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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
O sector critica hipótese de abrir espaço à arte contemporânea, como
sugeriu o director do Igespar.
"O Partido Socialista, que em 1996 salvou o património do Côa [as
gravuras rupestres], está agora a pô-lo em risco." O alerta parte de
José Morais Arnaut, presidente da Associação dos Arqueólogos
Portugueses (AAP), numa reacção às declarações do director do
Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico
(Igespar). Em entrevista ao PÚBLICO no dia 23, Elísio Summavielle
defendeu que o Museu do Côa, cuja inauguração está prevista para
breve, deve abrir-se também à arte contemporânea.
"Isso é uma perversão completa do que deve ser a missão principal
daquele museu, que é a de estudar e divulgar um património que é da
Humanidade", diz Morais Arnaud.
Se há 15 anos se tomou a decisão de não construir a barragem e de
salvar as gravuras, o que tornou Portugal "o centro da arte rupestre a
nível mundial", o presidente da AAP não compreende por que é que
depois não se apostou seriamente no Côa, criando um "núcleo de
investigação científica" e fazendo do museu o "motor da divulgação do
património".
Maria Ramalho, arqueóloga e técnica do Igespar, num texto divulgado na
sequência da entrevista de Summavielle, lembra que "este assunto [o
Côa] foi importante para um outro Governo do mesmo partido, a milhares
de anos-luz da situação presente". E critica "as intenções expressas
pelo [actual] Governo de reduzir o património apenas ao seu valor
económico" - numa referência às propostas do Ministério da Cultura
para um modelo de gestão do Museu do Côa com o Estado e privados.
A preocupação é partilhada por Maria José de Almeida, que preside à
Associação Profissional de Arqueólogos (APA): "Estamos muito
preocupados com alguns sinais de que o Estado possa estar a descartar
a responsabilidade [sobre a gestão do Côa] para as instituições
locais". Este é um património "não apenas local ou regional, mas
mundial", e por isso tem que haver "uma regulação" estatal.
Os arqueólogos mostram-se também indignados com as afirmações do
director do Igespar, segundo as quais a contestação à política do
Governo para a Arqueologia seria "localizada". "Isso é uma prova clara
de que [Summavielle] não conhece a realidade", diz Luís Raposo,
director do Museu Nacional de Arqueologia, garantindo que "a
contestação é generalizada".
Maria José de Almeida lamenta que o Governo não tenha querido ouvir os
arqueólogos. "Há um descontentamento por não sermos vistos como parte
da solução". Morais Arnaut explica que o desinvestimento na
Arqueologia começou com o plano de reestruturação da administração
pública (Prace) e a extinção do Instituto do Português de Arqueologia,
que "era uma estrutura leve e flexível e foi integrado [no Igespar]
numa estrutura com um peso burocrático muito maior". O resultado é a
sobreposição de competências entre as direcções regionais de Cultura e
o Igespar, a "falta de meios", e, ao mesmo tempo, "duplicações
inaceitáveis, com esbanjamento de recursos".
Quanto à construção do novo Museu dos Coches, em Belém (que implica a
saída do local de serviços de Arqueologia que vão para a Cordoaria
Nacional), Luís Raposo diz que Summavielle "reconheceu o óbvio: que o
processo está parado". "A questão de fundo mantém-se - avisa -, e é um
problema bicudo para o próximo Governo resolver."
Fonte: Alexandra Prado Coelho (27 Set 2009). Público.
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