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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
Sepulturas islâmicas já terão sido parcialmente afectadas por máquinas das obras de construção da futura auto-estrada de Sintra na zona da casa de saúde do Telhal
As obras de construção da A16/IC16, entre a CREL e o Lourel, levaram à descoberta de importantes vestígios tardo-romanos e islâmicos na zona do Telhal. A comunidade arqueológica mostra-se preocupada com a metodologia seguida nas escavações e há quem aponte o dedo à destruição parcial de sepulturas. A Câmara de Sintra avalia a situação na próxima semana com o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar).
Os trabalhos da futura auto-estrada de Sintra - que ligará um novo nó na CREL, entre Belas e Queluz, e o IC30, no Lourel - arrancaram em Maio e destinam-se a criar uma radial alternativa ao congestionado IC19. Ao longo de uma dezena de quilómetros, as obras avançam a diferentes ritmos: se aqui decorrem terraplenagens, acolá já se observam os pilares para um viaduto.
Ambos os cenários se podem ver no Telhal. De um lado da estrada que dá acesso à casa de saúde, erguem-se colunas em betão que vão suportar um tabuleiro rodoviário. Do lado contrário, ao longe, máquinas retroescavadoras movimentam terras. No meio, junto a um muro, operários e arqueólogos escavam uma área que se destina à instalação das sapatas do viaduto. Próximo, uma formação rochosa exibe várias covas, de variados formatos. Foi aqui que se detectaram meia dúzia de sepulturas islâmicas, escavadas na rocha. Ao lado, buracos arredondados fazem parte de uma dezena de silos com materiais. A pouca distância, restos de muros tardo--romanos servem de testemunho da existência de antigos edifícios.
Politicamente correcto?
José d'Encarnação, da Universidade de Coimbra, divulgou um texto numa mailing list da comunidade arqueológica (Archport), dando conta da descoberta, "de que parte já foi destruída quando se procedeu à remoção mecânica de uma primeira camada em toda a superfície do terreno: houve sepulturas parcialmente destruídas e crânios cortados". O arqueólogo alerta que "haverá uma indicação oficial para que tudo se aterre com a maior brevidade possível". E sustenta que "não pode um património histórico-cultural dessa relevância ficar submetido a mais uma pressa e... a mais uma rodovia", devendo ser reestudado o seu traçado.
O director do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, José Cardim Ribeiro, confirma ter entregue à Câmara de Sintra um relatório acerca do caso, mas remete a sua divulgação para a tutela política. O arqueólogo considera, no entanto, que a situação "pode vir a ser calamitosa se não se tomarem as medidas devidas", que passam "por dar mais tempo à intervenção arqueológica e não avançar já com o aterro que pode cumprir formalismos administrativos, mas que não salvaguarda o património".
O professor de Arqueologia não põe em causa o traçado da auto-estrada, mas defende que os vestígios, datáveis de entre os séculos VI e X, sejam devidamente estudados, sob pena "de ocorrer a maior destruição consciente, e superiormente escudada, de património arqueológico desde sempre no concelho de Sintra". Cardim Ribeiro classifica de "vital para a história da região" uma escavação aprofundada e que a "selagem equivale a uma destruição politicamente correcta, mas que não deixa de ser uma destruição".
O vereador da Cultura na Câmara de Sintra, Luís Patrício, confirma que a obra está suspensa na zona dos vestígios arqueológicos e remete uma posição para depois de uma reunião, no início da semana, com o Igespar. O vice-presidente do instituto, João Pedro Ribeiro, reconhece que os vestígios detectados no decurso da obra possuem "uma dimensão mais importante" do que o previsto, mas não tem informações sobre eventuais destruições e que as escavações "têm sido acompanhadas de acordo com as normas legais".
Fonte: Luís Filipe Sebastião (4 Out 2008). Público.
Campanha na Namíbia concluída até dia 10
A remoção dos vestígios da embarcação portuguesa do século XVI encontrada em Abril na costa da Namíbia - já identificada com segurança como uma nau da Carreira da Índia - terá de ser integral e impreterivelmente concluída até dia 10 por razões de segurança, confirmou ontem ao DN fonte do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR).
Em causa, o cordão dunar artificial que protege o local dos achados, já no limite da sua vida útil perante as alterações atmosféricas, normais para a época, que se avizinham no Atlântico Sul. O grosso da carga, já descrito como um dos mais ricos e relevantes alguma vez encontrados no campo da arqueologia subaquática, esse, havia sido já removido na fase inicial da campanha arqueológica, entre os meses de Abril e Maio.
Os trabalhos, que desde o início de Setembro estão a ser acompanhados por uma equipa portuguesa constituída pelos arqueólogos Francisco Alves e Miguel Aleluia - entre vários outros técnicos provenientes da Namíbia, África do Sul, Zimbabwe, Reino Unido e Estados Unidos -, prosseguirão depois também com envolvimento português, nomeadamente ao nível da inventariação, estudo e divulgação dos materiais encontrados na interface costeira de Oranjemund.
Os destroços e carga da nau portuguesa, recorde-se, foram encontrados durante trabalhos de prospecção levados a cabo pela Namdeb, consórcio formado pelo gigante mundial da produção de diamantes - o grupo sul-africano De Beers - e pelo governo namibiano. Segundo a mesma fonte, os custos da operação no local estão a ser suportados pelo consórcio, tendo Portugal assegurado a estadia da sua equipa mediante verbas do Instituto Camões e do Instituto Português para o Desenvolvimento.
Fonte: Maria João Pinto (2 Out 2008). Diário de Notícias.
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