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NOTÍCIAS DE ARQUEOLOGIA

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Sábado, 14.06.08

Construção de passadiço em Matosinhos desvenda vestígios de conservas romanas

Há três semanas que decorrem, em Angeiras, Matosinhos, escavações que

fornecem dados sobre a existência de uma indústria conserveira do

período romano.


A Divisão de Cultura e Museus da Câmara de Matosinhos está a

aproveitar a necessidade de realizar sondagens arqueológicas antes da

construção de um passadiço de madeira sobre as dunas da parte norte do

concelho para ficar a conhecer um pouco melhor os vestígios de uma

indústria conserveira do período romano existentes na zona balnear de

Angeiras. Os trabalhos estão a decorrer há cerca de três semanas e

puseram já a descoberto um novo tanque de salga escavado nas rochas.

Segundo o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, que

ontem visitou o local, a autarquia pretende aproveitar os

conhecimentos adquiridos na escavação em curso para manter a memória

daquela indústria, eventualmente com o recurso à construção de uma

réplica, já que o local voltará a ser coberto de areia assim que as

marés voltarem a tocar aquela parte da praia. O autarca manifestou

ainda a vontade de ver a edilidade promover uma reconstituição do

garum (ou garo), uma conserva produzida pelos romanos com a mistura de

vários peixes e a adição de vinhos, vinagres e azeites, a qual era

exportada da costa portuguesa para todo o império, da Escócia ao Norte

de África, passando pela Roménia.

"Não sei se houve uma continuidade desta prática ao longo do tempo,

mas foi aqui que começou a indústria das conservas de Matosinhos",

sublinhou Guilherme Pinto, adiantando que, caso as escavações em curso

verifiquem a existência de elementos ainda não conhecidos, a autarquia

admite prolongar os trabalhos por mais algum tempo. Para já, as

sondagens obrigaram a desviar o traçado do passadiço, de modo a que as

respectivas fundações não toquem o sítio que agora está a ser

escavado, já classificado como monumento nacional desde a década de

1970.

No local, e para além dos já referidos tanques de salga (dos quais

existe, junto à marginal de Angeiras, uma réplica que será objecto de

beneficiação no âmbito da obra de construção do passadiço), é ainda

conhecido um pavimento de seixos rodeado por um murete, no qual se

julga ter sido produzido sal para a salmoura que ali funcionava, bem

como o alicerce de uma construção.

Pequena unidade

Segundo Joel Cleto, chefe da Divisão de Cultura e Museus, a unidade de

Angeiras seria de uma pequena unidade de produção de conservas, se

comparada com as existentes a sul de Peniche (e sobretudo em Tróia,

onde havia a maior fábrica de conservas do império romano), mas, ainda

assim, com uma grande importância regional nos séculos III e IV.

Atesta-o o facto de terem já sido descobertos 32 tanques de salga em

seis núcleos diferentes, ignorando-se se existiram outros, ocultos sob

o areal. A norte de Peniche, aliás, são relativamente raros os

vestígios de conservas romanas, havendo apenas memória de uma

instalação semelhante na Póvoa de Varzim.

Ainda segundo os arqueólogos, supõe-se que o complexo conserveiro

funcionasse em estreita relação com uma villa romana de que foram

encontrados sinais no Fontão e cujos mosaicos e restos cerâmicos estão

depositados no Museu de Etnografia do Porto.


Fonte: MARMELO, Jorge (13 Jun 2008). Público.

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por noticiasdearqueologia às 17:05


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