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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
Marvão deve o seu nome a Ibn Marwan, figura do Islão peninsular que, pelos anos finais do século IX, aqui se fortificou em discórdia face ao califa. É precisamente desse período que data a primeira referência ao povoado, constante da crónica de Al Rázi, escrita já no século X mas que conserva parcelas dedicadas aos tempos imediatamente anteriores. Aí se menciona que o Monte é conhecido como Amaia de Ibn Maruán, por oposição a outra Amaia, a das ruínas1, que deve ser a cidade romana com o mesmo nome, localizada no sopé do monte. Esta referência, que parece corresponder aos anos de 876-877, permite concluir que, já nessa altura, Marvão era um povoado de relevância militar, uma vez que, em outras ocasiões, Ibn Marwan ameaçou retirar-se para o Monte, numa afirmação de revolta militar contra Córdova.
Só no século XII voltamos a encontrar menções à localidade, numa altura de renovada importância estratégica enquanto ponto militar2, entre o avanço do reino cristão de Portugal, a resistência das tropas islâmicas e a proximidade para com Castela. Ainda assim, não se sabe ao certo quando terá sido conquistada, variando os autores entre as datas de 1160 e 11663. O século XIII é mais fértil em informações e delas podemos concluir que, em 1214, pertencia à coroa nacional, aparecendo mencionada na demarcação do termo de Castelo Branco4. Em 1226, terá recebido foral das mãos de D. Sancho II, não obstante alguns autores pensarem que o esforço de povoamento (na dependência das exigências militares ditadas pela proximidade da fronteira com Castela) possa recuar ao reinado de D. Afonso II5. Finalmente, em 1271, D. Afonso III doou a vila a seu filho, D. Afonso Sanches, que constituiu um verdadeiro senhorio fronteiriço na região e que chegou a fortificar-se contra seu meio-irmão, D. Dinis.
Só a partir da recuperação da posse da vila pelo monarca, ocorrida em 1299, se pensa que se iniciou a construção do actual castelo. O facto de encontramos aqui algumas características plenamente góticas parece vir em favor desta hipótese. Do recinto fazem parte dois níveis claramente diferenciados. O primeiro, mais pequeno e no extremo oposto ao da povoação, corresponde ao castelo propriamente dito. Com uma entrada em cotovelo protegida directamente pela poderosa e quadrangular torre de menagem, que assim se associa à defesa activa do reduto, apesar da sua escassa altura, (dispondo apenas de dois pisos). Neste nível superior, existe ainda a porta da traição, também protegida por um pequeno torreão, e uma cisterna que se admite poder ser ainda islâmica1. O segundo, inferior, é bem mais vasto e possui um amplo espaço para aquartelamento e movimentação de tropas. Aqui, o elemento mais significativo é o complexo sistema de entrada, com tripla porta protegida por outros tantos adarves e por várias torres. O sistema medieval da fortaleza manteve-se genericamente até ao século XVII, altura em que Marvão viu reforçada a sua importância no quadro das Guerras da Restauração. Sob o impulso do abade D. João Dama, reformulou-se parcialmente o dispositivo com baluartes estrelados a proteger as principais portas e o extremo da fortaleza. Nessa altura, porém, Marvão possuía apenas 400 habitantes e a relevância da vila não se podia já comparar a Castelo de Vide, onde se concentraram os principais esforços de defesa contra Espanha.
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[IPPAR (SIDARUS, 1991; BARROCA, 2000; COELHO, 1924; PERES, 1969)].
Paradigma das origens da nacionalidade e da própria figura de D. Afonso Henriques, o Castelo de Guimarães é um dos monumentos mais representativos do imaginário medieval português. A sua construção inicial remonta ao tempo de Mumadona Dias, que o mandou edificar pelos meados do século X para defender o mosteiro de Santa Maria de Guimarães dos ataques muçulmanos e normandos. Desse primitivo reduto militar nada se sabe além do facto de ser um dos primeiros exemplos “de uma estrutura castelar erguida para assegurar a protecção de um mosteiro, um binómio que se viria a verificar muitas outras vezes nas centúrias seguintes”1.
Mais de um século depois, o Conde D. Henrique escolheu Guimarães para estabelecer a sua corte. Talvez tenha pesado na sua decisão a segurança que o Castelo de São Mamede, assim lhe tinha chamado sua fundadora, oferecia. O forte necessitaria de reformas urgentes e o conde optou por demolir parte da construção de Mumadona, ampliando a área ocupada pela fortaleza original, com novos muros que apresentam uma técnica já muito próxima do Românico.
Datam do século XII as mais importantes reformas arquitectónicas no castelo. De acordo com estudos é este tipo de aparelho, já plenamente Românico, que “percorre, pela primeira vez de forma integral, todo o perímetro amuralhado do castelo (...) embora ignore todos os torreões e não se detecte na Torre de Menagem” 1. Esta imponente torre quadrangular que hoje tão singularmente caracteriza o monumento, foi construída em época mais tardia, já na segunda metade do século XIII. Da reforma efectuada datam ainda os 8 torreões e uma parte significativa das muralhas da cidade.
Na viragem para a 2ª dinastia, parte do espaço do castelo foi privatizado, construindo-se um paço senhorial destinado ao alcaide da fortaleza. Organizado em quatro andares e com um espaço médio1 de cerca de 100 a 120m2 a sua construção significou a derradeira renovação do velho castelo medieval. A radical mudança nas tácticas militares, motivada pela introdução da pirobalística, determinou o início de uma longa decadência da fortaleza. Logo no século XVI, aqui foi instalada a cadeia da cidade. No século seguinte, o recinto acumulou as funções de palheiro real e de pedreira.
O século XIX foi, sem dúvida, o mais desastroso período para o monumento. O estado de ruína do Castelo aumentava cada dia e, em 1836, um dos membros da Sociedade Patriótica Vimaranense defendeu a demolição do Castelo e a utilização da sua pedra para ladrilhar as ruas de Guimarães, já que a fortaleza tinha sido usada como prisão política no tempo de D. Miguel. Tal proposta nunca foi aceite e 45 anos depois, a 19 de Março de 1881, em Diário do Governo, classificava-se o Castelo de Guimarães como o único monumento histórico de primeira classe em todo o Minho.
Em 1937 dava-se início ao restauro da estrutura. Esta campanha, foi conduzida pela DGEMN, com projecto do arquitecto Rogério de Azevedo, um dos principais nomes do restauro patrimonial no nosso país naquela primeira metade do século XX. O restaurado Castelo de Guimarães foi inaugurado a 4 de Junho de 1940, por ocasião das Comemorações do VIII Centenário da Fundação da Nacionalidade.
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[IPPAR (BARROCA, 1996)]
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