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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
A existência de um aglomerado daquele período está praticamente
confirmada. Os especialistas procuram agora confirmar se esses
vestígios são de uma importante cidade
Dois arqueólogos e dez estudantes de arqueologia de universidades
portuguesas e inglesas confirmaram nas últimas semanas a existência,
junto a Évora Monte, concelho de Estremoz, de vestígios de uma
povoação que poderá ter sido a maior cidade pré-romana de todo o
Sudoeste da Península Ibérica, conhecida pelo nome de Dipo.
As escavações em curso visam confirmar a tese, sustentada por alguns
arqueólogos, de que Dipo se situaria naquele local, uma vez que, de
acordo com fontes clássicas, esta urbe estaria localizada algures
entre a cidade romana de Évora e Mérida, mas mais perto da cidade
portuguesa. Ao fim de quase um mês de trabalho, o arqueólogo
responsável pela investigação, Rui Mataloto, do Centro de Arqueologia
da Faculdade de Letras de Lisboa, disse ao PÚBLICO que "parece quase
inegável" a existência de um grande aglomerado populacional da Idade
do Ferro, do período pré-romano, nas proximidades das muralhas
medievais do Castelo de Évora Monte. A afirmação é sustentada,
sobretudo, pelos fragmentos de diferentes objectos que já haviam sido
encontrados por um outro arqueólogo, há cerca de dois anos.
"Ao longo deste mês de escavações surgiram indícios de estruturas,
construções e materiais que confirmam a existência de uma povoação,
durante o século primeiro a.C, isto é, em plena época pré-romana",
afirmou o arqueólogo responsável pelo projecto. O investigador
referiu-se igualmente a outros achados que apontam nesse sentido, tais
como cerâmicas do quotidiano - vasos de cozinha, potes de grandes
dimensões utilizados para armazenagem de cereais, água e frutos secos
-, e alguma cerâmica de importação itálica que, por norma, "está
associada ao início da presença romana".
Entre os vestígios descobertos, Rui Mataloto realçou a presença de
pedaços de asas de ânforas, que "eram grandes contentores onde se
transportava o vinho nos barcos", bem como alguns elementos de
decoração, incluindo contas de vidro "que as mulheres utilizavam nos
seus colares".
Embora este arqueólogo saliente a relevância dos achados, reconhece
que ainda falta confirmar se no cerro de Évora Monte - onde em 1834
foi assinado o tratado de que pôs fim à guerra entre liberais e
absolutistas - se localizou mesmo a cidade de Dipo. Entre os seus
projectos para os próximos anos, acrescentou, encontra-se a
continuação do trabalho no local, de modo a conseguir esclarecer se a
cidade romana existiu mesmo ali. "Se tal fosse conseguido, isso seria
muito benéfico para dar maior valor à História de Portugal e a todo o
concelho de Estremoz, ficando a vila de Évora Monte a ganhar com novos
pontos de interesse, atraindo assim mais visitantes", sublinhou. Rui
Mataloto defendeu a criação no local de uma pequena área musealizada,
passível de ser visitada pelos turistas, os quais receberiam as
devidas explicações sobre o significado dos vestígios.
O investigador assegurou ainda que, depois de concluída esta fase das
escavações, irá efectuar, juntamente com a arqueóloga Catarina Alves,
que tem estado também a participar nos trabalhos, uma análise mais
aprofundada sobre tudo o que foi encontrado. Os resultados
preliminares desse estudo serão apresentados no dia 7 de Setembro no
Castelo de Évora Monte.
As escavações que estão a ser realizadas perto da Ermida de Santa
Margarida e terminam no fim deste mês resultam de um protocolo
estabelecido entre a Câmara de Estremoz e a Associação PortAnta, que
teve por base uma proposta da Liga dos Amigos do Castelo de Évora
Monte. Os trabalhos contam ainda com o apoio logístico da Junta de
Freguesia de Évora Monte e da Misericórdia local.
Fonte: Zacarias, Maria Antónia (26 Jul 2008). Público.
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