociedade anónima para gerir o Parque e o novo Museu do Côa, que deverá integrar dez municípios, quatro ministérios e um número indeterminado de privados. "Espero conseguir consensualizar com as câmaras municipais que compõem a Associação de Municípios do Vale do Côa, com os agentes económicos do vale do Côa e com os departamentos do Estado envolvidos uma solução até final de Outubro", disse José António Pinto Ribeiro, citado pela Lusa, após a visita ao museu, cuja inauguração, previu, deverá ocorrer no início de Outubro, após as eleições legislativas.
O ministro, que terminou ontem uma deslocação de dois dias ao vale do Côa, onde visitou alguns núcleos de gravuras e se inteirou do andamento dos trabalhos no museu, começou por sugerir uma solução tripartida, que englobaria os Ministérios da Cultura e do Ambiente e as dez autarquias da região. Mais tarde acrescentou ao lote o Ministério da Economia, o que o obrigou a redistribuir as quotas a atribuir a cada parceiro, que passariam a ser 30 por cento para o Ministério da Cultura, outros 30 para o conjunto das autarquias e, finalmente, 20 por cento para cada um dos outros dois ministérios.
Antes de deixar o Côa, Pinto Ribeiro propôs, finalmente, uma terceira solução, esta com uma arquitectura um pouco mais ampla: as autarquias e uma sociedade de privados (que, naturalmente, ainda não existe) teriam, em conjunto, 50 por cento das quotas, cabendo os restantes 50 por cento ao Estado, através dos quatro ministérios que o titular da Cultura gostaria de envolver no projecto e que, segundo afirmou, estão "dispostos a isso".
O ministro insistiu também que a gestão executiva deveria caber, sobretudo, aos agentes locais. "Isto é vosso, e se não for feito por vocês, e apropriado pelas pessoas daqui, não será nada", sublinhou.
O prazo que o governante prevê para a constituição formal da futura sociedade de gestão do museu e do vale do Côa é de seis meses. Ou seja, na próxima legislatura. Durante esse período, o ministro admite "uma solução puramente provisória, para permitir a abertura do museu".
A actual responsável do Parque do Côa, a arqueóloga Alexandra Cerveira Lima, não comentou em detalhe as novas perspectivas que se abrem para a instituição que dirige, mas destacou "o papel central que uma estrutura como o Museu do Côa , desde que dotada de uma equipa sólida e de uma programação criativa, poderá desempenhar na dinamização da região e na internacionalização da arte do Côa, fazendo jus ao seu valor patrimonial e científico de dimensão mundial".
Manuel Maria Carrilho, o ex-ministro da Cultura que lançou o projecto do Parque do Côa e a sua bem-sucedida candidatura a Património Mundial, mostra-se perplexo com as medidas que o seu sucessor ontem anunciou. "O momento parece-me impróprio, atendendo ao contexto quase eleitoral em que estamos, os objectivos são insólitos, à luz das exigências de protecção de um património mundial, e toda essa conversa das percentagens parece-me também um bocado obscura", afirmou Carrilho. O actual embaixador de Portugal na UNESCO recorda ainda que "o Estado português assumiu compromissos muito claros em relação ao raríssimo e valiosíssimo património paleolítico do Côa" e sublinha que a maior parte dos sítios que hoje correm riscos de desclassificação o devem, justamente, a questões relacionadas com os respectivos modelos de gestão.
Carrilho reconhece que o Côa tem "problemas evidentes", mas assaca-os ao "abandono a que o projecto foi votado a partir de 2001", lembrando que "o parque tem hoje metade dos guias de que dispunha nessa data, quando o que estava previsto era ter o quádruplo", e que a sua frota de jipes nunca foi renovada. "É isso que deve ser alterado", diz, "mas sem que o Estado se demita de responsabilidades que em exclusivo lhe cabem".
Fonte: Luís Miguel Queirós (30 Ago 2009). Público.
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por noticiasdearqueologia às 23:26
Quarta-feira, 10.12.08
Nos 10 anos da classificação do Vale do Côa como Património Mundial da UNESCO, é o modelo de gestão deste território que importa concretizar, afirma a directora do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), Alexandra Cerveira Lima.
Com o Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa prestes a abrir portas, já em 2009, dando assim corpo ao compromisso formal assumido pelo Estado Português com a UNESCO e a Região, Alexandra Cerveira Lima, aguarda por um modelo de gestão territorial, que vai muito mais além do futuro museu.
"O Parque Arqueológico terá de ser formalmente criado através da promulgação de um Decreto Regulamentar - como nos parques naturais -, definindo quais as suas competências no contexto do território que delimita, bem como nos objectivos específicos a que se propõe", afirma.
Apesar de concordar ser agora o "momento oportuno" para as decisões "que o Museu, como estrutura complementar do PAVC, vai obrigar a tomar", Alexandra Cerveira Lima diz que "é tempo de concluir o projecto do parque" e "consolidar a sua estrutura funcional".
"O museu cumpre a função de centro de acolhimento e de interpretação de toda uma região, mas o território do parque em si mesmo, que se define como um vasto museu ao ar livre, terá de se manter monitorizado, conservado, investigado, fruído e visitado, com as populações que o habitam", insiste.
Actualmente o PAVC, "sem capacidade de actuação no território e sem autonomia", tem uma despesa corrente de cerca 750 mil euros ano, "em que pesam até um terço do orçamento os serviços de guardaria", correspondendo aos 11 guardas que se revezam pelos três núcleos de visitação pública.
"O PAVC aguarda igualmente um novo modelo jurídico e administrativo que lhe permita autonomia e decisão nas parcerias públicas e privadas, que são essenciais para os cenários de desenvolvimento desta região", conclui Alexandra Cerveira Lima.
Em 1996 foi criado o PAVC e, um ano depois, entregue ao então governo de António Guterres um relatório científico, que viria a confirmar a importância dos achados paleolíticos no Vale do Côa, fixando assim, os 17 quilómetros do curso final do rio Côa e um território `tampão` de cerca de 20.000 hectares.
Já poucos se recordam, passados 14 anos, daquela "revelação" que transformou definitivamente os destinos da arqueologia portuguesa, num "processo revolucionário arqueológico em curso", recorda Alexandra Cerveira Lima.
"Na sequência do qual foi igualmente decidido autonomizar a arqueologia com a criação de um instituto, cujo primeiro director foi arqueólogo João Zilhão, bem como o projecto de candidatura do território do Vale do Côa à Lista do Património Mundial da UNESCO", salienta.
A elevação do vale a Património Mundial sonhava-se ainda sob a forma de relatório ao Comité do Património Mundial da UNESCO até que, em 1997, o seu director-geral, Federico Mayor, visita as gravuras da Penascosa, deixando desde logo antever a sua classificação.
Adquiridos em 1996, os guias e os jipes para "o começo de uma estrutura de visitação pública", o Parque Arqueológico foi-se "adaptando ele próprio à posterior criação de legislação", quando essa "figura legal não estava ainda contemplada", definição que chega apenas em 2001 e 2002.
Para a directora do PAVC, o Parque e o Museu do Côa são ainda realidades pouco claras na sua natureza, para a opinião pública geral, e cujo modelo de gestão e a definição de paternidade está ainda por registar.
Fonte: (5 Dez 2008)Lusa/Fim: http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=376447&visual=26&tema=5
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por noticiasdearqueologia às 18:48
Segunda-feira, 25.08.08
O Museu do Côa vai abrir as portas em 2009, quase 15 anos depois da polémica que suspendeu a construção da barragem sobre o Côa devido aos protestos de ambientalistas e especialistas em arte rupestre.
Segundo João Pedro Ribeiro, subdirector do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), o Museu do Côa, encontra-se "em fase adiantada de construção e a sua inauguração está prevista para uma data ainda a definir em 2009", depois de um investimento total de 17,5 milhões de euros.
Em declarações à Agência Lusa, João Pedro Ribeiro salientou ainda que "o museu será o principal ponto de acolhimento do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC)" que tem como "objectivos essenciais divulgar e contextualizar" os achados e "contribuir para a criação de uma dinâmica cultural na região".
O projecto é da autoria de uma dupla de jovens arquitectos portuenses, Tiago Pimentel e Camilo Rebelo, que ganhou o concurso público internacional para a obra ao propor um edifício com 170 metros de altura, simulando uma "gigantesca pedra" de xisto no betão através do recurso a moldes de silicone, uma técnica já usada pelo PAVC para as réplicas arqueológicas.
Segundo o arqueólogo do PAVC Martinho Batista, foram efectuadas apenas quatro réplicas entre as centenas de gravuras encontradas, duas porque estavam submersas e outras por estarem em risco de serem destruídas no próprio habitat.
Já a directora do PAVC, Alexandra Lima, justificou a construção do museu com a "evidente a necessidade de uma estrutura complementar de acolhimento para receber grandes grupos".
Agora, é tempo de concluir o projecto do parque e "promulgar o decreto da sua regulamentação", consolidando a sua estrutura funcional.
Por seu turno, Emílio Mesquita, presidente da Câmara de Foz Côa e da Associação de Municípios do Vale do Côa, defende que o museu não deve abrir enquanto não for acertada toda a orgânica envolvida, incluindo a recuperação do troço ferroviário Pocinho - Barca d'Alva.
Caso contrário, o museu corre o risco de "falhar irremediavelmente" nos seus objectivos, sustenta o autarca, que quer o envolvimento da população local no projecto.
"Não podemos confiar nas mãos do Estado uma riqueza que diz respeito a todos nós, em especial aos que vivem por cá, para que daí possa surgir desenvolvimento por si só", afirmou o autarca desta região 'entalada' entre os rios Douro e Côa, junto àquela que alguns denominam "fronteira do subdesenvolvimento".
A história deste processo é longa mas teve como ponto alto Outubro de 1995 quando o Governo de António Guterres ordenou a suspensão da construção da mega-barragem na Foz do Côa devido às pinturas rupestres encontradas, entretanto classificadas pela UNESCO como Património da Humanidade.
Com a identificação de diversos núcleos de gravuras e depois de vários protestos e debate público, nasceu o parque arqueológico que se proclamou como o maior museu do mundo ao ar livre do Paleolítico.
As gravuras são conhecidas desde sempre por pastores locais mas os holofotes nacionais da fama só lhes foram dirigidos depois dos trabalhos do agora IGESPAR, através do arqueólogo Nelson Rebanda, após ter identificado a denominada rocha da Canada do Inferno.
A construção da barragem foi interrompida e a EDP foi indemnizada em muitos milhões de euros mas o esqueleto da obra, ainda inacabada, permanece na paisagem, como marca visível da polémica.
Fonte: Daniel Gil (24 Ago 2008). Expresso-Lusa/Fim: http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/393840
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por noticiasdearqueologia às 18:43
Quinta-feira, 15.11.07
Documentário do realizador francês Jean-Luc Bouvret teve ante-estreia na Cinemateca "Côa: o rio das mil gravuras" é um documentário do realizador francês Jean-Luc Bouvret. A ante-estreia, na Cinemateca, em Lisboa, contou com a presença da ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima.
"Côa: o rio das mil gravuras" percorre a arte rupestre. Uma descoberta no início dos anos 90 que suspendeu a construção da barragem no rio Côa. O documentário foi feito no ano passado por Jean Luc Bouvret. Uma co-produção luso-francesa, que recebeu em 2004 um subsídio de 40 mil euros do antigo ICAM e conta com a colaboração de especialistas portugueses e estrangeiros.
Parece que as gravuras, património mundial da UNESCO desde 1998, têm mais visibilidade no estrangeiro do que em Portugal. O documentário foi premiado num festival francês pelo seu contributo científico. Uma riqueza que não é acompanhada a nível comercial. Sem um desenvolvimento da região, o número de visitantes do Parque Arqueológico de Foz Côa tem caído a pique. Quando abriu, em 1996, tinha 20 mil visitantes por ano; recebe agora 14 mil.
O actual governo quer recuperar o tempo perdido. Em 1998, o então ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, anunciava a construção de um museu de arte e arqueologia do Côa, que abriria em 2001. Sucederam-se governos socialistas e do PSD e só no início deste ano é que o museu começou a ser construído.
O Ministério da Cultura está a fazer contactos para mobilizar apoios privados para a envolvente do novo Museu do Côa.
In: (15 Nov 2007). SIC, on line: http://sic.sapo.pt/online/noticias/cartaz/20071115coa.htm
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por noticiasdearqueologia às 22:46
Terça-feira, 06.11.07

In: (3 Nov 2007). Expresso (. edição papel)
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por noticiasdearqueologia às 18:31
Domingo, 12.08.07
As 5.000 gravuras rupestres identificadas na margem espanhola do Guadiana, perto de Cheles, deram origem à primeira monografia sobre os impactes de Alqueva no património arqueológico de Espanha, obra que inclui um CD-ROM com o seu inventário integral.
O livro «Arte Rupestre en la Cuenca del Guadiana - El Conjunto de Grabados del Molino de Manzánez (Alconchel-Cheles)», da autoria do arqueólogo espanhol Hipólito Collado Giraldo, foi hoje lançado, em Badajoz (Espanha). A edição é da responsabilidade da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de Alqueva (EDIA) e consiste no quarto volume da Colecção Memórias d'Odiana, que visa a divulgação dos estudos arqueológicos relacionados com o empreendimento.
«Apesar das gravuras terem sido submersas, o que já sabíamos que iria acontecer, e nada substitua o original, qualquer pessoa, através desta base de dados, pode ter acesso ao desenho, descrição, fotografia e localização no Guadiana de cada um desses exemplares de arte rupestre», frisou.
As gravuras rupestres da margem espanhola do rio Guadiana, concentradas numa área de cerca de um quilómetro, perto do moinho de Manzánez, foram descobertas no Outono de 2000 e estudadas entre Janeiro e Outubro do ano seguinte.
Pouco tempo depois desse achado, já em 2001, foram também encontrados, do lado português do Guadiana, mais exemplares de arte rupestre, dos períodos neolítico e calcolítico, que foram igualmente estudados, tendo sido inventariadas cerca de 200 rochas.
As gravuras na zona espanhola, ainda assim, foram logo consideradas pelos especialistas como um «núcleo fabuloso», tendo António Carlos Silva realçado hoje que, além de se concentraram «numa área muito restrita», têm «grande amplitude cronológica».
«É o mais interessante e estranho, porque temos as gravuras rupestres propriamente ditas, desde o paleolítico superior, passando neolítico e calcolítico, até representações da Idade do Ferro, do período romano e dos séculos XV e XVI», explicou.
Mesmo os moleiros que passaram pelo moinho, «ao longo dos séculos, gravaram nas paredes e nas rochas as suas próprias mensagens, nos mesmos locais onde estavam as gravuras».
«Desde os 20 mil anos antes de Cristo (a.C.) até aos nossos dias, os diversos habitantes foram fazendo gravuras, com objectivos diferentes, mas como se aproveitassem a memória de um local especial», defendeu.
As 5.000 gravuras na margem espanhola do Guadiana, divididas em 570 núcleos, cada um com vários painéis, representam, consoante a época, animais, figuras humanas, cenas da vida dos povos, armas, entre outros motivos.
(27-04-2007). Diário Digital / Lusa
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por noticiasdearqueologia às 23:02