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NOTÍCIAS DE ARQUEOLOGIA

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Segunda-feira, 07.01.08

Menino do Lapedo passa a ter núcleo museológico

O esqueleto fossilizado de uma criança de cinco anos que viveu num período do Paleolítico, encontrado há uma década no Lapedo, poucos quilómetros a Norte de Leiria, levou a que a autarquia instala–se no local um Centro de Interpretação Abrigo do Lagar Velho, que será inaugurado amanhã. É a primeira fase de um projecto que conempla a criação de um parque arqueológico de nível internacional.
“Temos condições únicas que queremos aproveitar”, afirmou a propósito Vítor Lourenço, vereador da Cultura da Câmara de Leiria, numa referência aos achados arqueológicos do menino do Lapedo. O fóssil, com mais de 24 mil anos, foi descoberto em Dezembro de 1997, e marcou um novo paradigma cientifico sobre a evolução humana, ao apresentar indícios cruzamento de raças humanas em estágios de evolução diferentes, como era o Homo Neanderthal e o Homo Sapiens. Até então, os estudiosos julgavam que o Neanderthal fora extinto sem qualquer cruzamento com o homem moderno, mas o fóssil encontrado contrariou pela primeira vez essa teoria.
Esta novidade colocou Leiria no mapa mundial da arqueologia. Por isso a autarquia quer aproveitar este empurrão para criar um centro de estudos paleolíticos no futuro museu do convento de Santo Agostinho, apostando também da criação de um amplo parque arqueológico que inclua o Vale do Lapedo, onde o fóssil foi descoberto.
Para já, o primeiro passo já está dado com a construção de um centro de interpretação ambiental destinado ao Abrigo do Lagar Velho, onde o fóssil foi encontrado, mas Vítor Lourenço disse á Lusa quer ainda candidatar o resto do projecto ao Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN).
Em todo o concelho, estão identificados “cerca de 70 sítios de interesse arqueológico”, uma situação que é considerada única em todo o país.


Fonte: (4 Jan 2008). Diário As Beiras: http://www.asbeiras.pt/?area=leiria&numero=54104&ed=04012008

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por noticiasdearqueologia às 22:50

Sexta-feira, 21.12.07

Investigadores americanos inauguram Centro de Interpretação do Lapedo

A explicação das características morfológicas do esqueleto que impulsionou a tese da miscigenação entre o homem de Neandertal e o homem anatomicamente moderno é uma das várias curiosidades que poderão ser conhecidas publicamente a partir de 5 de Janeiro, data em que abre o Centro de Interpretação Abrigo do Lagar Velho - Lapedo, na freguesia de Santa Eufémia, Leiria.
A descoberta de uma sepultura infantil com 24,5 mil anos, no final dos anos 90, transformou o local num lugar de reconhecido interesse arqueológico e científico, onde se deslocaram dezenas de arqueólogos e investigadores de vários países.
Assim volta a acontecer no início de 2008, com a presença dos antropólogos norte-americanos Erik Trinkaus (da Universidade de Washington) e Brian Pierson. O primeiro - especializado em paleontologia humana, arqueologia paleolítica, anatomia funcional e biologia do esqueleto - é considerado por muitos como o maior estudioso mundial da área da biologia e evolução Neandertal, enquanto Brian Pierson, para além da sua actividade académica na Universidade de Tulane, é especialista em reconstituições fa- ciais forenses, tendo estado ligado à criação de efeitos especiais na indústria cinematográfica, como foram exemplo os filmes 'Titanic', 'Alien - o regresso' ou 'Star Trek: insurreição'. A sua experiência levou-o a participar na reconstituição da cabeça do esqueleto descoberto no Abrigo do Lagar Velho, também conhecido como 'Menino do Lapedo'.
Ambos os investigadores participarão na sessão de conferências que decorrerá a 5 de Janeiro, a partir da 15h00, no auditório 1 da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, onde, no âmbito da inauguração daquele Centro de Interpretação, intervirão também os arqueólogos nacionais João Zilhão (professor na Universidade de Bristol, no Reino Unido), Francisco Almeida (arqueólogo do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico e comissário científico na criação do Centro de Interpretação Abrigo do Lagar Velho).


Notícia continua in: (18 Dez 2007). Diário de Leiria: http://www.diarioleiria.pt/12911.htm

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por noticiasdearqueologia às 08:14

Quarta-feira, 28.11.07

Rosto do menino do Lapedo (24 mil anos)

Tinha uns quatro anos quando morreu, há 25 mil anos. Em 1998, descobriram o esqueleto. Mas só víamos ossos ou visões artísticas. A primeira reconstituição forense revela-lhe o rosto.


 Brian Pierson trabalhou mais de dez anos em Hollywood, como artista de efeitos especiais em filmes como o Titanic, O Último Samurai, Alien: o Regresso ou Star Trek: Insurreição. Não lhe faltam monstros e seres fantásticos no currículo, mas procurava outros desafios intelectuais, pelo que decidiu fazer um doutoramento em antropologia e especializar-se em reconstituições faciais forenses na Universidade de Tulane, em Nova Orleães. Foi assim que, este ano, um artista de efeitos especiais se cruzou com a criança do Lapedo e lhe reconstituiu a cara com técnicas forenses. Tal e qual como faz o FBI.



          

            

 É esse rosto que pode ver-se agora pela primeira vez. O arqueólogo português Francisco Almeida apresenta hoje esta reconstituição facial à comunidade científica, no Simpósio sobre Realidade Virtual, Arqueologia e Património Cultural em Brighton, no Reino Unido.
Brian Pierson aparece nesta história por causa de Francisco Almeida, do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), que tem participado, como comissário científico, na criação de um pequeno museu no local onde se descobriu o esqueleto da criança - o Abrigo do Lagar Velho, no Vale do Lapedo, perto de Leiria.
No início do próximo ano, o museu deverá abrir ao público num terreno sobranceiro ao vale, onde há 25 mil anos alguém sepultou a criança, de quatro a cinco anos, com todo o cuidado, seguindo um ritual. Purificaram a sepultura com fogo e embrulharam a criança numa mortalha, com oferendas e ocre vermelho.
Mestiça ou não
Em Novembro de 1998, espeleólogos que procuravam arte rupestre no vale encontravam o esqueleto, deixado à vista por uma máquina que abriu uma estrada. Numa escavação de emergência, os arqueólogos Cidália Duarte, Ana Cristina Araújo e João Zilhão, então do Instituto Português de Arqueologia (agora integrado no Igespar), recuperaram o esqueleto da primeira e ainda única sepultura paleolítica encontrada na Península Ibérica. Nem no dia de Natal pararam de escavar, afinal, na altura, aquele era também o único esqueleto quase completo de uma criança do Paleolítico Superior na Europa, o que, só por si, já era um achado arqueológico de relevância mundial.
Só que a história da criança do Lapedo teria um picante adicional: podia ser mestiça. Erik Trinkaus, um antropólogo norte-americano a quem João Zilhão (então presidente do Instituto Português de Arqueologia) falou da descoberta, detectou nos ossos características morfológicas resultantes de um cruzamento reprodutivo entre dois tipos de homens. Tal implicava a ocorrência de sexo entre dois grupos humanos distintos: o homem moderno, a espécie da criança do Lapedo, que é a mesma do que a nossa, e o homem de Neandertal, extinto há 28 mil anos.
Assim, o esqueleto passou a estar no meio de um debate intenso sobre evolução humana, já que o relacionamento destes dois grupos humanos estava (e continua a estar) envolto em polémica. Fizeram amor e tiveram filhos? Ignoraram-se, e por alguma razão os Neandertais desapareceram? Ou guerrearam-se, até à chacina completa dos Neandertais pelos homens modernos?
Fizeram amor - foi a resposta da equipa que estudou o esqueleto, pelo que a criança do Lapedo se tornou notícia mundial. Apresentava, por exemplo, as pernas curtas como os Neandertais e as ancas estreitas como os homens modernos. Também possuía queixo, um traço dos humanos modernos, inexistente nos Neandertais, só que estava metido para dentro de
forma invulgar.
Descendência Neandertal
Não há dúvidas de que os dois humanos coexistiram alguns milhares de anos no espaço e no tempo (os humanos modernos chegaram à Europa há cerca de 40 mil anos, enquanto os Neandertais sempre só cá estiveram, desde há 300 mil anos).
Mas, além de sexo, outro pormenor apimentava a história: a criança nasceu três mil anos depois da extinção dos últimos Neandertais, na Península Ibérica, para onde vieram recuando do Médio Oriente e do resto da Europa. Portanto, seria um descendente longínquo desses híbridos de humanos modernos e Neandertais, que poderia resolver o mistério sobre o relacionamento de ambos. Punha em causa, na interpretação da equipa, a ideia dominante de que os Neandertais se extinguiram sem descendência: continuaram a existir, só que através de nós. Uma ideia que, no entanto, outros cientistas não aceitam. Só quando surgirem novas provas esmagadoras um dos lados da discussão poderá ceder. Até lá, esgrimem argumentos, com uma nova frente de debate, agora centrada no ADN de Neandertais e de homens modernos.
Depois da descoberta da criança, fizeram-se mais escavações no Vale do Lapedo, coordenadas por Francisco Almeida. Ao mesmo tempo, ia tomando forma a ideia de criar um Centro de Interpretação do Abrigo do Lagar Velho, com a Câmara Municipal de Leiria, até porque durante as escavações o local recebia muitas visitas de cientistas e curiosos. "Uma das perguntas frequentes era: mas onde está o menino?", conta Francisco Almeida.
Estava em Lisboa, no Igespar, onde vai continuar guardado numa caixa construída para o efeito. É frágil demais para estar num museu pequeno, onde o controlo ambiental é complicado, por isso Francisco Almeida foi pensando em alternativas ao esqueleto para pôr no Centro de Interpretação. Uma réplica do esqueleto na sepultura, em tamanho real? Por que não?
Para isso, bastava recuperar os ficheiros das tomografias axiais computorizadas (TAC) feitas, em tempos, ao esqueleto e ao crânio no Hospital Curry Cabral, em Lisboa: tinham sido enviados ao neurologista Christoph Zollikofer e à antropóloga Márcia Ponce de León, especialistas em reconstituições tridimensionais da Universidade de Zurique (Suíça). Foram eles que reconstituíram, em computador, o crânio da criança a três dimensões (para ver se havia sinais de mestiçagem, por exemplo). Desde então, passou a haver imagens tridimensionais de como seria a cabeça da criança, porque o crânio está muito fragmentado (só cerca de cem fragmentos se conseguem montar em pauzinhos de bambu e outros cerca de 240 estão tão partidos que nem se podem colar). Com essas imagens virtuais, construíram-se também as primeiras réplicas em resina translúcida.
O caso do enforcado
Foi a partir daquelas imagens tridimensionais, reenviadas da Suíça para Portugal, que o Instituto Politécnico de Leira fez uma réplica do esqueleto, através de impressão tridimensional (uma técnica que deposita gesso por camadas, banhado depois com resina). A ideia é, no final, colocar os ossos pintados numa réplica da sepultura, construída com silicone e sedimentos.
Ao mesmo tempo, Francisco Almeida ia enviando imagens deste trabalho a Trent Holliday, um antropólogo da Universidade de Tulane que tem participado em escavações no Vale do Lapedo. "Ele disse-me: "Tenho um estudante de doutoramento que se está a dedicar a reconstituições faciais"", conta Francisco Almeida.
Brian Pierson já tinha feito a reconstituição forense do rapaz de Turkana (ou de Nariokotome), o fóssil de um Homo erectus com 1,6 milhões de anos, descoberto no Quénia. Também ajudou a identificar o esqueleto de um homem encontrado enforcado na zona de Nova Orleães: depois de a reconstituição forense do rosto ter passado na televisão, a família reconheceu-o.
Agora, as capacidades de Brian Pierson na indústria cinematográfica e na reconstituição facial forense permitiram revelar como seria o rosto da criança do Lapedo. "Se a família do puto fosse viva, também ia reconhecê-lo", remata Francisco Almeida.
In: Teresa Firmino (28 Nov 2007). Público: http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain2%2Easp%3Fdt%3D20071128%26page%3D8%26c%3DC ou edição impressa do Público, Quarta 28 de Nov 2007, p. 8-9.

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por noticiasdearqueologia às 18:32


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