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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
As escavações arqueológicas feitas em Lagos, no âmbito da construção do Parque de Estacionamento subterrâneo, no Parque da Cidade, junto às Muralhas, já revelaram a existência de vestígios do Edifício da Gafaria (leprosaria) e outras estruturas, um cemitério de leprosos, um enterramento de escravos, uma lixeira dos séculos XV a XVII, e peças de cerâmica.
A Câmara Municipal de Lagos realizou uma reunião com as entidades envolvidas nas escavações arqueológicas, com o objectivo de dar a conhecer as primeiras análises científicas dos trabalhos.
Rui Almeida, arqueólogo e um dos directores da intervenção, afirmou que «o interesse desta escavação é tanto maior quanto o conhecimento que da mesma venha a resultar, quer para os investigadores e para a comunidade científica, quer para a comunidade em geral».
O impacto das escavações foi muito além da situação inicial, o que acabou por obrigar a trabalhos mais profundos e, em consequência, mais demorados. A importância dos achados levou a que o programa de construção do Parque de Estacionamento fosse alterado.
No entanto, foi possível continuar a construção do Parque de Estacionamento e, em simultâneo, fazer o levantamento dos vestígios arqueológicos de outras épocas.
Segundo comunicado da Câmara de Lagos, «dos vários vestígios encontrados, o do Edifício da Gafaria (leprosaria) é o mais evidente e veio confirmar as referências existentes em documentos da época. Segundo esses dados, o Edifício teria funcionado, entre 1490 até meados do século seguinte, havendo registo desta construção à data da construção do pano de muralha adjacente».
O local apresenta vários níveis de ocupação, correspondentes a períodos históricos diferentes, tendo sido identificados, num nível inferior ao Edifício da Gafaria, vestígios (um forno) de uma ocupação ainda mais remota.
Quanto à geomorfologia as escavações permitiram determinar a localização exacta da Ribeira dos Touros e os desvios que foi sofrendo ao longo dos tempos devido à intervenção humana e à ocupação dos solos.
Outra das descobertas considerada importante para os investigadores foi a da existência de dois cemitérios na zona. Primeiro foi encontrado um conjunto de mais de vinte esqueletos, cujas deformações correspondem a sinais muito evidentes da lepra. Esta informação torna Lagos num local de referência para o estudo da lepra e para a história da Medicina.
Num outro local, que coincide com «uma antiga lixeira da cidade, e misturados com os dejectos aí despejados há muitos séculos, foram encontrados outros esqueletos, cujas características, marcas culturais (modificações dentárias) e forma como se encontravam depositados, permitiram concluir tratarem-se de escravos africanos, abrindo todo um novo campo de conhecimento sobre o estatuto social do escravo à época, sobre a sua vivência e sobre os Descobrimentos Portugueses», explicou a autarquia.
Para Rui Almeida, «estas escavações e as revelações abrem um novo campo de estudo para a História da Medicina, da Engenharia, do Urbanismo, ajudando a conhecer e a compreender melhor a sociedade dessas épocas e os hábitos culturais da população».
Também Rui Parreira, da Direcção Regional de Cultura, relevou que houve uma atitude muito positiva da Câmara de Lagos quanto à salvaguarda do património, recordando «não ser esta a primeira vez que temos uma intervenção desta escala em Lagos».
Na sua intervenção referiu-se ainda às profundas alterações que a arqueologia sofreu, a partir de 1995, quando foram consagrados legalmente dois grandes princípios.
Um dos princípios é a conservação dos achados através do registo científico, o que faz com que os registos possam ser documentados com exaustão.
O outro é a aplicação ao património de um princípio conhecido na área ambiental como o do «poluidor/pagador», que prevê que a entidade que vai realizar uma determinada obra, tem que promover o registo de todos os vestígios que vão ser destruídos.
No caso desta obra, as entidades decidiram não inviabilizá-la, autorizando-a com a condição de ser feito acompanhamento científico, que acabou por realizar-se numa área muito superior à prevista no início.
Desse acompanhamento foi obtido um volume de informação importante, que vai permitir a valoração dos dados em estudos futuros, estando previsto que grande parte seja feito pelo Laboratório de Antropologia da Universidade de Coimbra.
No final da sua intervenção, Rui Parreira considerou esta intervenção um exemplo a seguir por outras entidades e uma mais-valia para o património histórico e arqueológico da cidade de Lagos dos Descobrimentos.
Fonte: (6 Mai 2009). Barlavento, on line:
Associação diz que obras de restauro estão a ser feitas «fruto de um improviso» e que têm falta de coerência. Diocese do Algarve refuta acusações e garante que Igespar está a acompanhar os trabalhos.
O que deveria ser uma simples obra de restauro da Sé de Faro está a causar polémica. O Departamento de Arqueologia e Património da associação Almargem acusa as intervenções que estão a ser feitas no edifício com 800 anos de estarem a descaracterizá-lo.
As obras de substituição de rebocos, cornijas e pavimentos estão a ser feitas, segundo garante a associação, com cimento, cal hidráulica e areia, ao invés de utilizarem cal aérea, gesso e areia, como seria adequado.
«Estas alterações estão a ser feitas fruto de um improviso, e existe falta de coerência», acusa Fernando Nogueira, membro da Almargem.
Fernando Silva Grade, também ele membro da associação, foi quem alertou para a situação e, depois de contactar a Direcção Regional de Cultura, que lhe terá dado «respostas evasivas», levou o caso à Assembleia Municipal de Faro.
«Os partidos mostraram-se perplexos e mostraram a preocupação com o caso», garante.
O artista plástico considera que, «se este é um caso de reabilitação do património, está muito mal», considerando a situação como «escandalosa». «Não é um pormenor, é uma situação óbvia. Está a ser feito um reboco completamente diferente, moderno», acusa.
Segundo a Almargem, também «as cornijas existentes estão a ser substituídas por outras de forma completamente dissonante em termos de perfil e aspecto», enquanto alguns pavimentos estão a ser substituídos utilizando ladrilho inadequado e, após a substituição dos rebocos existentes, estão a ser deixadas partes da estrutura com pedra à vista, conferindo alterações no aspecto plástico final da fachada.
Além da descaracterização do edifício, que Fernando Silva Grade diz ter «uma tendência de pastiche, que faz com que um edifício de 800 anos perca o seu carácter», também a estrutura poderá vir a sofrer danos com a colocação de cimento, acusa a Almargem.
«A grande diferença é que a argamassa original é permeável, enquanto a argamassa bastarda que está a ser empregue é impermeável e mais resistente e, quando se deteriora, dada a sua resistência, danifica a base onde se encontra aplicada».
O «barlavento» contactou a Diocese do Algarve, responsável pelas obras. O padre Miguel Neto, do departamento de comunicação, garantiu que «o Igespar – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico está a acompanhar e a vistoriar a obra, que está a ser feita de acordo com os critérios do instituto».
A Diocese nega ainda que esteja a ser utilizado cimento, apesar de haver sacos de cimento à vista no local da obra, como o «barlavento» constatou. «Para a obra está a ser utilizada cal hidráulica e tinta de silicatos. Cimento não».
Miguel Neto considera ainda a posição da Almargem inadequada. «A Sé está a ser restaurada. Os senhores da associação deviam era preocupar-se com outras igrejas que também são património, que se estão a degradar e em relação aos quais ninguém faz nada, como a Sé de Silves, por exemplo».
Fonte: Nuno Costa (7 Mai 2009). O Barlavento, on line: http://www.barlavento.online.pt/index.ph
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