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O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
As obras de restauro no museu foram iniciadas em 2006 e deverão estar
concluídas no final deste ano, mas os trabalhos no edifício e a
arqueologia não têm andado de braço dado
As obras de requalificação do Museu de Évora vão revelando descobertas
arqueológicas que têm provocado algumas divergências quanto à sua
conservação e restauro. Um criptopórtico, que é um grande arco
monumental de entrada numa acrópole da época romana, datado dos
séculos III a V d.C, um balneário islâmico, parte do piso do fórum
romano e da basílica romana terão sido, segundo fonte ligada ao
processo, alguns dos vestígios encontrados, mas alguns deles poderão
ter sido mal preservados ou mesmo destruídos.
O subdirector do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico (Igespar), João Pedro Cunha Ribeiro, confirmou terem sido
achados diversos vestígios no local "que haviam sido já detectados
ainda antes de as obras começarem, por uma equipa técnica no subsolo
do edifício". Contudo, o mesmo responsável garantiu que, ao longo das
obras, tem havido uma grande preocupação em compatibilizar, na medida
do possível, a construção do edifício com a preservação desses
vestígios. "Há soluções técnicas para a própria requalificação do
edifício que têm obrigado a fazer opções", sublinhou, adiantando que
houve achados arqueológicos que tiveram de ser removidos de acordo com
a legislação existente para que as obras pudessem continuar.
Esta afirmação foi reiterada pelo director do museu, Joaquim Caetano,
que explicou que dos vestígios encontrados cerca de três quartos
passaram a reserva arqueológica, ou seja, "foram selados e mantidos no
local", "outros vão ficar à mostra para que possam ser observados pelo
público e apenas uma pequena percentagem sofreu uma conservação pelo
registo, isto é, foram retirados depois de previamente desenhados e
fotografados".
Forum romano
Instado sobre o que foi demolido, Joaquim Caetano afirmou que apenas
houve demolição de estruturas em duas situações. "Uma parede que
servia de suporte de uma canalização e que tinha forçosamente de ser
aberta para dar acesso a toda a zona de segurança do piso zero,
nomeadamente às saídas de emergência", sublinhou, avançando que esta
opção deu-se devido à "absoluta necessidade de abrir ali uma porta
porque senão não se conseguiria utilizar o piso zero". A outra
situação teve a ver com a passagem de alguns tubos de drenagem
"imprescindíveis para a salvaguarda quer do edifício, quer das
próprias estruturas, porque o subsolo do museu tem um conjunto de sete
poços que têm que ser drenados", explicou.
No entanto, as opções tomadas perante os achados arqueológicos parecem
não ter sido unânimes entre os peritos, sobretudo no que diz respeito
à conservação do pavimento do fórum romano, local onde foi feita a
drenagem das águas. De acordo com o arqueólogo alemão Theodor
Hauschild, responsável pelas escavações efectuadas há uns anos em
torno do Templo Romano, "o piso do fórum deveria ter sido devidamente
preservado, manifestando-se contra a sua destruição", declarou Manuela
Oliveira, responsável pelo Núcleo do Centro Histórico, Património e
Cultura da Câmara Municipal de Évora. A opinião deste "conceituado
arqueólogo" foi solicitada pela autarquia, "como uma preocupação
patrimonial resultante do facto de a cidade de Évora ser conhecida
pela sua riqueza arqueológica", recordou.
Já o subdirector do Igespar frisou que todas as obras "têm sido e
continuarão a ser feitas sob o desígnio de diminuir ao mínimo as
intrusões nos vestígios arqueológicos", anunciando ainda que o museu
irá ter uma sala onde vão estar expostos os achados recolhidos ao
longo de toda a intervenção.
Fonte: Maria Antónia Zacarias (24 Set 2008). Público.
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