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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
Um templo imperial e um edifício da praça central da "velha" Pax Julia, descobertos durante escavações que terminaram esta semana em Beja, vêm "confirmar e testemunhar" a importância e o carácter monumental da cidade na Época Romana.
Segundo a arqueóloga, o templo imperial agora posto a descoberto, datado do século I ou início do século II d.C., é o identificado pelo arqueólogo Abel Viana em 1939, durante a abertura dos caboucos para a construção do reservatório de água de Beja, junto ao logradouro do Conservatório Regional do Baixo Alentejo (CRBA), onde decorreram as escavações e as descobertas.
Na altura, lembrou a arqueóloga, Abel Viana identificou um "grande edifício, que interpretou como o templo romano de Pax Julia", mas os vestígios foram tapados e no final dos anos 90 Conceição Lopes decidiu avançar com escavações no local para "tentar ver o que Abel Viana tinha identificado".
Nas duas primeiras campanhas, em 1999 e 2006, foram descobertos edifícios de várias épocas, mas só na campanha deste ano, que começou a 14 de Julho e terminou quinta-feira, foi descoberto o templo romano identificado há 69 anos por Abel Viana.
O outro grande edifício da praça central de Pax Julia, também descoberto na campanha deste ano por Conceição Lopes e 12 alunos do Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra, "refere-se à primeira instalação romana da cidade e foi construído no final do século I a.C., no tempo de Augusto, o primeiro imperador romano".
Os dois edifícios, frisou a arqueóloga, confirmam que Pax Julia "era a mais importante cidade romana do actual Portugal", a "grande colónia do Sudoeste Peninsular" e "a capital do `conventus pacencis`", ou seja, da região político-administrativa e jurídica que ocupava toda a zona a Sul do Tejo do actual território português.
"Pax Julia era uma colónia, mas tinha estatuto de cidade romana, ou seja, os cidadãos de Pax Julia tinham o mesmo estatuto dos cidadãos de Roma. E, do ponto de vista político, os cidadãos de Pax Julia que tivessem um milhão de sestércios podiam ser senadores em Roma", contou Conceição Lopes, frisando que "nem todas as cidades romanas tinham este estatuto".
A descoberta destes edifícios "vai obrigar os arqueólogos a reequacionar as ideias sobre a organização urbana da cidade romana", porque "algumas estruturas não confirmam, por exemplo, a hipótese de que à Praça da República da actual Beja corresponderia a praça central da velha Pax Julia", admitiu a arqueóloga.
Além dos dois edifícios romanos, as escavações colocaram ainda a descoberto um outro edifício da Idade do Ferro que "confirma a ocupação e revela a importância da cidade na época pré-romana", disse a também coordenadora do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto.
Apesar de frisar que não dispõe de elementos para dizer exactamente quando foi construído o edifício, "um dos melhores e dos mais bem conservados da Idade do Ferro descobertos no Sul de Portugal", Conceição Lopes referiu que "há a presença de materiais desde o século VII a.C. ao século III d.C.".
Nas anteriores campanhas, já tinham sido descobertas várias estruturas de períodos posteriores à Época Romana, como "belíssimos" edifícios dos séculos XVI e XVII, como "vestígios da antiga cadeia de Filipe III e de algumas casas do tempo de D. Manuel".
Em termos científicos, "o mais interessante" destas descobertas "é perceber que Beja teve uma dinâmica muito interessante ao longo dos tempos", frisou a arqueóloga, referindo que através do núcleo escavado no logradouro do CRBA "dá para perceber que Beja tem sido ocupada desde o século VII a.C." e que "soube reciclar e usar muito bem os edifícios que tem".
As escavações realizadas até agora "evidenciam que é necessário continuar a escavar, se as entidades públicas e privadas quiserem desvendar a história de Beja e colocar à mostra os edifícios importantes das várias épocas da história", sugeriu a arqueóloga.
Caso contrário, as escavações no quintal do CRBA "ficam por aqui", disse, frisando que, "sem apoios, não há condições para continuar a escavar".
Questionada sobre o futuro dos edifícios descobertos, a arqueóloga referiu tratar-se de "uma questão que terá que ser discutida com a Câmara de Beja e o IGESPAR [Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico]".
No entanto, defendeu, "alguns edifícios deviam ficar à mostra, para devolver aos cidadãos de Beja os vestígios do seu passado, da sua memória e que lhes pertencem por história".
Noutro sentido, sugeriu, "seria interessante ligar os edifícios romanos agora escavados com os outros descobertos nas parcelas de escavações que têm sido feitas na cidade, sobretudo na rua do Sembrano e no Castelo", porque, "todos juntos demonstram a dimensão e a importância de Beja na Época Romana".
Nesta lógica, defendeu a arqueóloga, "seria interessante mostrar os vários núcleos romanos que foram descobertos para o público ter a noção de como tudo isto funcionava em rede e como era a cidade Pax Julia".
Fonte: LL. (9 Ago 2008). RTP: http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?art
O património do Concelho de Oeiras pode vir a ficar com mais uma área de interesse arqueológico. Durante Julho foi feita a prospecção da vila romana de Leião, perto de Porto Salvo, conhecida desde a década de setenta do século passado.
“Trata-se de uma zona com 100 metros por 80, quase a área de um campo de futebol”, explica por telefone ao PÚBLICO João Luís Cardoso, director do Centro de Estudos Arqueológicos da Concelho de Oeiras.
Apesar de já se conhecer a existência do local há décadas, o risco de se urbanizar uma área que até agora só tinha sido cultivada, torna urgente a necessidade de conhecê-la cientificamente e verificar o grau de importância da vila. “É um local absolutamente intacto. Não há construção ulterior ao abandono da vila”, explica o arqueólogo que também é professor catedrático da Universidade Aberta.
A região de Lisboa´é rica em vestígios romanos
Durante o mês de Julho, uma equipa formada pelo Centro de Estudos Arqueológicos do concelho, pelo GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente do por estudantes e professores de arqueologia estudaram o local. A Câmara de Oeiras apoiou o projecto com dez mil euros.
Houve recolha de material à superfície e posteriormente uma empresa alemã contratada, utilizou a técnica do sonar, para fazer uma sondagem ao solo. “O georadar permitiu a identificação de estruturas arqueológicas enterradas”, disse o especialista. E o que se viu foram muros ortogonais, que “aparentam configurar a parte urbana da vila”. Para além disso sabe-se que existem fragmentos de estuque pintados e placas de mármore de revestimento.
À volta da capital Olisipo, o nome romano da cidade de Lisboa, foram edificadas muitas vilas, que cultivavam terrenos à volta. Cada vila romana continha uma parte rural e uma propriedade urbana, onde vivia o proprietário e que tinha várias construções.
Existem vestígios que datam de uma altura imediatamente anterior à chegada dos romanos à região, entre os séculos III e I antes de Cristo. “Estas vilas podem estender-se até ao século IV ou V depois de Cristo”, explica o arqueólogo. Mas ainda se sabe muito pouco.
Toda a prospecção feita até agora foi não intrusiva. Em Setembro iniciam-se as escavações para se perceber o grau de importância do local. Se estiver bem preservado, para além do valor científico, pode tornar-se numa área de interesse arqueológico, com importância do ponto de vista cultural e educacional.
“Tudo indica que pode vir ser uma área de interesse arqueológico”, explica o arqueólogo. Perto da região, o achado só é comparável à vila romana de Freiria, no Concelho de Cascais e a uma vila romana que está debaixo de um edifício do século XVIII do centro histórico de Oeiras.
O relatório final está previsto para 2009. Cabe ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico avaliar se a área deve ser só preservada por registo documental ou se a sua importância patrimonial e científica justifica a delimitação de uma área de interesse arqueológico. Nesse caso, qualquer construção teria de respeitar o traçado da vila romana, que poderia ser integrada no circuito turístico e cultural do concelho e do país.
Fonte: (08 Ago 2008). Público: http://ultimahora.publico.clix.pt/notici
Construção de empreendimento hidroeléctrico
A construção do Empreendimento Hidroeléctrico do Sabor vai implicar uma gigantesca tarefa de levantamento e salvaguarda de bens patrimoniais, só comparável ao que aconteceu com a barragem do Alqueva. Ao longo do regolfo de 56 quilómetros que vai ser criado com a barragem principal foram identificados cerca de duas centenas de sítios de interesse patrimonial.
Três desses sítios são considerados de valor excepcional (gravura rupestre paleolítica do ribeiro da Sardinha, conjunto arqueológico-etnográfico de Cilhades e povoado fortificado da Idade do Ferro de Castelinho, junto de Cilhades), 13 com valor muito elevado e 20 de valor elevado.
Várias pontes, como as de Remondes e do Sabor, serão alvo de obras de reforço para ser submersas; uma ou outra gravura rupestre das várias que foram descobertas no Sabor poderão ser recortadas e trasladadas para outro local; e para cerca de duas dezenas de sítios o caderno de encargos de salvaguarda prevê a realização de sondagens geológicas e escavações. Todos os trabalhos têm que estar concluídos até 2012/2013, quando se prevê que a albufeira comece a encher.
Um dos lugares que vão ser alvo de escavações é o povoado de Cilhades, situado na margem direita do Sabor e pertencente à freguesia de Felgar, Moncorvo. Composto por várias casas em alvenaria de xisto, encontrava-se em vias de classificação pelo antigo Ippar. Nos estudos da barragem, reconhece-se que "o povoado de Cilhades [desabitado desde os finais do século XIX] constitui um caso exemplar, em termos patrimoniais e científicos, no vale do Sabor", uma vez que conserva "vestígios de ocupação humana continuada, desde a Idade do Ferro até ao presente".
No fundo, a aldeia de Cillhades está para o vale do Sabor como a Aldeia da Luz estava para o Alqueva ou Vilarinho das Furnas para a barragem das Furnas, no Gerês. A diferença é que estas últimas eram habitadas e as povoações tiveram que ser realojadas noutro local. No caso do Sabor, também estão previstas trasladações importantes, como são os casos da Capela de S. Lourenço de Cilhades e do Santuário de Santo Antão da Barca. Este último é um dos lugares de culto mais famosos da região e a sua mudança de local é tudo menos pacífica. Mas, apesar de pairar sobre o santuário uma lenda de mau agoiro para o caso de ser devassada, a sua trasladação é irreversível.
Os primeiros trabalhos arqueológicos já foram adjudicados pelo consórcio que ganhou a construção do empreendimento, formado pelas empresas Bento Pedroso e Lena. Mas o facto de estas adjudicações serem parcelares está a criar apreensão junto de alguns arqueólogos, que temem não ser possível, desta forma, estudar o vale de uma forma integrada, como um território homogéneo.
Mas o que tem gerado maiores críticas foi a decisão da empresa Ecossistema, responsável pela realização do estudo de impacte ambiental, de cancelar um concurso que tinha aberto para a realização prévia de escavações e sondagens arqueológicas em alguns lugares com interesse (ver caixa). Sobre a EDP, a dona da obra, recai agora a suspeita de pretender evitar surpresas que pudessem atrasar ainda mais o empreendimento.
Fonte: Pedro Garcias (08 Ago 2008). Público: http://ultimahora.publico.clix.pt/notici
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