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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
Há três semanas que decorrem, em Angeiras, Matosinhos, escavações que
fornecem dados sobre a existência de uma indústria conserveira do
período romano.
A Divisão de Cultura e Museus da Câmara de Matosinhos está a
aproveitar a necessidade de realizar sondagens arqueológicas antes da
construção de um passadiço de madeira sobre as dunas da parte norte do
concelho para ficar a conhecer um pouco melhor os vestígios de uma
indústria conserveira do período romano existentes na zona balnear de
Angeiras. Os trabalhos estão a decorrer há cerca de três semanas e
puseram já a descoberto um novo tanque de salga escavado nas rochas.
Segundo o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, que
ontem visitou o local, a autarquia pretende aproveitar os
conhecimentos adquiridos na escavação em curso para manter a memória
daquela indústria, eventualmente com o recurso à construção de uma
réplica, já que o local voltará a ser coberto de areia assim que as
marés voltarem a tocar aquela parte da praia. O autarca manifestou
ainda a vontade de ver a edilidade promover uma reconstituição do
garum (ou garo), uma conserva produzida pelos romanos com a mistura de
vários peixes e a adição de vinhos, vinagres e azeites, a qual era
exportada da costa portuguesa para todo o império, da Escócia ao Norte
de África, passando pela Roménia.
"Não sei se houve uma continuidade desta prática ao longo do tempo,
mas foi aqui que começou a indústria das conservas de Matosinhos",
sublinhou Guilherme Pinto, adiantando que, caso as escavações em curso
verifiquem a existência de elementos ainda não conhecidos, a autarquia
admite prolongar os trabalhos por mais algum tempo. Para já, as
sondagens obrigaram a desviar o traçado do passadiço, de modo a que as
respectivas fundações não toquem o sítio que agora está a ser
escavado, já classificado como monumento nacional desde a década de
1970.
No local, e para além dos já referidos tanques de salga (dos quais
existe, junto à marginal de Angeiras, uma réplica que será objecto de
beneficiação no âmbito da obra de construção do passadiço), é ainda
conhecido um pavimento de seixos rodeado por um murete, no qual se
julga ter sido produzido sal para a salmoura que ali funcionava, bem
como o alicerce de uma construção.
Pequena unidade
Segundo Joel Cleto, chefe da Divisão de Cultura e Museus, a unidade de
Angeiras seria de uma pequena unidade de produção de conservas, se
comparada com as existentes a sul de Peniche (e sobretudo em Tróia,
onde havia a maior fábrica de conservas do império romano), mas, ainda
assim, com uma grande importância regional nos séculos III e IV.
Atesta-o o facto de terem já sido descobertos 32 tanques de salga em
seis núcleos diferentes, ignorando-se se existiram outros, ocultos sob
o areal. A norte de Peniche, aliás, são relativamente raros os
vestígios de conservas romanas, havendo apenas memória de uma
instalação semelhante na Póvoa de Varzim.
Ainda segundo os arqueólogos, supõe-se que o complexo conserveiro
funcionasse em estreita relação com uma villa romana de que foram
encontrados sinais no Fontão e cujos mosaicos e restos cerâmicos estão
depositados no Museu de Etnografia do Porto.
Fonte: MARMELO, Jorge (13 Jun 2008). Público.
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