Intervenção arqueológica no interior da Igreja das Freiras, em Lagos | | Após uma história religiosa de séculos, a Igreja da Nossa Senhora do Carmo transforma-se num espaço cultural, onde serão promovidos concertos de música clássica e coral, bem como exposições. Quem entrava na Igreja da Nossa Senhora do Carmo, também conhecida por Igreja das Freiras, no centro de Lagos, quer para conhecer o seu interior, quer para ir à missa, não imaginava que estivesse a andar em cima de uma necrópole, muito menos de uma ermida.
Depois de três meses de sondagens arqueológicas, que terminaram na quinta-feira passada, aquelas descobertas são mais dois factos a acrescentar à história do local que já conta com 800 anos.
A necrópole, um espaço sepulcral situado no interior da Igreja, «mostrou a existência de setenta esqueletos de adultos, crianças e recém-nascidos», revelou Gina Dias, coordenadora dos trabalhos arqueológicos feitos na igreja lacobrigense.
Aquele espaço, que serviu como cemitério, foi criado na época moderna, por volta do século XVI, e espalha-se por toda a igreja. No entanto, a maior concentração de ossadas encontra-se junto à entrada da nave central do edifício.
«Os enterramentos identificados denunciam a organização do espaço sepulcral de três formas distintas. Na Capela-Mor, a orientação do enterramento é feita no sentido Norte-Sul, enquanto na nave central os esqueletos estão no sentido Sul-Norte» explicou a coordenadora dos trabalhos arqueológicos.
A desorganização dos enterramentos só surge no restante espaço, onde se encontraram esqueletos nos sentidos Norte-Sul, Sul-Norte e Este-Oeste.
«Também nesse local, há a reutilização intensiva das sepulturas, pois há casos de sobreposição das ossadas no interior da mesma fossa», explicou Gina Dias.
Os esqueletos serão agora transportados para a Universidade de Évora, onde serão estudados. «Os bio-antropólogos vão analisar o espólio osteológico para tentarem conhecer factos como as doenças que as pessoas tinham ou a idade com que faleceram», afirmou Gina Dias.
«Estas escavações, bem como os estudos posteriores, são uma forma de aprender mais sobre a história do edifício, da cidade e da população que residia em Lagos naquela época», acrescentou. Até porque, junto às ossadas, foram encontrados objectos pessoais e roupas, que servirão para determinar os materiais utilizados ou modos de vida da população.
Quanto aos vestígios da antiga ermida, estes demonstram que a construção data do século XIII e que foi escavada na rocha. Assim, há 800 anos, aquele já era um local de culto.
«A equipa de arqueologia percebeu que o local foi soterrado para tornar a superfície plana. O pretendido era construir a igreja da Nossa Senhora da Conceição, que depois viria a ser a Igreja da Nossa Senhora do Carmo, ou seja, o Convento de Freiras, no século XVI», explicou Elena Morán, arqueóloga da Câmara de Lagos.
As escavações agora realizadas pela equipa da Dryas Arqueologia, uma empresa de Coimbra contratada pela autarquia de Lagos, foram feitas a par das obras em curso na igreja.
Ou seja, «já que a igreja será requalificada, porque estava bastante danificada, a Câmara de Lagos aproveitou para ver, antes, que vestígios se encontravam no interior», acrescentou.
Num futuro próximo, a Igreja das Freiras voltará a abrir ao público, mas desta vez para albergar concertos de música coral ou até exposições. No entanto, as portas permanecem abertas ao culto religioso ou à visita dos turistas que queiram conhecer uma igreja com muita história. Fonte: Ana Sofia Varela (10 Ago 2008). Barlavento, on line: http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=26170 |