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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
O município de Almodôvar (Beja) reclamou hoje o apoio do governo, suspenso por falta de verbas, para o estudo e valorização do sítio arqueológico das Mesas do Castelinho, um povoado fortificado da II Idade do Ferro do Sul.
"Seria importante que o Estado respeitasse o compromisso assumido de financiar o programa de intervenção nas Mesas do Castelinho, que é indispensável para a continuação do estudo e da valorização do sítio", disse à agência Lusa o presidente do município, António Sebastião.
De acordo com o autarca, em 2006, o então Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) "cancelou" o programa de intervenção no Povoado das Mesas do Castelinho e "suspendeu todos os financiamentos previstos".
"Isto, depois de o próprio IPPAR ter aprovado o programa e apresentado uma candidatura, também aprovada, para financiamento através do Programa Operacional da Cultura", co-financiado pelo terceiro Quadro Comunitário de Apoio para Portugal, no período 2000-2006, lembrou.
Para justificar a decisão, segundo António Sebastião, o IPPAR "alegou falta de verbas para garantir a comparticipação nacional no financiamento".
"É fácil abrir a boca para defender a valorização do património histórico, mas quando é preciso abrir os cordões à bolsa para jogar as mãos à obra, não há dinheiro", ironizou o autarca.
A decisão do IPPAR, lamentou António Sebastião, "bloqueou" o programa de intervenção, que contempla campanhas de escavações e a construção de um núcleo de interpretação do povoado, localizado na herdade do Monte Novo do Castelinho, na freguesia de Santa Clara-a-Nova, concelho de Almodôvar.
Desde então, a construção do núcleo, que "chegou a ser adjudicada", foi "suspensa", precisou o autarca.
As duas escavações realizadas em 2006 e a primeira deste ano, em Julho, "foram possíveis com reminiscências de financiamentos de campanhas anteriores", explicou hoje à Lusa o arqueólogo Amílcar Guerra, um dos responsáveis científicos das escavações.
Salientando a "relevância histórica" e "importância patrimonial" do povoado, classificado em 1990 como Imóvel de Interesse Público, António Sebastião reclamou o "apoio do Estado" para "garantir a aplicação efectiva do programa".
Neste sentido, o autarca apelou ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), que resultou da fusão do IPPAR e do Instituto Português de Arqueologia, para "contemplar o financiamento do programa de intervenção no próximo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN)", a vigorar a partir deste ano e até 2013.
A Lusa contactou hoje a Direcção Regional de Cultura do Alentejo, mas os serviços informaram que o director regional, José Nascimento, estava ausente.
A segunda campanha de escavações deste ano e a 17/a no povoado, disse António Sebastião, "está a decorrer com o apoio da autarquia, que comparticipou os trabalhos de campo através de uma verba de cinco mil euros".
No terreno estão dois arqueólogos e seis estudantes de arqueologia da Universidade de Lisboa, apoiados por 10 trabalhadores locais e coordenados por Amílcar Guerra e Carlos Fabião, os responsáveis científicos das escavações.
"Até dia 29 deste mês, a equipa vai continuar a escavar a zona das estruturas e a estudar o espólio recolhido", explicou Amílcar Guerra, adiantando que, após a actual campanha, as escavações "deverão continuar em Julho de 2008, se houver condições financeiras".
Apesar de conhecido como local de "interesse arqueológico" desde o século XIX, o Povoado das Mesas do Castelinho só foi alvo dos primeiros estudos com carácter sistemático em 1987, após uma "violenta destruição" por parte do seu antigo proprietário.
Desde então, por iniciativa da Câmara Municipal de Almodôvar e da Junta de Freguesia de Santa Clara-a-Nova, em parceria com o IPPAR, a equipa da Universidade de Lisboa, através de duas campanhas de escavações por ano, uma em Julho e outra em Setembro, tem vindo a coordenar os estudos no sítio, bem como a sua recuperação e valorização.
Os estudos efectuados até ao momento, frisou Amílcar Guerra, permitem afirmar que o povoado terá sido fundado por volta dos séculos IV ou V A.C, época a que remontam os mais antigos vestígios recolhidos até à data, sendo que os mais abundantes são de origem romana e os mais recentes de origem árabe.
As diversas campanhas arqueológicas realizadas colocaram a descoberto várias fortificações, construídas entre a Idade do Ferro e o período omíada.
A idade do ferro "é identificada pela presença de um conjunto de grandes recipientes cerâmicos de fabrico manual, decorações estampilhadas, ânforas de tipologia ibero-púnica e cerâmicas pintadas com bandas".
Já o período omíada é identificado pelo "grande número de exemplares de cerâmica fina, sobretudo de cariz utilitário".
As peças de maior interesse arqueológico encontram-se sob a guarda dos responsáveis científicos das escavações e, segundo Amílcar Guerra, o espólio até agora recolhido "é apenas uma pequeníssima parcela do muito que o Povoado das Mesas do Castelinho tem para oferecer aos investigadores".
In: LL. (19 Set 2007). Lusa / Expresso: http://expresso.clix.pt/gen.pl?p=stories&o
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