Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O Património é um bem comum... Preservá-lo só depende de cada um de nós...
Construção de empreendimento hidroeléctrico
A construção do Empreendimento Hidroeléctrico do Sabor vai implicar uma gigantesca tarefa de levantamento e salvaguarda de bens patrimoniais, só comparável ao que aconteceu com a barragem do Alqueva. Ao longo do regolfo de 56 quilómetros que vai ser criado com a barragem principal foram identificados cerca de duas centenas de sítios de interesse patrimonial.
Três desses sítios são considerados de valor excepcional (gravura rupestre paleolítica do ribeiro da Sardinha, conjunto arqueológico-etnográfico de Cilhades e povoado fortificado da Idade do Ferro de Castelinho, junto de Cilhades), 13 com valor muito elevado e 20 de valor elevado.
Várias pontes, como as de Remondes e do Sabor, serão alvo de obras de reforço para ser submersas; uma ou outra gravura rupestre das várias que foram descobertas no Sabor poderão ser recortadas e trasladadas para outro local; e para cerca de duas dezenas de sítios o caderno de encargos de salvaguarda prevê a realização de sondagens geológicas e escavações. Todos os trabalhos têm que estar concluídos até 2012/2013, quando se prevê que a albufeira comece a encher.
Um dos lugares que vão ser alvo de escavações é o povoado de Cilhades, situado na margem direita do Sabor e pertencente à freguesia de Felgar, Moncorvo. Composto por várias casas em alvenaria de xisto, encontrava-se em vias de classificação pelo antigo Ippar. Nos estudos da barragem, reconhece-se que "o povoado de Cilhades [desabitado desde os finais do século XIX] constitui um caso exemplar, em termos patrimoniais e científicos, no vale do Sabor", uma vez que conserva "vestígios de ocupação humana continuada, desde a Idade do Ferro até ao presente".
No fundo, a aldeia de Cillhades está para o vale do Sabor como a Aldeia da Luz estava para o Alqueva ou Vilarinho das Furnas para a barragem das Furnas, no Gerês. A diferença é que estas últimas eram habitadas e as povoações tiveram que ser realojadas noutro local. No caso do Sabor, também estão previstas trasladações importantes, como são os casos da Capela de S. Lourenço de Cilhades e do Santuário de Santo Antão da Barca. Este último é um dos lugares de culto mais famosos da região e a sua mudança de local é tudo menos pacífica. Mas, apesar de pairar sobre o santuário uma lenda de mau agoiro para o caso de ser devassada, a sua trasladação é irreversível.
Os primeiros trabalhos arqueológicos já foram adjudicados pelo consórcio que ganhou a construção do empreendimento, formado pelas empresas Bento Pedroso e Lena. Mas o facto de estas adjudicações serem parcelares está a criar apreensão junto de alguns arqueólogos, que temem não ser possível, desta forma, estudar o vale de uma forma integrada, como um território homogéneo.
Mas o que tem gerado maiores críticas foi a decisão da empresa Ecossistema, responsável pela realização do estudo de impacte ambiental, de cancelar um concurso que tinha aberto para a realização prévia de escavações e sondagens arqueológicas em alguns lugares com interesse (ver caixa). Sobre a EDP, a dona da obra, recai agora a suspeita de pretender evitar surpresas que pudessem atrasar ainda mais o empreendimento.
Fonte: Pedro Garcias (08 Ago 2008). Público: http://ultimahora.publico.clix.pt/notici
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.