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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
A EDP negou, em declarações à Lusa, ter adiado qualquer trabalho arqueológico no vale do Sabor para não atrasar o início da construção da futura barragem, insistindo ainda em reafirmar que "não adjudicou nem teve intenção de adjudicar à Ecossistema qualquer trabalho de sondagens e escavações, pelo que nenhum concurso ou consulta foi suspensa”. Mas é a própria Ecossistema, a empresa que juntamente com a Agri.Pro Ambiente realizou o Estudo de Impacte Ambiental da obra, que desmente a eléctrica nacional.
A EDP é desmentida pelas empresas envolvidas no Estudo de Impacte Ambiental
Numa carta que enviou ao PÚBLICO esclarecendo o seu envolvimento neste processo, a Ecossistema diz o seguinte: “Em Fevereiro de 2007, em plena fase de avaliação do RECAPE (Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução) – procedimento que faz parte da Avaliação de Impacte Ambiental de projectos, conforme o Decreto-Lei nº 69/2000, republicado pelo Decreto-Lei nº 197/2005 – a Ecossistema preparou para informação da dona da obra, a EDP, uma consulta, e não um concurso formal, a três empresas de arqueologia para apresentação de condições (nomeadamente prazos e preços) para a execução de sondagens arqueológicas e de levantamentos arquitectónicos dirigidos aos elementos patrimoniais identificados nos trabalhos realizados no EIA e no RECAPE do Baixo Sabor”. Ainda de acordo com a mesma informação, o propósito desses trabalhos era o de “permitir ter dados substantivos para discutir a oportunidade e a viabilidade da realização desde logo desses trabalhos”.
As três empresas consultadas apresentaram as suas propostas, mas, como acrescenta a Ecossistema, “no decurso da avaliação então a decorrer, acabou a EDP, de acordo com as entidades de tutela do património cultural, nomeadamente como resultado de uma reunião entre estas entidades organizada pela Agência Portuguesa do Ambiente, em Março de 2007, por entender promover os referidos trabalhos na chamada “fase de obra”, ou seja, durante os vários anos que demorará a construção da barragem, integrados com vários outros trabalhos de intervenção patrimonial igualmente definidos no RECAPE ou exigidos pela Comissão de Avaliação. Por essa razão, não teve essa consulta qualquer sequência”.
O principal levantamento dos bens patrimoniais existentes na zona que irá ser submersa tinha sido feito em 2005 pela ERA Arqueologia, uma das empresas que respondeu à consulta da EDP promovida através da Ecossistema (esta firma foi apenas intermediária no processo). Mas já depois desse estudo foi revelada a existência de gravuras rupestres que ainda não eram conhecidas.
Fonte: Pedro Garcias (19 Ago 2008). Público: http://ultimahora.publico.clix.pt/notici
Construção de empreendimento hidroeléctrico
A construção do Empreendimento Hidroeléctrico do Sabor vai implicar uma gigantesca tarefa de levantamento e salvaguarda de bens patrimoniais, só comparável ao que aconteceu com a barragem do Alqueva. Ao longo do regolfo de 56 quilómetros que vai ser criado com a barragem principal foram identificados cerca de duas centenas de sítios de interesse patrimonial.
Três desses sítios são considerados de valor excepcional (gravura rupestre paleolítica do ribeiro da Sardinha, conjunto arqueológico-etnográfico de Cilhades e povoado fortificado da Idade do Ferro de Castelinho, junto de Cilhades), 13 com valor muito elevado e 20 de valor elevado.
Várias pontes, como as de Remondes e do Sabor, serão alvo de obras de reforço para ser submersas; uma ou outra gravura rupestre das várias que foram descobertas no Sabor poderão ser recortadas e trasladadas para outro local; e para cerca de duas dezenas de sítios o caderno de encargos de salvaguarda prevê a realização de sondagens geológicas e escavações. Todos os trabalhos têm que estar concluídos até 2012/2013, quando se prevê que a albufeira comece a encher.
Um dos lugares que vão ser alvo de escavações é o povoado de Cilhades, situado na margem direita do Sabor e pertencente à freguesia de Felgar, Moncorvo. Composto por várias casas em alvenaria de xisto, encontrava-se em vias de classificação pelo antigo Ippar. Nos estudos da barragem, reconhece-se que "o povoado de Cilhades [desabitado desde os finais do século XIX] constitui um caso exemplar, em termos patrimoniais e científicos, no vale do Sabor", uma vez que conserva "vestígios de ocupação humana continuada, desde a Idade do Ferro até ao presente".
No fundo, a aldeia de Cillhades está para o vale do Sabor como a Aldeia da Luz estava para o Alqueva ou Vilarinho das Furnas para a barragem das Furnas, no Gerês. A diferença é que estas últimas eram habitadas e as povoações tiveram que ser realojadas noutro local. No caso do Sabor, também estão previstas trasladações importantes, como são os casos da Capela de S. Lourenço de Cilhades e do Santuário de Santo Antão da Barca. Este último é um dos lugares de culto mais famosos da região e a sua mudança de local é tudo menos pacífica. Mas, apesar de pairar sobre o santuário uma lenda de mau agoiro para o caso de ser devassada, a sua trasladação é irreversível.
Os primeiros trabalhos arqueológicos já foram adjudicados pelo consórcio que ganhou a construção do empreendimento, formado pelas empresas Bento Pedroso e Lena. Mas o facto de estas adjudicações serem parcelares está a criar apreensão junto de alguns arqueólogos, que temem não ser possível, desta forma, estudar o vale de uma forma integrada, como um território homogéneo.
Mas o que tem gerado maiores críticas foi a decisão da empresa Ecossistema, responsável pela realização do estudo de impacte ambiental, de cancelar um concurso que tinha aberto para a realização prévia de escavações e sondagens arqueológicas em alguns lugares com interesse (ver caixa). Sobre a EDP, a dona da obra, recai agora a suspeita de pretender evitar surpresas que pudessem atrasar ainda mais o empreendimento.
Fonte: Pedro Garcias (08 Ago 2008). Público: http://ultimahora.publico.clix.pt/notici
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