Numa cidade prenhe de vestígios arqueológicos, em que cada cavadela provoca, pode dizer-se, o aparecimento de testemunhos da identidade coimbrã, causava-nos estranheza a Câmara Municipal não possuir uma secção ou um gabinete de arqueologia. Apenas duas arqueólogas e mais outra contratada a prazo, executavam trabalhos arqueológicos quando chegámos à Autarquia. As arqueólogas desenvolviam alguma actividade neste domínio de absoluta necessidade em que é imprescindível acompanhar as obras e recolher os objectos, peças, ossários e outros prováveis vestígios provenientes das áreas escavadas do território citadino, exemplo dos trabalhos arqueológicos no Mercado D. Pedro V, em 1999. A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra colaborava, segundo nos disseram (como acontece actualmente), quando solicitados, mas os seus professores, devido à docência, não podiam, nem podem, oferecer a qualquer momento os seus contributos para as obras em curso. No manifesto eleitoral da maioria do Executivo indicava–se a criação do Gabinete de Arqueologia, Arte e História (GAAH), uma ambição antiga da nossa pessoa, e, logo no ano de 2002, o Presidente, Dr. Carlos Encarnação, deu acordo a uma proposta, que foi aprovada no Executivo e na Assembleia Municipal. O sonho tornou–se realidade. A criação deste Gabinete reflectiu a preocupação de planeamento e gestão territorial, devidamente estruturada e com meios adequados, à crescente necessidade de conhecimento patrimonial. A área urbana, sobretudo, onde a topografia estava a ser alterada pelas obras da Autarquia, e exigia um acompanhamento por arqueólogos e antropólogos. O quadro de pessoal foi formado, então, por cinco arqueólogos e uma antropóloga e, posteriormente, com uma técnica de desenho arqueológico, um técnico de conservação e restauro, um técnico de História da Arte, uma assistente administrativa e quatro trabalhadores indiferenciados. O GAAH instalado, inicialmente, no Gabinete do Centro Histórico, transitou para o Pátio da Inquisição, onde acompanhou as obras ali efectuadas, e, mais tarde, para a Casa Municipal da Cultura, fixando–se depois na Casa da Escrita. Todos os trabalhos realizados até hoje e que são dezenas e dezenas, partilhados por outros Departamentos da Autarquia (equipas multidisciplinares) estão associados, sobretudo, a programas de recuperação arquitectónica e a reabilitação da malha urbana da cidade e dos centros históricos e arqueológicos das freguesias rurais e periféricas. Além das escavações, sondagens e acompanhamento arqueológico em diferentes espaços da cidade e do concelho, de que sublinhamos a Igreja de Santo António dos Olivais e espaços envolventes, Praça do Comércio, Pátio da Escola de Almedina, Rua Velha e Travessa da Rua Velha, Teatro da Cerca de S. Bernardo, Terreiro da Erva, sítio arqueológico de S. Martinho de Árvore, Arco de Almedina, Beco da Imprensa, Couraça da Estrela, Beco das Cruzes, Casa das Canetas, Cerca de São Bernardo, Couraças de Lisboa e dos Apóstolos, Edifício do Turismo, Escadas de Santa Justa e de Montarroio, Ladeira das Alpenduradas, Largo da Fornalhinha, Largos da Sé Velha e de São Salvador, ruas Direita, Fernandes Tomás e Joaquim António de Aguiar, Travessa dos Gatos, cemitério “visigótico” de Souselas, implementação do Marco do Botão, levaram-se a efeito restauros de bustos, pedestais e estátuas, recuperação de azulejos, restauro de capelas, de imagens e de talha, identificação do espólio recolhido (cerâmica, moedas, artefactos em ferro e vidro), recuperação de fontes, estucagens de arcos, restauro da muralha, etc. Relatórios científicos para aprovação do IGESPAR (ex–IPA), desenho, inventário da carta arqueológica do concelho, do património construído classificado e de interesse municipal e do levantamento artístico (operações em curso) e participação no futuro PDM, e colaboração em estudos e trabalhos diversos com instituições públicas e privadas e individuais, respondem às funções inerentes e praticadas pelo Gabinete de Arqueologia, Arte e História da Câmara Municipal de Coimbra. A legislação sobre a salvaguarda, valorização e inventariação do património arqueológico, arquitectónico, histórico e ambiental, vertida nos últimos anos, exige um gabinete apto a responder a todos os desafios. Por isso, o GAAH acompanha e defende a identidade cultural de Coimbra e do concelho. In: Mário Nunes (3 Nov 2007). Diário as Beiras: http://www.asbeiras.pt/?area=opiniao&numero=51413&ed=02112007 | |