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NOTÍCIAS DE ARQUEOLOGIA

O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...



Domingo, 19.10.08

Estudo de moedas poderá dizer qual era a nau portuguesa naufragada na Namíbia

Entre os destroços escavados em Oranjemud foram encontrados ossos

humanos cujo ADN vai ser analisado. Canhões, moedas, espadas, pratos e até chinelos

constam do tesouro.

"Estamos à espera de que as moedas falem." A frase do arqueólogo

Francisco Alves significa que só depois de se saber a datação da mais

nova das moedas encontradas nos destroços da nau quinhentista

portuguesa naufragada próximo de Oranjemud, no Sul da Namíbia, se

poderá ter ideia de que navio se tratava, quem era a sua tripulação e

quais os objectivos da sua viagem.

Após um mês "sem ver o mar", apesar de estar separado dele apenas por

uma parede de areia com seis metros de altura, Francisco Alves,

arqueólogo do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e

Arqueológico (Igespar), deu ontem a conhecer em Lisboa alguns dos

passos que conduziram a um dos maiores achados arqueológicos

subaquáticos.

Com a certeza de que se trata de uma embarcação portuguesa (os

posteriores estudos dirão se é uma nau ou um galeão), este é apenas o

segundo navio português escavado por portugueses à escala mundial (o

primeiro caso foi o da nau Nossa Senhora dos Mártires, há uma década,

em S. Julião da Barra, no Tejo).

O valor do espólio rondará os 70 milhões de euros. Mas essa é apenas

uma estimativa pecuniária, que para os intervenientes portugueses na

escavação de Oranjemud e também para os secretários de Estado da

Cooperação e da Cultura não é a mais relevante. "Mais importante do

que poder reclamar parte do achado ou saber quem fica com ele é salvar

o património", disse a secretária de Estado da Cultura, Paula

Fernandes dos Santos.

Esta posição foi assumida pelo Governo português mesmo depois de saber

que a Namíbia, por não ter ratificado uma convenção internacional, não

será obrigada a devolver qualquer percentagem do espólio ao país a que

pertencia a embarcação.

A questão de uma eventual partilha dos bens escavados não é, no

entanto, um assunto encerrado. É que entre os destroços também foram

encontrados ossos humanos. Após testes para identificação do ADN e de

consultados os livros marítimos da época, é bem possível que se

identifiquem alguns dos tripulantes de então e os seus actuais

familiares. Estes poderão então tentar ficar com algo.

Esta é apenas uma suposição da comunidade científica, que, conforme

disse ao PÚBLICO fonte conhecedora do processo, se viu recentemente

confrontada com um pedido do género (parte da descendência que reside

no Brasil), quando se especulou que os destroços da embarcação até

poderiam de uma nau comandada por Bartolomeu Dias.

Francisco Alves descartou por completo essa hipótese. É que no local

das escavações foram já encontradas moedas que só terão sido cunhadas

anos depois do naufrágio de Bartolomeu Dias, em Maio de 1500.

O que o arqueólogo português garante é que o navio agora

intervencionado fazia a Rota das Índias, para onde supostamente se

deslocava quando naufragou. Essa certeza é fundamentada com a carga

que entretanto tem sido recuperada. Lingotes de cobre (20 toneladas)

recuperados mostram a marca de um conhecido comerciante alemão da

época, a quem o reino português comprara o metal para depois levar

para a Índia. Também a consulta da literatura de cordel publicada em

Portugal no século XVII, rica sobre naufrágios, poderá ajudar a

perceber de que embarcação se trata.

O espólio da por enquanto misteriosa embarcação é ainda composto por

diversas peças pesadas de artilharia, por lingotes de estanho, peças e

moedas de prata e por cerca de 2300 moedas de ouro. Um terço destas

são cruzados portugueses, as restantes são espanholas.

As moedas portuguesas, explicou Francisco Alves, são bem mais

valiosas, uma vez que o ouro que as compõe tem um grau de pureza de

999,2 por mil. Estas moedas terão começado a circular em 1499, e a sua

cunhagem findou 49 anos depois.


Fonte: José Bento Amaro (18 Out 2008). Público.

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por noticiasdearqueologia às 10:09



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