Arqueólogos alegam ter encontrado o mais antigo artefato das Américas, uma ferramenta de escavação em uma caverna do Oregon datada de 14.230 anos atrás. A ferramenta mostra que havia seres humanos vivendo na América do Norte bem antes da conhecida cultura Clovis, que se desenvolveu entre 12,9 mil e 12,4 mil anos atrás, diz o arqueólogo Dennis Jenkins, da Universidade do Oregon em Eugene.
Estudos de sedimentos e datação por radiocarbono mostraram a idade dos ossos. Jenkins apresentou suas conclusões no final do mês passado, em palestra na Universidade do Oregon.
Kevin Smith, o membro da equipe que encontrou o artefato, recorda o momento: "Nós havíamos identificado muitos ossos de cavalos, bisões e camelos extintos, e de repente ouvi o ruído característico da espátula ao bater em um osso", conta Smith, hoje aluno de mestrado na Universidade Estadual da Califórnia em Los Angeles. "Troquei a espátula por uma escova. Logo emergiu um grande osso e, quando vi a extremidade serrilhada, parei e chamei a atenção dos colegas, porque sabia que havíamos encontrado alguma coisa".
Controvérsia sobre coprólitos
Determinar se os moradores das cavernas pertenciam à cultura Clovis ou a uma cultura anterior é um processo incerto. Não foram encontrados artefatos característicos dos Clovis na caverna. "Não se pode descartar ainda que os moradores da caverna de Paisley fossem Clovis", diz Jon Erlandson, arqueólogo da Universidade do Oregon que não participou da pesquisa.
O único outro sítio arqueológico americano mais antigo que na cultura Clovis fica em Monte Verde, Chile, com fósseis datados de 13,9 mil anos atrás. No ano passado, Jenkins e seus colegas reportaram coprólitos, ou excrementos humanos fossilizados, com datação de 14 mil a 14.270 anos no passado. O relatório estabeleceu a caverna Paisley como um sítio primário da arqueologia nas Américas.
Análises do DNA das amostras determinou que os coprólitos eram humanos. Mas em julho, outro grupo de pesquisadores argumentou que os coprólitos poderiam ter datação anterior à dos sedimentos que continham. A equipe, comandada por Hendrik Poinar, da Universidade McMaster, em Hamilton, Ontário, também questionou o relatório de 2008, porque não foram encontrados artefatos nos sedimentos cruciais. A equipe do Oregon refuta fortemente essas críticas.
O fim da questão?
A datação da ferramenta feita de osso e a identificação de que os sedimentos que a envolviam tinham datações de entre 11.930 e 14.480 anos atrás podem encerrar a disputa. "Não se poderia solicitar uma estratigrafia melhor", disse Jenkins durante a reunião no Oregon. "Eles definitivamente reforçaram ainda mais o seu argumento", diz Todd Surovell, arqueólogo da Universidade do Wyoming em Laramie que não esteve envolvido na pesquisa.
Outros pesquisadores questionaram se os moradores da caverna seriam primordialmente vegetarianos, como sugerem os coprólitos. Em sua recente palestra, Jenkins apontou para outros indícios de uma dieta com baixo teor de carne mas incluindo plantas edíveis como a Lomatium dissectum. No final de setembro, um grupo de arqueólogos que estava estudando a difusão populacional nas Américas se reuniu com representantes do governo federal e de uma tribo local, os klamath, para estudar os indícios obtidos na caverna Paisley. Os especialistas passaram dois dias examinando sedimentos, estudando a ferramenta e avaliando outros indícios sobre plantas e animais.
"Foi uma apresentação impressionante", disse David Meltzer, arqueólogo da Universidade Metodista do Sul, em Dallas, Texas, que compareceu ao evento. "Trata-se claramente de um sítio importante, mas existem alguns testes a realizar para chegar a uma conclusão final". Uma consideração importante, ele diz, seria compreender melhor como os espécimes chegaram à caverna.
Fonte: (24 Nov 2009). Terra.com.