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NOTÍCIAS DE ARQUEOLOGIA

O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...



Quinta-feira, 31.05.07

Mosteiro dos Jerónimos: 21 Maravilhas ...

O Mosteiro dos Jerónimos é uma obra fundamental da arquitectura manuelina. O risco inicial é de Boitaca (1502), que lançou os fundamentos da igreja e do claustro, e cuja campanha de obra inclui os arranques do portal principal, actualmente abrindo para um nártex abobadado formado pelo varandim coberto que estabelece ligação com as arcadas do corpo fronteiro (onde está sediado o Museu Nacional de Arqueologia). O portal é em arco polilobado, abatido, encimado por representações alusivas ao mistério de Belém. De cada lado da entrada destacam-se, sobre mísulas, as estátuas de vulto de D. Manuel e de D. Maria.


A meio da fachada Sul, voltada para o Tejo, rasga-se o belo pórtico de João de Castilho, estruturado ao modo de monumental relicário de ourivesaria, sobrepujado pela estátua da Virgem de Belém e o Arcanjo S. Miguel, e decorado com esculturas dos Apóstolos, Profetas, Doutores da Igreja, Sibilas e anjos. No registo inferior, ao centro do mainel que divide a porta, uma estátua do Infante D. Henrique. O portal é ladeado por dois janelões de arco redondo.



A igreja é de planta longitudinal, em cruz latina, com três naves cobertas por abóbada única, rebaixada, apoiada em oito pilares octogonais de grande altura. Sistema que possibilita a criação de um espaço transparente, unificado e luminoso. A actual Capela-mor, Maneirista, é da autoria de Jerónimo de Ruão e guarda os túmulos, classificados de D. Manuel I, D. Maria, D. João III e D. Catarina. O belo retábulo-mor é de autoria de Lourenço de Salzedo, pintor régio. No transepto estão os túmulos de D. Sebastião e do Cardeal D. Henrique e, no primeiro tramo do sub-coro, estão os cenotáfios de Luís de Camões e de Vasco da Gama.


O Claustro, a Norte, é de dois andares abobadados decorado com motivos relevados cristológicos, pontuados por heráldica régia. A Casa do Capítulo, a Nascente do Claustro, foi reconstruída em 1884 e alberga o túmulo de Alexandre Herculano. No Refeitório, paralelo à parede Oeste do Claustro e coberto por uma única abóbada abatida e polinervada, conserva-se uma pintura de Avelar Rebelo representando São Jerónimo.


http://www.7maravilhas.sapo.pt/mon13.html
[IPPAR]

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por noticiasdearqueologia às 23:10

Quarta-feira, 30.05.07

Mosteiro de Alcobaça: 21 Maravilhas...

A Abadia de Alcobaça é um dos mais importantes mosteiros cistercienses medievais. Ao estatuto de monumento emblemático da Ordem durante o século XIII, a nível europeu, juntam-se os de primeira obra inteiramente gótica de Portugal e de segundo panteão da monarquia nacional. O mosteiro foi fundado em 1153 por doação do nosso primeiro monarca a Bernardo de Claraval. A obra terá arrancado, segundo uma rígida planta Bernardina, em 11781. De acordo com os mais recentes estudos, são três os momentos distintos marcados no monumento. À primeira fase pertence o “traçado geral do convento (...) e a construção da parte mais importante da cabeceira, transepto e coro dos monges” 2. Devido a um mestre francês, a opção foi por uma cabeceira com capela-mor de duplo tramo, ladeada por deambulatório onde se abriam originalmente nove capelas radiantes, de planta trapezoidal com parede fundeira rectangular. Uma das suas grandes novidades foi a inclusão de arcobotantes a amparar o deambulatório, solução claramente Gótica e sem paralelo, até então, no país.



Quando a obra chegou ao quinto tramo do corpo, deu-se uma mudança na orientação do projecto. Entre as alterações então efectuadas, salienta-se a diferente elevação das naves, que passaram a estar quase à mesma altura, e a adopção de um repertório decorativo de tendência coimbrã nos capitéis2. Finalmente, os dois últimos tramos e a fachada devem-se a um terceiro mestre, que rematou o conjunto com uma galilé e o actual portal principal, a que se sobrepunha uma fachada em empena. Tendo em conta que o corpo de D. Afonso II foi trasladado para esta galilé em 1233, é de crer que a obra estaria praticamente pronta por essa altura2. Apesar destas diferenças, o conjunto impressiona, ainda hoje, pela sensação de normalização dos elementos que o constituem, a que não foram alheias as primordiais directrizes Bernardinas de austeridade e simplicidade. A opção pelos capitéis vegetalistas (quase invisíveis na massa vertical de suportes e de paredes) e o ritmo ordenado dos tramos do corpo são a marca mais evidente dessa tendência estética, tão característica dos cistercienses, a que não falta uma sugestão militar transmitida pelo coroamento contínuo de merlões3.



Nas primeiras décadas do século XIV construiu-se o claustro, ao que tudo indica com o patrocínio de D. Dinis. Ele foi executado pelo arquitecto Domingos Domingues, cujo nome consta de uma lápide in situ. Artisticamente, é uma obra que denota “hesitações de programa e encurtamentos” 3 mas cujos capitéis, tematicamente muito variados e de assinalável qualidade técnica, nada têm já de Românico. Deverá ter existido, todavia, um primeiro projecto de que restam alguns vestígios4.


Ao longo dos séculos seguintes, foram muitas as obras e transformações no mosteiro. Como principal panteão régio da primeira dinastia, aqui se fizeram sepultar D. Pedro e D. Inês de Castro, em dois túmulos de qualidade ímpar a nível europeu. Na época Manuelina registaram-se novas obras, como o átrio da sacristia e o seu decorado portal e, no Barroco, novas realizações de actualização estética. Já Neo-gótica é a sala dos túmulos, aberta para o braço Sul do transepto.
http://www.7maravilhas.sapo.pt/mon12.html
[IPPAR (GUSMÃO, 1948; REAL, 1998; PEREIRA, 1995; ALMEIDA e BARROCA, 2002).

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por noticiasdearqueologia às 23:33

Quarta-feira, 30.05.07

Povoações Romanas

Lista alfabética de povoações romanas referidas nos itinerários, sua localização e limites territoriais na sequência Norte-Oeste-Este-Sul.

ABELTERIO, Mansio referida no Itinerário XIV de Antonino, talvez em Alter do Chão ou Alter Pedroso.
AD AQUAS / AQUAE FLAVIAE, Civitas, Chaves.
AD ATRUM FLUMEM, Mansio desconhecida referida no Itinerário XII de Antonino.
AD SEPTEM ARAS, Mansio referida no Itinerário XIV e XV de Antonino, ponto de confluência das vias, talvez em Sra. da Graça dos Degolados, Campo Maior.
AMMAIA, Civitas, Aramenha, Portalegre.
AQUABONA, Mansio referida no Itinerário XII de Antonino, talvez Coina-a-Velha em S. Lourenço, Azeitão.
AQUAE FLAVIAE / AD AQUAS, Civitas, Chaves.
ARANNIS, Mansio referida no Itinerário XXI de Antonino, talvez Garvão, Ourique ou Sta. Bárbara de Padrões, Castro Verde.
ARAVORUM, ver Civitas ARAVORUM.
ARITIO PRAETORIO, Mansio referida no Itinerário XIV de Antonino, talvez em Agua Branca, a poente de Ponte de Sor.
ARITIUM VETUS, Casal da Várzea?, Alvega, Abrantes (N-Rio Tejo O-Rib. da Foz em Constância E-Amieira).
ARUCCI, Mansio referida no Itinerário XXI de Antonino, talvez Moura. (ver nota 3).
BAESURIs/ESURI, Castro Marim.
BALSA, Civitas, Torre de Aires, Luz de Tavira (N-Serra do Caldeirão O-Rib. de Bias E-Rio Guadiana S-Atlântico).
BRACARA Augusta, Conventus, Braga.
BUDUA, Mansio referida no Itinerário XIV de Antonino, talvez já em terrotório espanhol.
CAECILIANA, Mansio referida no Itinerário XII de Antonino, talvez em Águas de Moura ou em Moinho Novo, margem direita da ria do Sado (ver nota 2).
CALADUNO, Mansio referida no Itinerário XVII de Antonino, talvez na região de Boticas (ver nota 1).
CALANTICA, Santana do Campo?, Arraiolos.
CALE/CALEM, Porto ou Gaia.
CAETOBRIGA, Civitas, Setúbal.
Civitas ARAVORUM, Marialva, Meda (E-Rio Côa); capital dos Aravi.
CIVITAS BANIENSIS, Mesquita, Povoado do Baldoeiro, a NW de Torre de Moncorvo.
Civitas COBELCORUM, Almofala?, Figueira de Castelo Rodrigo (N-Rio Douro O-Rio Côa E-Rio Águeda S-Serra da Marofa).
Civitas ZOELARUM, Castro de Avelas?, Bragança; eventual capital dos Zolae.
COLIPPO, Civitas, S. Sebastiao do Freixo, Leiria.
COMPLEUTICA, Mansio referida no Itinerário XVII de Antonino, talvez Castro de Avelãs ou Babe, Bragança.
CONÍMBRIGA, Civitas, Condeixa-a-Velha, Coimbra.
DIPONE, Mansio desconhecida referida no Itinerário XII de Antonino.
EBORA ou Liberatitas Iulia, Civitas, Évora.
EBUROBRITTIUM, Civitas, Gaeiras, Óbidos.
ESURI/BAESURIs, Castro Marim.
EVANDRIANA, Mansio desconhecida referida no Itinerário XII de Antonino.
FINES, Mansio desconhecida referida no Itinerário XXI de Antonino (ver nota 3).
FRAXINUM, Mansio referida no Itinerário XV de Antonino, talvez no Monte da Pedra, Crato.
IERABRIGA, talvez entre Paredes e Sete Pedras, Alenquer.
IGAEDITANIA ou a visigótica Egitânia, Idanha-a-Velha.
LACOBRIGA, na zona de Lagos.
LAMECUM, talvez o nome de Lamego, outra possível capital dos COILARNI
LANGOBRIGA, Civitas, na zona de Fiães, Santa Maria da Feira.
LIMIA, Mansio referida no Itinerário XIX de Antonino em Ponte de Lima.
LORIGA, talvez Loriga, Seia.
LONGOBRIGA, talvez Longroiva, Meda.
MALATECA, Mansio referida no Itinerário XII de Antonino, talvez na Marateca (ver nota 2).
MATUSARO, Mansio referida no Itinerário XIV de Antonino, talvez em Monforte ou Monte de Figueira, Arronches.
MIROBRIGA ou Merobrica, Santiago do Cacém.
MONTOBRIGA, Mansio referida no Itinerário XV de Antonino, talvez em Arronches.
MORON, Chões de Alpompé, Santarém.
MYRTILI ou MYRTILIS, Mértola.
OCCULIS CALIDARUM, Caldas de Vizela.
OLISIPO, OLISIPPONE, Felicitas Iulia, Ulysipo, Civitas- Lisboa.
OSSONOBA, Civitas, Faro (E-Rib. de Bias; O-Vale de Albufeira N-Serra do Caldeirão S-Atlântico).
OSTIUM FLUMINIS ANAE, Foz do rio Guadiana, Ayamonte ou Vila Real de St. António.
PACE IULIA ou Pax Julia, Conventus, Beja.
PINETUM, Mansio referida no Itinerário XVII de Antonino talvez entre Possacos, Valpaços e Vale de Telhas, Mirandela.
PLAGIARIA, Mansio referida no Itinerário XIV e XV de Antonino, talvez já em terrotório espanhol.
PORTUS HANIBALIS, na zona de Portimão.
PRAESIDIO, Mansio referida no Itinerário XVII de Antonino; talvez no Castro de Codeçoso ou na região de Botica. (ver nota 1).
REBORETUM, Mansio referida no Itinerário XVII de Antonino; talvez na Serra do Roboredo, Lamalonga, Macedo de Cavaleiros. (ver nota 1).
SALACIA, Civitas, Alcácer do Sal (ver nota 2).
SALACIA, Mansio referida no Itinerário XVII de Antonino a XX milhas de Braga; talvez na Serra da Cabreira, Vieira do Minho. (ver nota 1).
SALANIANA, Mansio referida no Itinerário XVIII de Antonino a XXI milhas de Braga, hoje Travassos, Vilar, Terras de Bouro.
SARAPIA, Santa Margarida do Sado? ou Peroguarda?, Ferreira do Alentejo.
SCALLABIN ou SCALLABIS, Conventus, Santarém ou Pombalinho em Vale de Figueira, Santarém.
SELLEUM ou SELLIUM, Civitas, Tomar (N-Ansião E-Rio Zêzere O- COLIPPO S-SCALLABIN).
SERPA, Mansio referida no Itinerário XXI de Antonino talvez a Serpa actual (ver nota 3).
TABUCCI, Mansio referida no Itinerário XV de Antonino talvez na zona do Tramagal, Abrantes.
TALÁBRIGA, Civitas, seria no recentemente escavado Cabeço do Vouga, Marnel, Lamas do Vouga, Águeda (N-Úl E-Atlântico O-Benfeitas S-Mealhada).
TONGOBRIGA, Civitas, com monumentos notáveis; na aldeia de Freixo em Marco de Canaveses. (E-Marão O-Tâmega S-Douro); mais -|.
VIPASCA, Minas Romanas Metallum Vipascensis, Aljustrel.

         Notas:



  • nota 1: Estas localizações alternativas referem-se às variantes Norte e Sul do Itinerário XVII de Antonino assumindo que a Mansio AD AQUAS aí referida corresponde a Chaves. A partir desta cidade, as localizações propostas assumem o itinerário corresponde à variante Sul, ou seja, pelo concelho de Valpaços.

  • nota 2: Devem existir erros nas distâncias entre estações referidas no Itinerário XII de Antonino, porque à luz do itinerário a Mansio SALACIA ficaria bem mais a sul da actual Alcácer. A mesma dúvida também se coloca nas estações de CAECILIANA e MALATECA.

  • nota 3: Há grandes dúvidas em considerar a Mansio SERPA do Itinerário XXI de Antonino com a Serpa actual já que a distância indicada a EBORA de 13 milhas não é aceitável e poderá ser um mais erro do itinerário. No entanto, na cidade não existem importantes vestígios romanos. Também se desconhecem as localizações das Mansiones seguintes FINES e ARUCCI, supondo-se que esta última possa corresponder a Moura.

  • Mais informações in: http://viasromanas.planetaclix.pt/vrinfo.html#antonino


 

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por noticiasdearqueologia às 00:24

Quarta-feira, 30.05.07

Mosteiro da Batalha: 21 Maravilhas de Portugal

O Mosteiro da Batalha é o mais importante símbolo da Dinastia de Avis. Construído por iniciativa de D. João I, na sequência de um voto à Virgem, caso vencesse a Batalha de Aljubarrota. Ao longo do século XV, praticamente todos os monarcas aqui deixaram a sua marca.


O arranque das obras deu-se em 1388 e foi conduzido por Afonso Domingues. A ele se atribui o plano geral da construção e o grande avanço dos trabalhos na igreja e no claustro. A magnífica igreja de três naves e transepto saliente por si delineada, com cabeceira de cinco capelas, sendo a central de duplo tramo e terminação poligonal, terá sido o ponto alto da sua carreira. Com efeito, a partir de 1402, a chefia do estaleiro foi entregue a Huguet, arquitecto de provável origem catalã que inaugurou entre nós o tardo-gótico. Documentado à frente do projecto até 1438, a ele se deve o abobadamento dos espaços da igreja e da Sala do Capítulo (onde experimentou, pela primeira vez, uma abóbada estrelada), a construção da Capela do Fundador, o início das obras das Capelas Imperfeitas, bem como a conclusão da fachada principal, onde sobressai o portal axial. Este é delimitado por um arco canopial que integra os escudos de D. João I e de D. Filipa. No tímpano, exibe-se Cristo em Majestade ladeado pelos Evangelistas, e as arquivoltas são repletas de figurações que continuam pelas estátuas-colunas, ao abrigo de um complexo programa iconográfico.



Contudo, a mais emblemática obra de Huguet é a Capela do Fundador. Ela foi concebida para panteão régio. É um compartimento quadrangular que se adossa aos três tramos ocidentais da fachada lateral Sul e integra, ao centro, um esquema octogonal de suportes onde descarrega a abóbada estrelada. No circuito interior desta capela, colocou-se o túmulo duplo de D. João I e de D. Filipa, realização sem antecedentes no nosso país. Na capela repousam também os filhos do casal régio (como D. Henrique e o regente D. Pedro), de acordo com a decisão testamentária de D. João I em fazer deste espaço um efectivo panteão.


Em 1436, D. Duarte decidiu edificar uma capela funerária para si próprio. O projecto concebido por Huguet privilegiava uma planta circular que não viria a ser concluída por morte do mestre. Desta forma a construção cessou até ao reinado de D. Manuel e, mesmo nessa altura, não foi concluída. Razão de esta parcela ser conhecida como as Capelas Imperfeitas.


No reinado de D. Afonso V edificou-se o segundo claustro do mosteiro. Ele resulta da intervenção do arquitecto Fernão de Évora e, estilisticamente, é uma obra que contraria o tardo-gótico de raiz flamejante, tendo-se optado deliberadamente pela austeridade arquitectónica, que rejeita até a inclusão de capitéis a marcar o arranque dos arcos.


Só no século XIX o Mosteiro voltou a ser intervencionado, desta vez com o objectivo de restaurar o conjunto. Campanha que se prolongou por meio século e que é um capítulo fundamental da nossa História do Restauro monumental.
Outras Designações: Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória ou Mosteiro de Santa Maria da Vitória


http://www.7maravilhas.sapo.pt/mon11.html
[IPPAR]

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por noticiasdearqueologia às 00:16

Segunda-feira, 28.05.07

Igreja e Torre dos Clérigos: 21 Maravilhas...

Das obras do arquitecto toscano Nicolau Nasoni no Norte de Portugal, a igreja e torre dos Clérigos é, não apenas a sua obra documentada mais antiga, mas também aquela que maior projecção conheceu. A documentação que resistiu permite-nos acompanhar o andamento dos trabalhos, que tiveram início em 1732, ou seja, no ano seguinte à aprovação do plano de Nasoni pela Irmandade dos Clérigos. Esta existia desde 1707, com sede na Igreja da Misericórdia, resultando da fusão de três confrarias1. Nesse ano era presidente o deão Jerónimo de Távora e Noronha, protector de Nasoni, o que terá favorecido a escolha deste arquitecto. Como responsáveis pela obra encontramos António Pereira (responsável pelo traçado de São João Novo), o entalhador Miguel Francisco da Silva e, já na última fase, Manuel António de Sousa.



As obras da igreja foram bastante demoradas. Em 1745 foi necessário proceder a uma vistoria dos alicerces da fachada, destruindo-se o que existia para se levantar de novo com bases seguras. Por este facto, o templo estaria totalmente concluído somente em data próxima a 1750, muito embora a escadaria de acesso ao portal principal remonte aos anos de 1750-53/1754 (e posteriormente alterada em 1827).


Se na fachada observamos uma composição cenográfica, que se desenvolve na vertical e tira partido de um amplo leque de elementos decorativos de cariz tardo-barrocos, o espaço interior é marcado pelo desenho elíptico da sua planta. Por sua vez, a galeria que percorre a nave, de origem toscana, é uma novidade na arquitectura do Norte, razão pela qual foi utilizada como modelo em muitas das igrejas construídas posteriormente2. A monumentalidade do espaço interno acentua-se através do retábulo marmóreo (colorido) da capela-mor, executado entre 1767 e 1780 pelo arquitecto Manuel dos Santos Porto. As representações das virtudes da Virgem enquadram-se na iconografia da igreja, dedicada desde a fundação a Nossa Senhora da Assunção. Por sua vez, o projecto da torre e da Casa dos Clérigos é mais tardio, tendo sido aprovado em 1754. A enfermaria e a secretaria, atrás da igreja, estavam concluídas em 1759, e a Torre, com os seus 240 degraus e 75 metros de altura, foi terminada entre 1757 e 1763, constituindo a “síntese do estilo de Nasoni”, onde os valores estruturais imperam sobre os decorativos, que se vão intensificando à medida que nos aproximamos do topo da torre3. As semelhanças entre esta obra máxima do arquitecto toscano e a Torre Nueva da Sé aragonesa de Zaragoza, da autoria de Gian Bautista Contini (1641-1722), são evidentes ao nível da configuração e da linguagem barroco-romana. Ainda que Nicolau Nasoni possa não ter conhecido esta obra, a proximidade entre ambas “trai o domínio das mesmas fontes do classicismo romano de Seiscentos” 4.


A igreja e torre dos Clérigos é considerada o ex-libris do Porto, uma das primeiras igrejas barrocas da cidade e a primeira grande obra de Nasoni, cujas arquitecturas marcaram tão fortemente a paisagem urbana do Norte do país nas décadas centrais do século XVIII.


http://www.7maravilhas.sapo.pt/mon10.html
[IPPAR (ALVES, 1989; SMITH, 1966; FERREIRA ALVES, 1989; SERRÃO, 2003).

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por noticiasdearqueologia às 21:46

Domingo, 27.05.07

Igreja de S. Francisco (Porto): 21 Maravilhas...

A presença dos frades franciscanos na cidade do Porto foi testemunhada logo em 1223. A construção da sua igreja iniciou-se, ao que tudo indica, em 1244, mas as resistências por parte das autoridades religiosas tradicionais da cidade determinaram que as obras se tivessem arrastado por todo o século XIII e que o resultado tenha sido um templo modesto, pequeno e, muito provavelmente, de uma só nave1.


No reinado de D. Fernando procedeu-se à construção do templo que hoje subsiste. As obras iniciaram-se no ano da morte do rei, 1383, e prolongaram-se pelos primeiros anos do século XIV, entrando, provavelmente, pela segunda década. O resultado foi um templo de 3 naves de cinco tramos, transepto saliente, profusamente iluminado e cabeceira tripartida, com capela-mor mais profunda, cintada por grossos contrafortes. O modelo planimétrico adoptado não foi mais que o já ensaiado em variadíssimos templos góticos do país, a partir do gótico mendicante do século XIII. Mas a obra de São Francisco do Porto ajuda a caracterizar o Gótico nortenho da transição para a dinastia de Avis. Prova disso é o “lacrimal decorado com bolas” na parte superior das frestas da capela-mor1.



Nos séculos seguintes, a igreja foi objecto de várias campanhas artísticas. Ainda do século XV, do reinado de D. João I, é a pintura mural alusiva à Senhora do Rosa, obra atribuída a António de Florentim e uma das mais conservadas no país. Da década de 30 do século XVI data a Capela de São João Baptista, desenhada por João de Castilho, e que constitui um dos momentos-chave na evolução deste que foi um dos principais arquitectos do ciclo Manuelino.


A principal campanha moderna da igreja foi efectuada na época Barroca, remodelação que confere ao interior do templo, ainda hoje, o estatuto de igreja forrada a ouro. Com efeito, nos inícios do século XVIII, todo o interior engrandecido ao longo da centúria anterior, foi alvo de uma remodelação radical, construindo-se os principais retábulos de talha dourada. O retábulo-mor, dedicado à Árvore de Jessé, foi reformulado entre 1718 e 1721 por Filipe da Silva e António Gomes, sobre uma obra pré-existente, e constitui o mais exuberante exemplo desta temática em Portugal. Mais modesto, o Retábulo de Nossa Senhora da Rosa data já da década de 40, da responsabilidade do arquitecto Francisco do Couto. E foram muitas as actualizações estéticas durante todo o século XVIII, como o prova o portal, enquadrado por pares de colunas salomónicas suportando um amplo entablamento, e outras obras já rococós.



No século XIX, com a extinção das ordens religiosas e um violento incêndio ocorrido em 1833, logo a seguir ao cerco do Porto pelas tropas miguelistas, o convento entrou em decadência. O claustro foi arrasado para dar lugar ao Palácio da Bolsa e a igreja foi ocupada para diversos fins, como o de armazém da Alfândega da cidade.


A importância desta igreja para o Porto e para toda a História da Arte portuguesa está bem expressa na atenção dada pela DGEMN aquando do restauro iniciado em 1957. Ao contrário da larga maioria dos nossos monumentos de origem medieval, em que toda a obra pós-medieval foi sacrificada, em São Francisco do Porto tudo se manteve.
http://www.7maravilhas.sapo.pt/mon09.html
[IPPAR (BARROCA, 2002)]

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por noticiasdearqueologia às 22:36

Domingo, 27.05.07

Novas descobertas arqueológicas no Monte Molião (Lagos)

 


Esta foi uma semana cheia de surpresas para Elena Morán, arqueóloga da Câmara de Lagos, uma das responsáveis pelos trabalhos que têm decorrido no Monte Molião.


 Foram encontradas cetárias, ou seja, tanques de salga de peixe, na rua que dá acesso ao Molião, durante a abertura de valas para a canalização de um empreendimento que irá nascer um pouco mais à frente.
«É um verdadeiro achado, porque não havia nenhuma referência». Estão em bom estado de conservação, embora o esgoto antigo já tenha partido o rebordo superior dos tanques», garantiu Elena Morán. No terreno estão a trabalhar quatro arqueólogos, contratados pela empresa promotora da obra, a Molião Lda, que irão fazer o estudo arqueológico do local. «Os vestígios serão preservados e tentaremos ver qual a direcção das salgas», explicou Elena Morán, visivelmente entusiasmada.


 


Foto



«Estas salgas mostram que em toda a baía de Lagos havia produção industrial de preparados de peixe», adiantou a arqueóloga. Um pouco mais acima, foram também encontradas fossas com lixos romanos, que correspondem aos materiais encontrados no Monte Molião. «Estas fossas, cuja utilidade não se sabe ainda, estão cheias de fragmentos de cerâmica fina». No entanto, «só depois deste estudo se saberá o que são e para que serviam», concluiu a arqueóloga Elena Morán.
http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=14920


 


 

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por noticiasdearqueologia às 22:25

Quinta-feira, 24.05.07

Fortificações de Monsaraz: 21 Maravilhas de Portugal

Considerada uma das mais antigas vilas de Portugal, Monsaraz regista indícios de povoamento desde tempos pré-históricos, sendo inicialmente um castro fortificado. A partir de então foi sendo sucessivamente ocupada até ao período de formação da nacionalidade, sendo conquistada pela primeira vez aos Muçulmanos em 1157.
Voltando ao domínio dos almôadas depois de D. Afonso Henriques ter sido derrotado em Badajoz, a povoação viria a ser reconquistada por D. Sancho II (1232) que a doou à Ordem do Templo.


No entanto, o repovoamento cristão de Monsaraz só iria efectivar-se no reinado de Afonso III, quando o monarca lhe concedeu o primeiro foral, fixando os limites do concelho. Nos anos seguintes foi edificado o núcleo primitivo do castelo, incluindo a torre de menagem, a matriz e o tribunal Gótico, cujo interior alberga o fresco de “O Bom e o Mau Juiz”. Ao longo do século XVI e com a reforma Manuelina do foral, a povoação foi crescendo, instituindo-se localmente uma Irmandade da Misericórdia.



Durante as Guerras de Restauração, devido à proximidade com o Guadiana e a fronteira espanhola, a Coroa mandou edificar uma nova fortaleza em redor da vila, utilizando o sistema franco-holandês, ou de Vauban. O projecto da nova praça de armas foi desenhado pelos engenheiros franceses Nocilau de Langres e Jean Gillot1 e a edificação foi avançando significativamente, apesar de pontuais faltas de verbas.


Embora a planta do Forte de São Bento tivesse sido desenhada em forma estrelada, a morfologia do terreno onde se implanta levou a algumas alterações da planimetria. Com três baluartes, parapeito e uma cortina artificial, estendia-se em torno de toda a povoação, integrando no pano de muralhas a Ermida de São Bento.


A partir do século XIX, quando a sede de concelho foi transferida para Reguengos de Monsaraz, a fortificação ficou votada ao abandono, o que originou que alguns dos seus elementos ruíssem. No entanto, a estrutura muralhada continua a predominar na paisagem urbanística da vila de Monsaraz.


http://www.7maravilhas.sapo.pt/mon08.html
[IPPAR (ESPANCA, 1975)]

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por noticiasdearqueologia às 18:23

Quinta-feira, 24.05.07

Túmulo de Herodes encontrado sem ossos dentro do sarcófago

Equipa de arqueólogos israelitas escavava na região desde 1972. A Universidade Hebraica de Jerusalém anunciou ontem a primeira grande descoberta arqueológica deste século: o túmulo de Herodes, que governou a Judeia sob ocupação romana e assinalado no Novo Testamento como o responsável pela Massacre dos Inocentes. O professor israelita Ehud Netzer, responsável pela equipa de arqueólogos envolvida nestas escavações, assinalou, contudo, que não havia ossos dentro do sarcófago.
O achado arqueológico teve lugar na região conhecida como Herodium, não muito distante de Jerusalém. O túmulo de Herodes era há muitos anos um dos tesouros arqueológicos mais disputados na região. Após mais de 30 anos de investigações, a equipa de Ehud Netzer encontrou finalmente a estrutura fúnebre no topo de um monte entre dois palácios.
Em declarações públicas, Ehud Netzer, que tem assinalado escavações regulares na região desde 1972, confirmou a extrema felicidade que sentiu no momento do achado. "Todos sentem um grande interesse pela Terra Prometida e o túmulo de Herodes faz parte dessa história", afirmou à BBC.



A descoberta partiu da localização de uma antiga escada construída para a procissão fúnebre do rei, detalhadamente descrita há cerca de dois mil anos por um historiador romano. Finalmente localizada, a escada conduziu rapidamente a equipa de arqueólogos à descoberta.
No local foi encontrado um sarcófago em calcário, completamente destruído. Nas suas medidas originais, o sarcófago teria cerca de dois metros e meio de comprimento. O estudo detalhado do achado revelou a ausência de ossos, pensando o professor Netzer que os restos mortais de Herodes terão sido retirados do túmulo, algures entre os anos 66 e 72 d.C, por rebeldes judeus que lutavam contra a ocupação romana.
Uma das razões pelas quais a descoberta do túmulo de Herodes esteve tanto tempo fora do alcance dos arqueólogos deve-se a uma suposição de que a sua localização estivesse, algures, num outro complexo palaciano construído a meio do deserto. O achado revelou, afinal, outro destino final para o rei.


[Notícia publicada pelo Diário de Notícias: Quarta, 9 de Maio de 2007]

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por noticiasdearqueologia às 00:29

Quarta-feira, 23.05.07

Fortaleza de Sagres: 21 Maravilhas de Portugal

Fortaleza abaluartada, muito remodelada na segunda metade do século XVIII mas integrando um torreão quinhentista. À entrada, salienta-se o portal Neoclássico da Porta da Praça. O perímetro fortificado com baterias e canhões compreende toda a Ponta de Sagres e engloba os antigos armazéns de apetrechos, as ruínas do paiol, as casamatas, a casa dos capitães e as habitações da chamada “correnteza”, que fecha a praça-de-armas pelo lado Sul. A invulgar paisagem e a presença historicamente atestada do Infante Dom Henrique (que aqui faleceu em 1460), deram a Sagres uma posição ímpar na mitografia nacional e contribuíram para a fama internacional do lugar, cuja história é indissociável da história do Promontorium Sacrum, região referenciada desde a mais remota Antiguidade e que corresponde à Costa Vicentina, desde a Ponta da Piedade ao Cabo de São Vicente e deste à Arrifana.


Aqui conhece-se uma das maiores concentrações de menires e recintos megalíticos da Europa. Aqui se situava a Igreja do Corvo, depósito das relíquias de São Vicente até ao século XII, altura em que D. Afonso Henriques as resgatou para Lisboa.



Na Fortaleza de Sagres, além da fruição do património natural e de um espectacular panorama sobre a enseada da Mareta e o Cabo de São Vicente, podem ainda visitar-se os vestígios da Vila do Infante anteriores às muralhas setecentistas, designadamente a torre-cisterna, uma muralha corta-ventos (coroada de falsas ameias) chamada “rosa-dos-ventos”, os restos das antigas habitações e quartéis e a antiga paroquial de Nossa Senhora da Graça, que exibe um conjunto de lápides sepulcrais.


No século XX, a carga simbólica do local para a história dos Descobrimentos Portugueses fez surgir um grandioso projecto nacionalista para aqui erguer um monumento em Comemoração do Infante e da epopeia lusa, entretanto nunca executado. Em contrapartida, uma profunda intervenção da DGEMN, efectuada no âmbito das Comemorações Henriquinas de 1960, descaracterizou o lugar ao procurar devolver-lhe uma falsa autenticidade, por cópia da mais antiga imagem conhecida da Fortaleza de Sagres, contemporânea do ataque do corsário Drake, de 1587. Nos anos 90, e embora amputada da sua componente “comemorativa” de memorial evocativo dos Descobrimentos, a intervenção arquitectónica para valorização do lugar, da autoria do arquitecto portuense João Carreira, incluiu a edificação de “obra nova” e, se bem que não isenta de polémica, transformou a parcela construída em centro útil de todo o promontório, ao criar um Exposições Temporárias e Centro Multimédia (reutilização dos antigos edifícios da chamada “correnteza”), um conjunto de lojas para divulgação de produtos culturais e uma cafetaria, possibilitando introduzir ordenamento e manutenção em todo o conjunto histórico.


Os arranjos exteriores incluem a recuperação das arruinadas pré-existências aos baluartes do século XVIII, a valorização de todos os locais visitáveis do promontório e a criação de trilhos de descoberta da flora única deste lugar, com remoção das espécies infestantes (designadamente chorões). A Fortaleza de Sagres funciona ainda como núcleo técnico de apoio às intervenções arqueológicas da Direcção Regional do IPPAR no Algarve.
Outras Designações: Torre e muralhas de Sagres


http://www.7maravilhas.sapo.pt/mon07.html
[IPPAR]

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por noticiasdearqueologia às 22:53

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