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NOTÍCIAS DE ARQUEOLOGIA

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Sexta-feira, 08.05.09

Vestígios de leprosaria do século XV encontrados no Parque da Cidade em Lagos

Lagos obras parque estacionamento Parque da Cidade


As escavações arqueológicas feitas em Lagos, no âmbito da construção do Parque de Estacionamento subterrâneo, no Parque da Cidade, junto às Muralhas, já revelaram a existência de vestígios do Edifício da Gafaria (leprosaria) e outras estruturas, um cemitério de leprosos, um enterramento de escravos, uma lixeira dos séculos XV a XVII, e peças de cerâmica.


A Câmara Municipal de Lagos realizou uma reunião com as entidades envolvidas nas escavações arqueológicas, com o objectivo de dar a conhecer as primeiras análises científicas dos trabalhos.

Rui Almeida, arqueólogo e um dos directores da intervenção, afirmou que «o interesse desta escavação é tanto maior quanto o conhecimento que da mesma venha a resultar, quer para os investigadores e para a comunidade científica, quer para a comunidade em geral».

O impacto das escavações foi muito além da situação inicial, o que acabou por obrigar a trabalhos mais profundos e, em consequência, mais demorados. A importância dos achados levou a que o programa de construção do Parque de Estacionamento fosse alterado.

No entanto, foi possível continuar a construção do Parque de Estacionamento e, em simultâneo, fazer o levantamento dos vestígios arqueológicos de outras épocas.

Segundo comunicado da Câmara de Lagos, «dos vários vestígios encontrados, o do Edifício da Gafaria (leprosaria) é o mais evidente e veio confirmar as referências existentes em documentos da época. Segundo esses dados, o Edifício teria funcionado, entre 1490 até meados do século seguinte, havendo registo desta construção à data da construção do pano de muralha adjacente».

O local apresenta vários níveis de ocupação, correspondentes a períodos históricos diferentes, tendo sido identificados, num nível inferior ao Edifício da Gafaria, vestígios (um forno) de uma ocupação ainda mais remota.

Quanto à geomorfologia as escavações permitiram determinar a localização exacta da Ribeira dos Touros e os desvios que foi sofrendo ao longo dos tempos devido à intervenção humana e à ocupação dos solos.

Outra das descobertas considerada importante para os investigadores foi a da existência de dois cemitérios na zona. Primeiro foi encontrado um conjunto de mais de vinte esqueletos, cujas deformações correspondem a sinais muito evidentes da lepra. Esta informação torna Lagos num local de referência para o estudo da lepra e para a história da Medicina.

Num outro local, que coincide com «uma antiga lixeira da cidade, e misturados com os dejectos aí despejados há muitos séculos, foram encontrados outros esqueletos, cujas características, marcas culturais (modificações dentárias) e forma como se encontravam depositados, permitiram concluir tratarem-se de escravos africanos, abrindo todo um novo campo de conhecimento sobre o estatuto social do escravo à época, sobre a sua vivência e sobre os Descobrimentos Portugueses», explicou a autarquia.

Para Rui Almeida, «estas escavações e as revelações abrem um novo campo de estudo para a História da Medicina, da Engenharia, do Urbanismo, ajudando a conhecer e a compreender melhor a sociedade dessas épocas e os hábitos culturais da população».

Também Rui Parreira, da Direcção Regional de Cultura, relevou que houve uma atitude muito positiva da Câmara de Lagos quanto à salvaguarda do património, recordando «não ser esta a primeira vez que temos uma intervenção desta escala em Lagos».

Na sua intervenção referiu-se ainda às profundas alterações que a arqueologia sofreu, a partir de 1995, quando foram consagrados legalmente dois grandes princípios.

Um dos princípios é a conservação dos achados através do registo científico, o que faz com que os registos possam ser documentados com exaustão.

O outro é a aplicação ao património de um princípio conhecido na área ambiental como o do «poluidor/pagador», que prevê que a entidade que vai realizar uma determinada obra, tem que promover o registo de todos os vestígios que vão ser destruídos.

No caso desta obra, as entidades decidiram não inviabilizá-la, autorizando-a com a condição de ser feito acompanhamento científico, que acabou por realizar-se numa área muito superior à prevista no início.

Desse acompanhamento foi obtido um volume de informação importante, que vai permitir a valoração dos dados em estudos futuros, estando previsto que grande parte seja feito pelo Laboratório de Antropologia da Universidade de Coimbra.

No final da sua intervenção, Rui Parreira considerou esta intervenção um exemplo a seguir por outras entidades e uma mais-valia para o património histórico e arqueológico da cidade de Lagos dos Descobrimentos.


Fonte: (6 Mai 2009). Barlavento, on line: 

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por noticiasdearqueologia às 23:57



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