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NOTÍCIAS DE ARQUEOLOGIA

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Domingo, 10.08.08

Arqueólogos escavam em Vila do Bispo, no maior sítio do Paleolítico Superior em Portugal

FotoO pacato Vale de Boi, em Vila do Bispo


 


Alimentavam-se de marisco, faziam gravuras em pedra e adornos com pequenas conchas, há vinte mil anos. Hoje, arqueólogos tentam desvendar os segredos escondidos em Vale de Boi, Algarve, o maior sítio arqueológico do Paleolítico Superior em Portugal.


Perdido numa zona escarpada, entre Lagos e Vila do Bispo, paredes-meias com uma pacata aldeia que não tem mais do que cinquenta habitantes, o sítio arqueológico parece passar despercebido à maioria.

Descoberto há dez anos por uma equipa integrada por Nuno Bicho, da Universidade do Algarve, o local tem sido objecto de campanhas arqueológicas desde então, que visam reconstituir o sítio tal como era há vinte mil anos.

Nessa altura, o arqueólogo, que até ao início de Agosto vai estar a coordenar uma equipa que se encontra a fazer escavações no local, não imaginava que iria dedicar a década seguinte a estudar Vale de Boi.

Com ocupações regulares entre 25 mil e 6 mil anos atrás, o sítio era composto por um abrigo rochoso, perto do qual se supõe que existisse uma lagoa de ligação ao mar, onde os animais iam beber água.

Do abrigo, num ponto mais alto, conseguia ver-se facilmente as manadas, facilitando a caça, o que, a par do acesso facilitado à água pode explicar por que o local foi sendo sucessivamente ocupado.

As comunidades que ali habitavam alimentavam-se de marisco - lapa, berbigão, amêijoa e mexilhão -, uma dieta pouco frequente neste período da História e que está relacionada com a proximidade do mar, a dois quilómetros.

Contudo, caçavam também animais como o veado, cavalo, auroque (boi gigante já extinto) e cabra montês, tendo igualmente sido encontrados no local vestígios de lince, urso e lobo, que poderiam não servir de alimento.

Ao longo de dez anos foram encontrados em Vale de Boi milhares de vestígios, sobretudo material em pedra talhada, parte do qual seriam pontas de flecha, mas há uma descoberta que se destaca das demais.

Trata-se de uma placa de xisto com três gravuras de animais - que se supõe serem auroques -, que terá mais de vinte mil anos e foi descoberta praticamente intacta, sendo pouco comum em Portugal, refere Nuno Bicho.

Segundo o arqueólogo, foram também encontradas peças de adorno fabricadas com pequenas conchas e um único vestígio "verdadeiramente" humano: um dente com sete mil anos, mas a equipa sonha encontrar mais.

"Ainda vamos encontrar aqui a 'menina de Vale de Boi'", lança uma das arqueólogas que participa nas escavações, numa alusão ao "menino do Lapedo", fóssil de uma criança descoberto perto de Leiria há dez anos.

Carolina Mendonça, de 25 anos, aluna de Mestrado na Universidade do Algarve, integra o grupo de 14 investigadores que estão a fazer escavações no local e não esconde que este tipo de campanhas é das "poucas oportunidades" que os jovens arqueólogos têm para adquirir experiência.

Enquanto escava, vai dizendo que é um trabalho "cansativo", mas "gratificante" e relembra a emoção que sentiu quando, numa das campanhas de anos anteriores, participou na descoberta do que se pensa ser o abrigo.

"Senti a terra a fugir-me debaixo dos pés e começaram a aparecer blocos de pedra junto uns aos outros", conta, sublinhando que naquele local seria supostamente onde se erguia o abrigo rochoso usado pela comunidade.

Muitos dos membros da equipa já participaram nas campanhas - que se realizam todos os Verões desde há dez anos -, mais do que uma vez e não são todos portugueses: há dois brasileiros e uma croata.

Perante a pacatez da aldeia de Vila de Boi, a equipa de arqueólogos vai continuar até ao início de Agosto a subir rumo ao local, munida das suas ferramentas de trabalho e cheia de vontade de escavar.

Ao final do dia - trabalham cerca de nove horas -, regressam ao refúgio que alugaram para habitar por estes dias, com vista para Vale de Boi e onde convivem e descansam "entre família".


Fonte: (28 Jul 2008). Lusa / O Barlavento.on line: http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=25903

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por noticiasdearqueologia às 23:00


10 comentários

De Joaquim a 07.12.2008 às 01:18

Reza a história que a 10 de Agosto se comemorava o dia de São Lourenço em Vale de Boi.

De Joaquim a 15.03.2009 às 03:05

São Lourenço é o padroeiro dos cozinheiros, havendo algumas escolas de gastronomia que o adoptaram como patrono. O símbolo iconográfico distintivo de São Lourenço é a grelha, já que terá sido condenado a morrer grelhado. Conta-se que o santo terá dito ao seu carrasco para o virar para que ficasse melhor grelhado e que de seguida o poderia comer.
O dia de São Lourenço é o dia dos cozinheiros e da gastronomia. Haja festa, haja festival gastronómico.

De Joaquim a 24.03.2009 às 13:01

A aldeia de Vale de Boi engalanava-se para festejar no mês de Junho os santos populares, Santo António no dia 13, São João no dia 24, e São Pedro no dia 29.

De Joaquim a 10.06.2009 às 05:28

Na noite de São Lourenço, pode observar-se no céu uma chuva de estrelas cadentes, as Perseidas conhecidas como lágrimas de São Lourenço.

De Joaquim a 13.06.2009 às 05:31

Em Vale de Boi acendi
A fogueira d'alecrim
Muito do que aprendi
Minh'avó disse pr'a mim

De Joaquim a 13.06.2010 às 02:49

Na noite de Santo António, era a caracolada que fazia parte da ementa, os caracóis eram previamente apanhados pelos campos de Vale de Boi, para depois de limpos serem cozinhados e temperados com alho e orégãos.

De Joaquim a 07.01.2011 às 04:37

Em Vale de Boi era tradição cantar as Janeiras (Esta noite é de Janeiras, É de um grande merecimento, Por ser a noite primeira, Que Jesus passou tormento,...) desejando um bom ano novo aos vizinhos e aconchegando o estômago com a gastronomia tradicional (filhós, fatias douradas,...).
Esta é uma tradição secular enraízada na cultura popular portuguesa, já em 1510 era publicado o Auto dos Reis Magos do mestre Gil Vicente a pedido da rainha D. Leonor.
As charolas têm no Algarve uma longa tradição, tal como a folia, a chacota e o baile de terreiro referenciadas pelo mestre Gil no Auto de Síbila Cassandra. As Folias dos Reis são uma herança cultural portuguesa generalizada por todo o Brasil.

Desejo um bom ano para todos.

De Joaquim a 08.03.2011 às 13:09

Hoje é Terça-Feira de Carnaval, em Vale de Boi mandava a tradição que o rei era o galo que iria guarnecer um bom prato de arroz e a cabidela com as respectivas miudezas. O galo era criado no campo durante oito ou nove meses, o seu reinado quase nunca chegava ao ano.
Os vizinhos davam a provar uns aos outros as suas iguarias, partilhavam os alimentos em gesto solidário.
À tarde havia baile de roda com cantos e músicas da época, havia tempo para darem as mãos em conjunto com os vizinhos de Budens.
Era assim o dia do Entrudo em Vale de Boi, trajados com as indumentárias que outrora eram usadas nos dias de festa.
O tempo de carnaval, mostra-nos quão efémera é a natureza humana, evidenciando o pouco que a carne vale, onde o pó e a cinza tem na Quarta-Feira o seu máximo simbolismo. Mas até lá, divirtam-se e sejam felizes.

De Jorge Silva a 27.08.2013 às 15:04

Muito Bom post!

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De Anónimo a 31.05.2020 às 14:47

Sangre de Romano

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