Terça-feira, 06.09.11

Diversos locais do concelho de Aljezur apresentam marcas da presença islâmica, que a autarquia e a Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur querem estudar e valorizar, para melhor conhecer este período da sua história.
Atualmente, existem vários trabalhos arqueológicos a decorrer no município de Aljezur: Silos Islâmicos da Barrada, Ribat da Arrifana e Fortaleza da Arrifana são os mais importantes, mas existem outros, como as Necrópoles da Idade do Bronze de Corte Cabreira, de Vale da Telha e de Monte Clérigo.
José Marreiros, presidente da Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur (ADPHA), tem sido um dos principais impulsionadores dos trabalhos, mas a falta de verbas tem condicionado a sua missão.
Porém, este ano, a associação e a câmara de Aljezur contam com o apoio do Polis Litoral Sudoeste, que pretende ajudar o município a integrar o espólio recolhido nos vários sítios arqueológicos em centros de interpretação.
Segundo apurámos, estes centros serão criados pelo Polis na Ponta da Atalaia, Vale da Telha e Portinho do Forno/Pontal da Carrapateira.
“O património de Aljezur está a mexer”, realça José Marreiros, frisando que as últimas descobertas, nomeadamente no Ribat da Arrifana, “são muito importantes e já estão a ultrapassar as fronteiras nacionais”.
“Todos os anos são achados novos vestígios que contam mais um pouco da nossa história e que constituem uma pedrada no charco da arqueologia”, refere, frisando que diversos investigadores, historiadores, professores, alunos e jornalistas internacionais, assim como delegações de diversas embaixadas (árabes e não só), já se deslocaram até ao concelho por causa dos achados em curso.
Primeiro centro de interpretação em 2013
De acordo com o presidente da ADPHA, o Ribat da Arrifana deverá ser o primeiro sítio arqueológico a ser musealizado, em 2013. E o próprio Ministério da Cultura está em vias de classificar o ribat como monumento nacional.
“A criação de um centro de interpretação no local vai contribuir para a dinamização cultural e turística do município, assim como vai ser um ponto de partida para o surgimento de um novo turismo no Algarve”, salienta.
Para o historiador Mário Varela Gomes, “a musealização vai encerrar uma etapa, mas ainda há muito para estudar e investigar sobre o espólio já recolhido”, que inclui milhares de peças de cerâmica, pedra, osso, metal e vidro do período islâmico.
Segundo apurou o JA, a musealização do Ribat da Arrifana vai implicar o restauro das mesquitas e dos passadiços à semelhança da época, além da construção de um centro interpretativo que vai contar ao público a verdadeira história do que se terá passado aqui há cerca de nove séculos!
Fonte: Nuno Couto (29 Ago 2011). Jornal do Algarve: http://www.jornaldoalgarve.pt/2011/08/aljezur-aposta-no-estudo-e-musealizacao-da-presenca-islamica/
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por noticiasdearqueologia às 13:02
Segunda-feira, 20.06.11
A Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur, em parceria com o Município de Aljezur iniciaram já a campanha de trabalhos arqueológicos 2011, no Sítio da Barrada em Aljezur.
Na campanha de 2010 foram escavados 40 silos ou fossos circulares, tendo sido recuperado um imenso e interessante conjunto de cerâmica de cronologia medieval islâmica (Séculos IX a XI), para além de restos de alimentação, nomeadamente uma grande quantidade de conchas de moluscos e bivalves.
Genericamente, o contexto material deste sítio arqueológico sugere um assentamento provavelmente familiar de tipo rural onde se destaca a ausência de numismas, alfaias agrícolas, armamento ou outros fomentos metálicos.
Muito do espólio recolhido será exposto no futuro Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Aljezur.
A campanha de escavação do corrente ano deverá ter uma duração de quatro semanas, decorrendo até ao próximo dia 15 de Julho, sendo coordenada pelas arqueólogas Silvina Silvério e Elisabete Barradas; a equipa inclui ainda mais três arqueólogos (Maria João Dias, Joel Rodrigues e Daniel Nunes), dois alunos do curso de arqueologia da Universidade de Évora e outros colaboradores, entre os quais alguns alunos da Escola Secundária EBI/JI de Aljezur.
Fonte: (17 jun 2011): Diário on line: http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=117098
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por noticiasdearqueologia às 12:53
Terça-feira, 18.08.09
O Castelo de Aljezur, que já carrega séculos de história, tem agora um novo vizinho, construído pela empresa Águas do Algarve, numa obra que causou o descontentamento da Associação de Defesa do Património de Aljezur.
«É uma obra do século XXI, feita no perímetro de influência do Castelo, que nada tem a ver com o monumento», explicou ao «barlavento» José Marreiros, presidente da associação.
Este responsável garante mesmo que, durante a obra, foi aberta uma vala com uma máquina, «onde ficaram à vista vestígios arqueológicos», aos quais não foi dada a devida importância.

«Para evitar mais prejuízos, pedimos para deslocar essas terras para junto da Escola em Aljezur, onde funciona o Clube de Arqueologia», revelou ainda.
Acabou por ser o presidente da Câmara Manuel Marreiros a enviar um camião para transportar as terras. Quando as aulas abrirem, pelo menos os alunos membros do Clube de Arqueologia terão com que se entreter.
Os vestígios que terão sido encontrados durante a abertura da vala são «provavelmente da Idade do Ferro» e há também «cerâmicas islâmicas, segundo um arqueólogo a quem nós pedimos a opinião», explicou ainda o presidente da Associação de Defesa do Património.
Contactada pelo «barlavento», a porta-voz da Águas do Algarve rejeitou que tivessem sido encontrados quaisquer vestígios. «Tivemos uma equipa da empresa Nova Arqueologia a acompanhar a obra e nunca foi encontrado nada. Se tivesse sido encontrado algum vestígio, teríamos parado a obra de imediato», garantiu.
Por outro lado, quanto ao pequeno edifício construído para albergar um ponto de entrega do sistema multimunicipal de abastecimento de água a Aljezur, ainda pode haver soluções para atenuar a descaracterização do local, evidente aos olhos de quem visita e passa pelo Castelo.
«Já tivemos conhecimento das opiniões das associações», mas a obra está «aprovada pela Câmara e pelo Igespar». A única solução «para atenuar o impacto visual é revestir a construção a pedra», disse a porta-voz das Águas do Algarve.
É que o pequeno edifício fica situado a pouco mais de dez metros das muralhas do castelo, numa zona que servia de estacionamento.
No entanto, José Marreiros acredita que a melhor opção é «construir, em frente à nova casa, um mural que esteja enquadrado com o Castelo. Seria o ideal, porque taparia uma obra feia e que é do século XXI».
O mural, defendeu, teria de ser feito por «artistas plásticos, mas teria também que estar em concordância com a história do Castelo, podendo vir até a atrair mais visitantes», acrescentou.
O «barlavento» tentou, até ao fecho desta edição, na terça-feira, contactar a Direcção Regional da Cultura do Algarve, mas tal não foi possível.
Este é o organismo responsável pelo Castelo, enquanto monumento nacional, mas, segundo José Marreiros, desde que começaram as obras das Águas do Algarve, e apesar dos insistentes pedidos da associação, nunca nenhum técnico daquela entidade se deslocou até Aljezur.
Fonte: ana sofia varela (16 Ago 2009). O Barlavento, on line: http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=35378
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por noticiasdearqueologia às 23:07
Quinta-feira, 13.11.08

A exposição temporária «Ribât da Arrifana - Cultura Material e Espiritualidade» está patente até 31 de Janeiro no Museu Municipal de Arqueologia de Silves.
A mostra apresenta os resultados de trabalhos arqueológicos levados a cabo sob a responsabilidade científica de Rosa e Mário Varela Gomes na Ponta da Atalaia, em Aljezur, com o apoio da Câmara Municipal dessa localidade e da Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur.
Estes trabalhos colocaram a descoberto um conjunto importante de estruturas e espólio pertencente ao Ribât da Arrifana, um convento-fortaleza que teria sido mandado construir pelo mestre Sufi Ibn Qasi.
A inauguração desta exposição integrou-se no programa do 6º Encontro de Arqueologia do Algarve.
Fonte: (11 Nov 2008). Barlavento, on line: http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=28078
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por noticiasdearqueologia às 22:21
Domingo, 31.08.08

O casal de holandeses chegou à Ponta da Atalaia, no litoral de Aljezur, depois de ter visitado, no Museu de Albufeira, a exposição sobre o ribât, a fortaleza-mosteiro da época islâmica que há sete anos os arqueólogos Mário e Rosa Varela Gomes estão a escavar naquele local.
A sua curiosidade sobre um sítio arqueológico que é único em Portugal e quase na Europa levou-os a fazer a viagem entre o Algarve cosmopolita e este outro Algarve da Costa Vicentina.
«Todos os dias aparecem aqui pessoas que querem saber mais sobre este lugar. Umas chegam aqui por acaso, outras já sabem ao que vêm, porque leram algures, ouviram falar ou, como no caso desse casal de holandeses, porque viram a exposição em Albufeira e depois quiseram conhecer o ribât no próprio sítio», explica ao «barlavento» o arqueólogo Mário Varela Gomes.
Desde o princípio da semana passada e apenas por um período de quinze dias - «o financiamento não dá para mais» - uma equipa de 20 jovens estudantes de arqueologia, coordenada por Varela Gomes, está a trabalhar quase em contra-relógio na Ponta da Atalaia, a curta distância do Vale da Telha, onde há sete anos foram descobertos os vestígios do ribât da Arrifana, fundado no século XII pelo mestre sufi Ibn Qasi.
Desta vez, o objectivo das escavações é a área da madrasa, a escola corânica, cujo imenso pátio já foi posto a descoberto em anos anteriores. «É a mais antiga madrasa da Península Ibérica», assegurou Varela Gomes.
No dia em que o «barlavento» visitou o local, os jovens arqueólogos escavavam, com todos os cuidados, a sétima mesquita descoberta no perímetro até agora investigado.
«Sete anos de escavações, sete mesquitas», comentava Mário Varela Gomes. Das paredes da pequena mesquita, feitas com xisto e antigamente recobertas de estuque no interior, apenas restam agora umas fiadas de pedra, que não chegam a atingir meio metro de altura.
Mas é o suficiente para perceber como era o antigo local de oração destes muçulmanos, monges-guerreiros e peregrinos, que há novecentos anos viveram nesta ponta do Ocidente islâmico.
Curiosa foi a descoberta de mais um mirab, o nicho voltado para Meca que indica a presença de uma mesquita. Desta vez, além dos restos de paredes com o formato em ferradura, foi ainda descoberto o arranque da abóbada do mirab, tornando-o no mais bem preservado até agora identificado no ribât da Arrifana.
E, num derrube de uma das paredes da mesquita, surgiu também mais um rolinho de chumbo, daqueles onde os muçulmanos colocavam versículos do Corão, que depois depositavam nas paredes dos seus locais de oração.
Como os já descobertos anteriormente, também este não foi ainda aberto pelos arqueólogos, uma tarefa que terá que ser feita com outros meios e em ambiente controlado. «Mas sabemos o que lá estará: frases de reafirmação da sua fé».
Ainda que a campanha arqueológica seja curta, os trabalhos deste Verão permitem confirmar a religiosidade do local, situado nos confins do mundo islâmico, numa época conturbada internamente entre os muçulmanos da Península Ibérica e com as tropas cristãs de D. Afonso Henriques às portas.
«Em Portugal, só se conheciam a mesquita de Mértola e uma em Alcoutim. Aqui, na Ponta da Atalaia, há um complexo religioso, o ribât da Arrifana, e as mesquitas são muito semelhantes às do deserto e às de Guardamar, em Espanha. Este ribât era um local de pobreza, de abandono do luxo e dos bens materiais, por isso não esperamos encontrar aqui um espólio rico», explicou o arqueólogo.
«Ibn Qasi era de facto um indivíduo muito especial para estabelecer aqui este ribât!», concluiu o arqueólogo.
Fonte: Elizabete Rodrigues (26 Ago 2008). O Barlavento:
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por noticiasdearqueologia às 12:10
Segunda-feira, 21.07.08
A sepultura de Bartolomeu Perestrelo, primeiro donatário de Porto Santo e sogro de Cristóvão Colombo, poderá estar em vias de ser descoberta em Aljezur.
As sondagens arqueológicas que têm estado a ser feitas desde finais de Maio no cemitério velho desta vila, situado perto do castelo, têm permitido encontrar estruturas relacionadas com a primitiva Igreja de Santa Maria d’Alva, a antiga matriz de Aljezur, construída após a reconquista cristã.
Dentro da igreja e à sua volta eram feitos os enterramentos, como era costume da época. A igreja ruiu com o terramoto de 1755 e o espaço foi aproveitado como cemitério da vila até ao século XIX.
José Marreiros, presidente da Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur, contou ao «barlavento» que Bartolomeu Perestrelo, antes de morrer, por volta de 1458, «pediu para ser sepultado em Aljezur», mas actualmente não há já vestígios de tal sepultura.
«Já fizemos uma pesquisa documental no Arquivo Histórico do Funchal para saber mais», revelou aquele entusiasta da arqueologia da vila algarvia.
«Se a sepultura de Bartolomeu Perestrelo tivesse sido preservada e a conseguíssemos encontrar com estes trabalhos arqueológicos, seria ouro sobre azul!», exclamou.
Vestígios da antiga igreja matriz
Que as sondagens e trabalhos de arqueologia conseguiram já descobrir estruturas relacionadas com a antiga igreja destruída pelo terramoto de 1755 parece não haver dúvidas. Uma das peças recuperadas foi um fragmento de um Cristo crucificado, em terracota, que se presume poder ter pertencido ao primitivo templo.
Foram ainda descobertos restos do pavimento da igreja, tijoleiras rectangulares que foram sendo levantadas à medida que o solo era usado para as sepulturas feitas já depois da ruína do edifício.
Foi também identificada uma parede lateral, integrando uma porta entaipada. Esta parede foi depois usada nos muros de delimitação desse antigo cemitério.
Mas outros dados curiosos surgiram destes trabalhos: nos níveis mais antigos, do século XVI, «não foram encontrados muitos esqueletos de jovens, mas sobretudo alguns bebés e até fetos e depois adultos e pessoas mais velhas».
Isso, segundo José Marreiros, indica que, naqueles tempos, quem conseguisse sobreviver às doenças da primeira infância, chegava com alguma segurança a uma idade mais avançada, isto quando a esperança de vida era bem mais baixa que nos tempos actuais.
Outro dado interessante é o facto de terem sido detectados enterramentos em camadas sucessivas, o que parece indicar que haveria falta de espaço para as inumações no solo considerado sagrado.
Raros eram os mortos enterrados com um caixão
Também se verificou que eram raros os mortos enterrados em esquife – caixão de madeira -, um sistema reservado certamente aos aljezurenses mais endinheirados.
Dos raros enterramentos deste tipo, foram recuperadas madeiras, fragmentos de tecidos de revestimento, pegas em ferro e bronze e mesmo peças de vestuário, entre as quais se destacam fivelas e calçado em couro com ilhozes em bronze.
O espaço da antiga igreja continuou a ser utilizado como cemitério até ao século XIX. Desta época mais recente, destacam-se as inumações de crianças, que apresentaram um espólio muito interessante, já que eram enterradas com um «ramo» em fio de cobre, com flores e folhas, em azul e verde, colocado sobre o torso ou à volta da cabeça.
Destes trabalhos ainda preliminares integrados na primeira campanha de valorização arqueológica do cemitério velho de Aljezur, resultou muito espólio material, nomeadamente contas, anéis, botões em vidro, metal e madrepérola, alfinetes e trinta moedas, sobretudo dinheiros da primeira dinastia e ceitis cunhados entre meados do século XV e o final do reinado de D. Manuel I.
Foram também recuperados elementos construtivos pertencentes às arcarias da Igreja e identificados outros, reaproveitados nos muros do cemitério, com especial destaque para uma estela em forma de disco decorada com quadrifólio rebaixado, de extremidades rectas e estrela de oito pontas.
«Todos estes trabalhos foram acompanhados por uma antropóloga, como tem que acontecer quando se escava numa zona de cemitério».
Mais do que o espólio material, aliás muito interessante, esta intervenção e a investigação posterior vai permitir «descobrir mais sobre a vivência destes aljezurense de há séculos, sobre a sua alimentação e as doenças de que padeciam», salientou José Marreiros.
Os trabalhos resultaram da articulação entre a Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur, a Arqueonova – Associação de Arqueologia e Defesa do Património e a Câmara Municipal de Aljezur, que suportou os encargos financeiros.
Fonte: Rodrigues, Elisabete (18 Julho 2008). Barlavento. on line: http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=25620
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por noticiasdearqueologia às 23:01
Quinta-feira, 15.11.07

Reconstituição de uma mesquita do Ribât da Arrifana
São 120 páginas, com textos, fotografias e ilustrações. Mais do que um simples catálogo da exposição «Ribât da Arrifana – Cultura material e espiritualidade», este livro pretende ser uma chave que abra portas aos apoios de que este importante sítio arqueológico na costa de Aljezur precisa para terminar as pesquisas arqueológicas e poder ser, enfim, musealizado.
Notícia continua in: (15 Nov 2007). Barlavento, on line: http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=19654
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por noticiasdearqueologia às 22:42
Sábado, 10.11.07
Cerâmicas recolhidas nas escavações arqueológicas no Ribât da Arrifana | |
O catálogo da exposição de arqueologia «Ribât da Arrifana – Cultura Material e Espiritualidade», que esteve patente em Setembro, em Aljezur, vai ser lançado oficialmente no sábado, dia 10, às 15h30, no salão nobre dos Paços do Concelho desta vila.
A exposição, depois de se ter estreado em Aljezur, deverá ser apresentada, no próximo ano, no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.
In: Elisabete Rodrigues (8 Nov 2007). O Barlavento, on line: http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=19528
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por noticiasdearqueologia às 00:53
Sexta-feira, 14.09.07
Durante séculos esteve esquecida e escondida entre estevas. Este ano, a primeira campanha arqueológica permitiu algumas conclusões. Um dos jovens estudantes de arqueologia passa carregando dois baldes de terra. Com cuidado, equilibrando-se para não escorregar, desce o cerro para despejar a terra num monte, mais abaixo.

«Temos tirado muita terra daqui, porque, apesar de já se ver bem a estrutura dos muros, há aqui muitos derrubes», explica a arqueóloga Rosa Varela Gomes ao «barlavento».
O local onde os trabalhos arqueológicos decorrem, ao longo de nove dias de Agosto, é o sítio da Torre, um monte cónico sobranceiro ao vale da Ribeira de Seixe, no concelho de Aljezur, uma zona de “fronteira” entre o Algarve e o Alentejo.
No cimo desse cerro, a primeira campanha sistemática de escavações arqueológicas permitiu este ano identificar claramente os restos de uma antiga torre de atalaia circular, composta por um anel de grossos muros de xisto, rebocados a argamassa, com um outro semi-círculo de muros encostado.
Rosa Varela Gomes, uma das arqueólogas responsáveis pela intervenção, já não tem dúvidas de que a torre remonta aos tempos islâmicos, aos séculos XII e XIII, quando as tropas dos reis cristãos de Portugal se aproximavam perigosamente daquele que foi o último reduto dos «mouros» no território hoje português, o Algarve. Esta foi, de facto, «a última grande fronteira do Garb» islâmico, acrescenta.
«Esta torre islâmica controlava esta importante ligação entre o Baixo Alentejo e o Algarve», explicou Rosa Varela Gomes ao «barlavento».
Para mais, acrescentou, nessa época, a ribeira de Seixe era navegável até àquela zona, situada a cerca de três quilómetros da foz, na Praia de Odeceixe. «Esta torre só se justificava num sistema defensivo que se relacionava com a aproximação dos cristãos», acrescenta a arqueóloga.
A provar que a morfologia da zona seria bem diferente há 800 anos, está o facto de ali quase aos pés da Torre existir um local chamado Porto da Torre, que seria um antigo atravessamento da ribeira, nessa altura bem mais profunda.
Do alto do cerro, junto ao que resta dos muros da secular atalaia, avista-se o vale da ribeira de Seixe, de um lado, mas também a Fóia, o ponto mais alto da Serra de Monchique, do outro.
Rosa Varela Gomes considera mesmo a hipótese de esta torre ter estado ligada a outras semelhantes, que se avistavam umas às outras, e assim mantinham a segurança da fronteira natural entre o Baixo Alentejo e o Algarve, formada pelas serras.
Apesar de todas as suas precauções defensivas, estes redutos dos guerreiros islâmicos acabaram por ser tomados pelos cristãos.
Depois dos mouros, os cavaleiros de Santiago?
Rosa Varela Gomes acredita que a torre, pela sua situação estratégica, continuou a ser utilizada em Época Medieval cristã, para controlar precisamente a passagem naquela zona. Depois dos mouros, ao que tudo indica, a Torre de Odeceixe poderá ter sido utilizada pelos cavaleiros da Ordem de Santiago, a quem aquelas terras foram doadas pela coroa portuguesa.
Prova de que a torre continuou a ser ponto importante nos tempos medievais portugueses parece ser uma petição dos mercadores algarvios datada de 1398, que solicitavam a D. João I dispensa de pagarem portagem, duas vezes, quando se deslocavam à feira de Garvão, no Baixo Alentejo. Uma das portagens poderia ser paga precisamente na Torre de Odeceixe.
Rosa Varela Gomes, que, há dois anos, quando visitou o local pela primeira vez, tinha colocado a hipótese de a atalaia ter sido utilizada até à época Moderna, ou seja, pelo menos até ao século XVI, considera agora que tal não aconteceu, pelo menos não surgiram quaisquer evidências disso.
«Temos recolhido poucos materiais, na sua maioria são apenas telhas islâmicas e uma panela do século XII, que poderia ter sido utilizada tanto por muçulmanos como por cristãos. Mas não surgiu nada de épocas posteriores». Por isso, a torre deverá ter sido abandonada no fim da época medieval, talvez por deixar de ter interesse estratégico.
«Em Portugal não conheço nada igual a esta torre, com uma atalaia e uma zona de habitação adossada», garante Rosa Varela Gomes. O que desperta a atenção dos investigadores é o facto de a torre central ser circundada, pelo menos num dos lados, por um recinto fortificado, contendo diversos compartimentos no seu interior.
Presume-se que esses compartimentos serviriam para habitação da guarnição islâmica da torre e até, quem sabe, de familiares desses soldados. Algo que nunca foi encontrado noutro local, nem sequer em Espanha, onde já foram investigadas torres semelhantes.
«Em Espanha há exemplos de torres em que os familiares do guerreiros se instalavam na zona, mas em povoados separados, ao contrário do que parece acontecer aqui».
Em nove dias de campanha, parte dos quais a lutar contra a terra, o pó, o vento e as toneladas de pedra derrubadas, a equipa de arqueólogos e estudantes de arqueologia pouco mais conseguiu que delimitar o perímetro da estrutura e colocar à vista os fortes muros.
«Ainda há muito trabalho para fazer. Por exemplo, nestes compartimentos, ainda não encontrámos as portas de entrada, pelo que presumimos que devemos estar a escavar a um nível muito alto. As portas devem estar ainda lá debaixo», esclarece Rosa Varela Gomes.
Uma das suas preocupações, até ao nível da segurança dos jovens estudantes que ali trabalham, é que aquela torre «deveria ter uma cisterna», para garantir o abastecimento de água à guarnição.
E a cisterna poderá lá estar ainda, quem sabe se intacta. «Temos que trabalhar com cuidado, para não haver nenhuma surpresa desagradável», garante a arqueóloga.
In: Elisabete Rodrigues (26 Ago 2007). Barlavento, on line: http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=17626
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por noticiasdearqueologia às 00:20
Sábado, 01.09.07
Uma exposição vai pela primeira vez apresentar ao grande público o resultado das investigações. Em 2008, a mostra ruma a Lisboa. Mário Varela Gomes, arqueólogo responsável – em conjunto com a sua mulher Rosa Varela Gomes - pelas escavações que têm decorrido, desde há seis anos, naquele local à beira mar, salientou que o principal objectivo da exposição é dar a conhecer o trabalho de investigação já desenvolvido, mas também chamar a atenção para a importância desta fortaleza-mosteiro islâmica com mais de 800 anos, que terá sido reduto do mestre sufi e monge-guerreiro Ibn-Qasi.

Reconstituição de uma mesquita do Ribât da Arrifana
Mais do que a vertente material, mostrando as peças recolhidas ao longo das escavações arqueológicas, o investigador chama a atenção para a «vertente espiritual do sítio», que será um aspecto «muito inovador» desta exposição.
Para a ilustrar, a mostra apresentará, pela primeira vez, ao grande público, peças religiosas, como os rolinhos de chumbo provavelmente contendo versículos do Corão, a inscrição corânica numa placa de xisto, ou ainda uma outra inscrição com referências a Alá numa placa de cerâmica, encontrada na curta campanha de escavações deste Verão.
«Em termos de espólio material, não haverá peças de grande aparato para mostrar», porque no ribât da Arrifana, na Ponta da Atalaia, o que existia era um mosteiro, habitado por monges-guerreiros e por peregrinos que escolhiam viver ali, naquela espécie de fim do mundo, fazendo uma vida frugal dedicada à oração.
A exposição resulta de uma candidatura da Associação de Defesa do Património Histórico-Arqueológico de Aljezur a um programa da delegação do Algarve do Ministério da Cultura, contando ainda com o apoio da Câmara desta vila da Costa Vicentina e de empresas locais.
Mas, mesmo assim, o dinheiro é curto, uma vez que, além da mostra em si, vai ser editado um extenso catálogo.
José Marreiros, presidente da Associação, não disfarça o seu contentamento, mas também algum nervosismo com a aproximação da data em que a exposição vai abrir, já que esta será a maior mostra alguma vez produzida e apresentada no concelho.
No dia em que o «barlavento» falou com ele, José Marreiros transportava no seu carro, de regresso de Lisboa, algumas das peças que estarão patentes e que tiveram que ser sujeitas a restauro, outra vertente que aumentou os custos da iniciativa.
«Temos mais de duas dezenas de peças de cerâmica, mas também outras peças, como lanças, contas de colar, pesos de tecelagem, objectos religiosos. Foi preciso tratar tudo isso, restaurar. E isso tem custos», explicou o presidente da Associação.
José Gonçalves, vereador da Cultura da Câmara de Aljezur, que tem dado todo o seu apoio às escavações e a esta mostra, não esconde o desejo de, através da exposição, que na Primavera do próximo ano até irá estar patente no Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa, «conseguir finalmente congregar para o ribât da Ponta da Atalaia toda a atenção das entidades oficiais».
«Aquilo é demasiado importante para estar a ser investigado aos soluços, um mês em cada Verão», salientou o autarca. «Precisamos de mais», frisou.
«Esperamos que esta grande exposição chame a atenção para a importância deste sítio arqueológico único na Península Ibérica e que aproxime mais as entidades que nos deviam apoiar, como o Ministério da Cultura, mas também outras instituições e até empresas», concluiu José Gonçalves.
Enquanto estas esperanças não se concretizam, o catálogo não deverá ser apresentado já no dia 7, na abertura da exposição.
O «barlavento» sabe que a ideia seria convencer a ministra da Cultura Isabel Pires de Lima a vir até Aljezur numa outra data, para então lançar o livro, com pompa e circunstância. Mas até agora, garante o vereador José Gonçalves, ainda não há confirmação da disponibilidade da ministra.
Entretanto, abrindo as portas no dia 7 de Setembro, às 17h30, no Espaço +, a exposição «Ribât da Arrifana – Cultura Material e Espiritualidade» poderá ser vista até 5 de Outubro. Com ou sem ministra.
Elisabete Rodrigues (1 Set 2007). O Barlavento: http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=17747
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por noticiasdearqueologia às 23:24