O arqueólogo José d'Encarnação lançou um abaixo-assinado manifestando a sua preocupação quanto ao futuro de serviços do extinto Instituto Português de Arqueologia (IPA), nomeadamente a biblioteca e o arquivo, que reuniu numa semana cerca de mil assinaturas.
A biblioteca e arquivo do ex-IPA encontram-se instalados provisoriamente desde a década de 1990 em antigas instalações militares na Avenida da Índia, junto a Belém, Lisboa, cujos terrenos deverão albergar o novo Museu dos Coches.
José d'Encarnação disse à Lusa que, segundo o novo plano para a frente ribeirinha lisboeta, até 01 de Setembro "aqueles edifícios têm de ser deitados abaixo, não se vislumbrando para onde irá a maior biblioteca especializada de arqueologia do país e o arquivo onde se guardam os materiais descobertos e relatórios das escavações".
João Pedro Cunha Ribeiro, subdirector do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) que integra os serviços do extinto IPA à luz do PRACE (Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado), afirmou à Lusa que está "atento ao problema".
"Acompanhamos com preocupação um problema que afectará serviços essenciais do IGESPAR, que não tem autoridade para encontrar novas instalações", afirmou.
O responsável afirmou que "não há nenhuma informação oficial de que se tenha de sair a 01 de Setembro".
Para Cunha Ribeiro, "mais preocupante e a exigir uma prioridade maior é a instalação do Arquivo de Arqueologia".
O Arquivo, além da documentação em papel, armazena matérias das escavações e tanques "onde se guardam em água, com produtos específicos, certos materiais".
"Há ainda um laboratório e tudo isto tem de ser instalado em condições", acrescentou.
"Há escavações a decorrer todos os dias que não se podem fazer parar por decreto e este arquivo é a salvaguarda da arqueologia nacional", sublinhou.
O responsável adiantou à Lusa que estão a ser estudadas hipóteses, "que garantam um espaço com dignidade e centralidade".
A Biblioteca resultou da cedência em regime de comodato pela Alemanha, aquando da extinção da delegação em Lisboa, à avenida da Liberdade, do Instituto Arqueológico Alemão, em 1999.
Cunha Ribeiro afirmou que "a tutela está a par da situação" e que nada está em risco, pois "a biblioteca será reinstalada num espaço que surgirá".
"Sabemos que a biblioteca é muito utilizada, por várias razões e não só por arqueólogos como público interessado e estudantes universitário e tem de ter necessariamente centralidade", disse.
O subdirector do IGESPAR afirmou "compreender a preocupação dos arqueólogos", mas garantiu "que não está em risco o desaparecimento da biblioteca".
Outra questão que preocupa os arqueólogos é a possível extinção da Revista de Arqueologia. Porém, Cunha Ribeiro afirmou que "terá de ser repensada, mas não terminará".
O responsável afirmou que "há que fazer restrições por questões orçamentais e voltar talvez ao seu modelo inicial, mais modesto".
A revista, segundo José d'Encarnação "permitia aos arqueólogos darem a conhecer os seus trabalhos e era permuta com outras bibliotecas e universidades estrangeiras, que enriqueciam a Biblioteca de Arqueologia".
Fonte: (7 Jun 2008). Lusa:
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/b1776ec3a6e202e4835d4d.html#page=1