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Um tanque da época romana e várias sepulturas do tempo da ocupação islâmica, foram encontradas no centro histórico da cidade. A descoberta foi feita no terreno, abrangido pelos números 10 e 12 da rua Francisco Augusto Flamengo, perto da Porta do Sol, que está a ser alvo de sondagens arqueológicas desde 2008. Estas escavações foram desencadeadas devido a um projecto de habitação previsto para aquela área.
“Trata-se da maior estrutura romana conhecida em Setúbal”, revela Frederico Carvalho, o arquitecto responsável pelo projecto de urbanização previsto para aquela área do centro histórico que tem estado a ser, desde 2008, alvo de sondagens arqueológicas efectuadas pelo MAEDS – Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal.
O responsável, sócio da promotora imobiliária Willem e Frederico, que adquiriu aquele terreno, com o intuito de construir fogos para habitação, explica que o projecto está “condicionado pelos achados arqueológicos”.
As escavações puseram a descoberto um reservatório de águas da cidade romana de Cetóbriga, com cerca de dois mil anos, que terá funcionado até ao século IV. O depósito tem uma profundidade de 3,5 metros e uma extensão das laterais com onze metros, de um lado e oito metros, de outro. No entanto, desconhece-se a totalidade da sua dimensão, uma vez que “se prolonga pelo subsolo, um do arruamento público e outro do edifício vizinho, respectivamente”, explica Frederico Carvalho.
Segundo Carlos Tavares da Silva, arqueólogo responsável pelas sondagens, o tanque encontrado tem “todos os atributos de uma cisterna pública que fornecia água à cidade”.
Foi também descoberta uma necrópole islâmica com dezassete sepulturas, com mil anos de idade. Cinco dessas sepulturas já foram estudadas por antropólogos contratados pela própria promotora imobiliária, que tem também suportado o pagamento de todo o serviço não especializado.
Para o arqueólogo do MAEDS, esta descoberta tem uma “importância muito grande”, dado que, até à data, só se havia descoberto “vestígios ténues” da presença islâmica em Setúbal. O cemitério encontrado indica que houve “uma ocupação muçulmana mais estável e uma povoação bem consolidada”.
No terreno, abandonado, onde havia apenas algumas estruturas abarracadas, foram também encontrados vestígios de um edifício do século XVII que “foi desmoronado com um terramoto”, explica o arquitecto.
Uma entulheira de fornos romanos, do século I, ou seja, uma local onde eram depositados os restos provenientes da actividade do forno, tais como de tijoleiras, ânforas, telhas, porcelanas e outro tipo de cerâmica, foi também outro dos achados arqueológicos.
Durante as sondagens foi também encontrado um furo, que à data das primeiras sondagens ainda tinha água, mas que, com o Verão e as escavações acabou por secar. Pensa-se que este furo teve serventia dos bombeiros da cidade.
Carlos Tavares da Silva revela que estas escavações “estão a revelar a história da cidade, desde o final da pré-história (Idade do Bronze) até praticamente à actualidade”.
O encarregado pela requalificação urbana daquele terreno indica que o esboço inicial do projecto previa a construção de doze fogos, mas “com as alterações sucessivas devido aos achados, está neste momento com oito fogos, duplexes”.
“Neste momento estamos num impasse”, expressa o arquitecto, defendendo que é preciso “ter um plano de acção”. “Participámos os achados à Direcção Regional da Cultura e estamos há quatro meses sem plano”, refere, queixando-se dos custos da demora. “Só em juros, por cada mês que estamos parados, perdemos mil euros, já para não falar em amortizações e alterações de projecto”, indica.
Frederico Carvalho revela ainda que já propôs à câmara que aquele espaço dos achados arqueológicos fosse municipalizado e que fosse feita “uma pequena unidade museu, dado que se trata da maior estrutura romana conhecida em Setúbal”, esclarece o sócio-gerente da promotora que já recuperou um outro edifício antigo, no número 112 da av. Luísa Todi, frente ao Quartel do Onze.
Contactada por «O Setubalense» a câmara municipal indica que o processo urbanístico está suspenso “a aguardar que a Direcção Regional da Cultura (DRC) faça uma visita ao local e dê o seu parecer, indicando se os achados têm valor arqueológico”. De acordo com a mesma fonte, caso a DRC considere que as descobertas têm valor arqueológico, “o projecto para licenciamento pode ter que ser alterado”.
Fonte: Vera Gomes (4 Out 2010). Setubalense: http://www.osetubalense.pt/noticia.asp?i
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