Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
Povoado com 3.000 anos descoberto em Vila Franca de Xira pode ser muito importante para estudar a presença fenícia no Vale do Tejo.
A descoberta de peças cerâmicas de origem fenícia num povoado pré-histórico que está a ser alvo de escavações arqueológicas nos arredores de Vila Franca de Xira poderá ser determinante para conhecer melhor os primeiros contactos que os mercadores fenícios estabeleceram, há cerca de 2800 anos, com as populações indígenas do Vale do Tejo.
Os materiais ali encontrados nos últimos meses serão agora estudados e datados com recurso à técnica de carbono 14, admitindo-se que os primeiros contactos estabelecidos com a aldeia dos finais da Idade do Bronze descoberta no Vale de Santa Sofia tenham ocorrido antes da fixação de entrepostos comerciais fenícios (feitorias) em aglomerados mais populosos que então existiam nas zonas das actuais cidades de Lisboa (Olisipo), Almada (Almaraz) e Santarém.
Os resultados das escavações arqueológicas efectuadas em Vila Franca desde o Verão de 2006, no âmbito da preparação da obra de construção do parque urbano de Santa Sofia, poderão ter grande importância para o conhecimento das relações iniciais dos fenícios com as populações ibéricas.
"A ocupação fenícia na zona do Tejo tem sido estudada na óptica dos grandes entrepostos comerciais. Na óptica do colonizador e não do colonizado. Daí serem estas descobertas muito importantes e interessantes para a comunidade científica, porque neste sítio os fenícios inter-
agiram com o mundo indígena", sublinha João Pimenta, um dos dois arqueólogos que têm trabalhado com o museu municipal local neste projecto.
O especialista salienta que foi descoberta uma ânfora fenícia e outros materiais que atestam a presença dos mercadores originários do extremo oriental do Mediterrâneo (actual Líbano) nesta zona do Tejo.
Os fenícios trouxeram para as comunidades locais um conjunto de técnicas e de produtos até então desconhecidos, designadamente a escrita, a produção de vinho e de azeite, as técnicas de redução do ferro, j. Este metal existia enquanto minério, mas as populações da Europa ocidental não sabiam trabalhá-lo, a roda de oleiro e novas soluções arquitectónicas.
Na Península Ibérica procuravam sobretudo minérios, mas trocavam também produtos alimentares com as populações indígenas. A zona de Vila Franca já seria, na altura, rica em gado e alguns animais selvagens.
O povoado pré-histórico descoberto em 2006 numa encosta do Vale de Santa Sofia, junto à parte baixa do chamado bairro do Bom Retiro, terá cerca de 3000 anos. Os arqueólogos João Pimenta e Henrique Mendes julgam que os habitantes aproveitaram o vale abrigado, abundante em águas e os terrenos férteis para fixarem esta aldeia, situada junto à ribeira de Santa Sofia,
que desagua no Tejo a cerca de 400 metros - há 3000 anos poderia estar mais próxima do grande rio ibérico.
Na segunda fase de escavações, iniciada em Junho, foram postas a descoberto as bases em pedra calcária de duas cabanas ovais, assim como estruturas de combustão e áreas de lixeira.
Nestas, João Pimenta salienta que foram descobertas grandes quantidades de conchas de amêijoa, berbigão e ostras, que demonstram que os habitantes também faziam a apanha de marisco.
Embora as escavações e os estudos ainda não estejam concluídos, Henrique Mendes e João Pimenta julgam que os materiais detectados se podem situar nos séculos VIII ou VII antes de Cristo.
"O Bronze Final é muito pouco conhecido no Vale do Tejo, tem pouca informação e é pouco investigado. É a primeira vez que surgem cabanas com esta dimensão no Vale do Tejo. Tínhamos alguma coisa na zona de Alpiarça, mas não com esta dimensão", frisou.
Os arqueólogos escavaram uma área com cerca de 100 metros quadrados, mas o povoado estendia-se certamente para o topo da encosta. O arqueólogo Henrique Mendes realça, também, a técnica utilizada na construção das cabanas, que, para além da base em pedra onde assentariam os troncos de suporte da estrutura, eram constituídas por coberturas de canas entrelaçadas e palha, mas tinham um reforço em barro prensado.
Os pedaços da ânfora fenícia descoberta permitem concluir que teria cerca de um metro de altura. "Ter uma ânfora cheia de vinho tinha um valor extraordinário.Seriam oferecidas pelos mercadores em troca de alguma coisa, talvez de minérios ou de sal", sustentou João Pimenta, referindo que no povoado de Santa Sofia também foram descobertas pequenas peças decorativas em bronze, outro tipo de cerâmicas que incluem grandes vasilhas para armazenar cereais e mós para os moer.
N: Jorge Talixa (06 Set 2007). O Público.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.